17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

<br />

<br />

“que coisa mais doce, esta <strong>de</strong> estar familiarizado com as mo<strong>de</strong>rnas correntes do<br />

pensamento e com as suas subtilezas, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar das leis estabelecidas!<br />

(...) Agora, porém (...), sou uma barra <strong>em</strong> conceitos subtis, <strong>em</strong> dialética e <strong>em</strong><br />

meditação, estou certo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>monstrar que é justo um lho castigar o pai;”<br />

ou ao <strong>de</strong> Hécuba na tragédia homónima <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s (1186-1236), que<br />

nos dá um importante test<strong>em</strong>unho sobre o po<strong>de</strong>r da retórica amoral 45 . Com<br />

efeito, <strong>em</strong>bora ela comece por con<strong>de</strong>nar a retórica, acaba por revelar gran<strong>de</strong><br />

mestria nessa arte, na medida <strong>em</strong> que consegue contrapor to<strong>dos</strong> os argumentos<br />

avança<strong>dos</strong> por Polimestor.<br />

Mas, como <strong>em</strong> todas as circunstâncias, importa distinguir o trigo do joio:<br />

havia sostas, como Protágoras, que eram a favor do respeito pelas convenções<br />

e outros, como Trasímaco (no Livro I da República), que <strong>de</strong>niam justiça como<br />

o interesse <strong>dos</strong> mais fortes.<br />

Tal falha (aliada ao facto <strong>de</strong> os Sostas se fazer<strong>em</strong> pagar a peso <strong>de</strong> ouro)<br />

foi um <strong>dos</strong> principais motivos que provocou a contestação geral a estes mestres<br />

que eram peritos <strong>em</strong> fazer com que a causa pior parecesse a melhor.<br />

Ao movimento sofístico, seguiram-se reações, como a <strong>de</strong> Platão e<br />

Aristóteles, <strong>em</strong> um século marcado por uma crise política, social, económica<br />

e religiosa, que foi, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, consequência da Guerra do Peloponeso<br />

(431-404 a.C.).<br />

A losoa educativa postulada por estes pensadores críticos da <strong>de</strong>mocracia<br />

assentava na crença <strong>de</strong> que o <strong>Estado</strong> não podia continuar a subtrair-se às suas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria assumir o seu papel tutelar na educação<br />

<strong>dos</strong> cidadãos 46 . Consequent<strong>em</strong>ente, os projetos que, cada um à sua maneira,<br />

apresentaram <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser entendi<strong>dos</strong> como uma i<strong>de</strong>alização do sist<strong>em</strong>a<br />

educativo, cujo principal m seria, nas palavras <strong>de</strong> Lee Too, «ensure that<br />

experts 47 were responsible for inculcating the youth with the «right» ethical<br />

and political values». Tal justica-se, segundo Platão, porque só pela educação<br />

da alma ser possível construir uma comunida<strong>de</strong> perfeita. De facto, quer um<br />

quer outro procuravam <strong>de</strong>nir uma especíca <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />

, pois acreditavam que apenas o sist<strong>em</strong>a educativo po<strong>de</strong>ria levar à<br />

45 Sobre a retórica na Hécuba, consult<strong>em</strong>-se, por ex<strong>em</strong>plo, Duch<strong>em</strong>in ( 2 1968); Collard (1975:<br />

58-71); Conacher (1981: 3-25); Lloyd (1992); Kastely (1993: 1036-1049); Sco<strong>de</strong>l (1999-2000:<br />

129-44).<br />

46 Cf. supra p. 141, nota 24. Em Pl. R. 497e, arma-se com toda a frontalida<strong>de</strong> que <br />

‘o <strong>Estado</strong> <strong>de</strong>ve ocupar-se <strong>de</strong>ste estudo,<br />

exatamente ao contrário do que faz agora’ (tradução <strong>de</strong> Rocha Pereira: 2001).<br />

47 Esses expertos eram, na perspetiva <strong>de</strong> Platão, o lósofo-rei e, na <strong>de</strong> Aristóteles, o legislador.<br />

147

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!