O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
com precaução, pois n<strong>em</strong> to<strong>dos</strong> os instrumentos e ritmos são apropria<strong>dos</strong> ao<br />
<strong>hom<strong>em</strong></strong> livre que se quer cultivar na virtu<strong>de</strong> (R. 308-402). Aristóteles, por<br />
sua vez, não atribui à música outra utilida<strong>de</strong> que não a ocupação do ócio <strong>dos</strong><br />
homens livres (Pol. 1338a). Ainda assim, inclui-a no seu curriculum (alegando<br />
que os jovens livres não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apren<strong>de</strong>r música com o intuito <strong>de</strong> vir a tocar<br />
instrumentos na ida<strong>de</strong> adulta, mas para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> saber apreciar essa forma <strong>de</strong><br />
arte) e reete sobre o modo como <strong>de</strong>ve ser ministrada.<br />
O fundador da Aca<strong>de</strong>mia advoga que, a essa formação inicial, <strong>de</strong>ve<br />
seguir-se um período <strong>de</strong> consagração exclusiva à ginástica, entre os <strong>de</strong>zassete<br />
e os vinte anos. Durante esse t<strong>em</strong>po, os jovens são treina<strong>dos</strong> para a guerra,<br />
enquanto <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> a sua saú<strong>de</strong> física como meio <strong>de</strong> proteção contra<br />
doenças 61 . Tal <strong>de</strong>dicação é justicada por Aristóteles (Pol. 1339a), que<br />
argumenta que a mente e o corpo, por exigir<strong>em</strong> práticas opostas, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ser exercitadas ao mesmo t<strong>em</strong>po. Também Platão alega que é impossível<br />
nessa fase <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong>-se a qualquer outra ativida<strong>de</strong>, porque a fadiga e o sono<br />
são inimigos do estudo (R. 537a).<br />
Segundo a teoria exposta na República, uma vez concluída a segunda etapa<br />
da educação el<strong>em</strong>entar, só os que reuniss<strong>em</strong> as qualida<strong>de</strong>s 62 necessárias (que<br />
raramente eram possuídas pela mesma pessoa) po<strong>de</strong>riam prosseguir os estu<strong>dos</strong><br />
superiores, cujo objetivo era formar uma elite, a classe <strong>de</strong> lósofos-governantes.<br />
A formação superior compreendia três perío<strong>dos</strong> distintos: um entre os<br />
vinte e os trinta anos, outro entre os trinta e os trinta e cinco, outro entre os<br />
trinta e cinco e os cinquenta 63 .<br />
Entre os vinte e trinta anos, os eleitos <strong>de</strong>dicar-se-iam às disciplinas que<br />
preten<strong>de</strong>m direcionar a alma para o verda<strong>de</strong>iro Ser e que nos são apresentadas<br />
como áreas da mat<strong>em</strong>ática: cálculo e aritmética 64 (o guerreiro apren<strong>de</strong> por causa<br />
da tática; o lósofo, para atingir a essência), a geometria <strong>de</strong> planos e <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong><br />
(porque ajuda a ver a forma do B<strong>em</strong> e também é útil para a guerra), astronomia<br />
(útil à navegação, à arte militar e à perfeita compreensão das estações, meses e<br />
anos 65 ) e a harmonia (R. 531a-b).<br />
61 Platão (Lg. 795d-f ) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, contudo, que há exercícios que não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser pratica<strong>dos</strong>,<br />
pois apenas exist<strong>em</strong> para satisfazer o gosto da competição pela competição, já que não são<br />
próprios para o treino militar.<br />
62 Como a inteligência, a m<strong>em</strong>ória, a corag<strong>em</strong>, o autodomínio, a força, o gosto pelo trabalho e,<br />
se possível, também a beleza (cf. R. 503c-e, 535a-b, 537a-b) ou a aptidão para a mat<strong>em</strong>ática, que<br />
é a base da losoa (R. 526b). O facto <strong>de</strong> Platão admitir que a seleção é feita pelas capacida<strong>de</strong>s<br />
e não pelo nascimento é curiosamente uma marca <strong>de</strong>mocrática, assente não numa igualda<strong>de</strong><br />
absoluta, mas na igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.<br />
63 Aristóteles (Pol. 1337a) discorda <strong>de</strong>sta divisão, na medida <strong>em</strong> que arma concordar com<br />
Sólon (fr. 19 Diels), que reparte a vida humana <strong>em</strong> perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> sete anos.<br />
64 A propósito do elogio da ciência do número e do cálculo, vi<strong>de</strong> R. 522c-e, 526b. Segundo<br />
Pl. Phlb. 56b-c, os construtores também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> saber mat<strong>em</strong>ática.<br />
65 R. 529-530. Cf. etiam Lg. 809c-d.<br />
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