O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
constituição <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> governantes virtuosos 48 .<br />
Embora as teorias <strong>de</strong> ambos divergiss<strong>em</strong> <strong>em</strong> questões <strong>de</strong> pormenor,<br />
apresentavam, relativamente aos aspetos mais importantes, pontos convergentes.<br />
Quer Platão (R. 458c-461c) quer Aristóteles (Pol. 1334b29-1336a) entendiam<br />
que o cuidado com a educação <strong>de</strong>veria ter início mesmo antes da conceção.<br />
Advogavam que, na medida <strong>em</strong> que as características <strong>dos</strong> progenitores e<br />
as circunstâncias <strong>em</strong> que <strong>de</strong>corre a fecundação <strong>de</strong>terminam a natureza <strong>dos</strong><br />
nascituros, futuros educan<strong>dos</strong> e cidadãos, seria necessário orientar as uniões<br />
sexuais <strong>em</strong> função da qualida<strong>de</strong> que se pretendia obter 49 .<br />
Uma vez nascidas, tornava-se imperioso que se <strong>de</strong>sse atenção à educação<br />
das crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong>, cuidando para lhes proporcionar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o berço, o melhor ambiente possível 50 . Assim, era preciso velar para que, da<br />
proximida<strong>de</strong> com amas e pedagogos, não adviess<strong>em</strong> inuências nefastas<br />
resultantes do contacto com escravos 51 . Nesse sentido, Aristóteles (Pol. 1336b)<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a prescrição do uso <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> in<strong>de</strong>corosa, da cont<strong>em</strong>plação <strong>de</strong><br />
representações da mesma índole 52 , b<strong>em</strong> como da assistência a sátiras e comédias<br />
até à ida<strong>de</strong> adulta.<br />
No que respeita àquilo a que, seguindo a nomenclatura mo<strong>de</strong>rna,<br />
po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> «educação formal», eis o que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os nossos<br />
pensadores. Para Platão, to<strong>dos</strong> (incluindo as mulheres) <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter acesso a<br />
uma formação <strong>de</strong> base entre os sete e os <strong>de</strong>zassete/<strong>de</strong>zoito anos. Em uma<br />
primeira fase, Platão admite que o sist<strong>em</strong>a educativo coevo assentava <strong>em</strong> um<br />
critério correto, <strong>em</strong>bora necessitasse <strong>de</strong> ser expurgado <strong>de</strong> algumas falhas para<br />
se conformar aos objetivos que se propunha: os jovens <strong>de</strong>viam começar por<br />
apren<strong>de</strong>r música (que, enquanto arte das Musas, engloba sons e palavras e,<br />
portanto, <strong>de</strong>ve igualmente conter, segundo Platão 53 , o estudo da literatura) e<br />
48 Aristóteles (Pol. 1337a) chega mesmo a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que a ausência <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> uma<br />
cida<strong>de</strong> provoca graves prejuízos ao regime que nela vigora.<br />
49 Em Ec. 612-650, Aristófanes faz a caricatura <strong>de</strong>stas teorias que estariam, então,<br />
<strong>de</strong>certo <strong>em</strong> voga. Na nova or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>corrente do acesso das mulheres ao po<strong>de</strong>r, reinaria uma<br />
«promiscuida<strong>de</strong> orientada», <strong>em</strong> que homens e mulheres jovens e homens e mulheres <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
mais avançada partilhariam os leitos numa negação total <strong>dos</strong> cuida<strong>dos</strong> prescritos por Platão.<br />
Consequent<strong>em</strong>ente, a paternida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> jovens que daí <strong>em</strong> diante nascess<strong>em</strong> seria «comum».<br />
50 Tais cuida<strong>dos</strong> englobam até a alimentação dada ao recém-nascido que exerce inuência<br />
sobre a sua futura compleição física (Pl. R. 440c-d; Arist. Pol. 1336a).<br />
51 Eurípi<strong>de</strong>s dá test<strong>em</strong>unho do perigo <strong>de</strong>ste convívio pernicioso, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Hipp.<br />
431 sqq. e no terceiro episódio <strong>de</strong> Ion. No primeiro <strong>caso</strong>, a ama revela ser uma má inuência<br />
ao instigar Fedra a lutar pelo seu amor por Hipólito. Já no Ion é o pedagogo <strong>de</strong> Creúsa qu<strong>em</strong><br />
assume esse papel, pois incita-a a vingar-se da «traição» do marido.<br />
52 Ambas apenas aceitáveis no contexto <strong>de</strong> celebrações religiosas legalmente instituídas.<br />
53 R. 376e. A aprendizag<strong>em</strong> <strong>dos</strong> rudimentos <strong>de</strong> leitura, escrita e cálculo não é só essencial à<br />
vida diária, mas também serve <strong>de</strong> fundamento para uma fase <strong>de</strong> estu<strong>dos</strong> mais avançada a que só<br />
poucos terão acesso.<br />
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