17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

Contudo, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pronunciar discursos convincentes e<br />

oportunos não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas do domínio das técnicas retóricas. Para<br />

que os seus discípulos estivess<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre aptos a discursar e convencer, os<br />

Sostas procuravam dotá-los <strong>de</strong> uma ampla bagag<strong>em</strong> <strong>em</strong> termos daquilo a<br />

que po<strong>de</strong>ríamos chamar cultura geral, assente no estudo das mais diversas<br />

matérias.<br />

D<strong>em</strong>ais, os Sostas – nomeadamente Protágoras – ensinavam aos seus<br />

alunos que uma mesma situação podia ser vista <strong>de</strong> perspetivas diferentes e<br />

contraditórias, pelo que era necessário saber apresentar argumentos favoráveis<br />

e contrários () a uma mesma causa. A retórica surgia, por isso,<br />

como instrumento que permitia ao orador convencer os interlocutores da<br />

superiorida<strong>de</strong> do seu argumento ( ). Infelizmente, alguns<br />

jovens pouco escrupulosos não souberam dar a esses conhecimentos aplicações<br />

práticas eticamente corretas; pelo contrário, usaram-nos <strong>em</strong> benefício próprio<br />

e não <strong>em</strong> prol do b<strong>em</strong> comum. Por isso, o recurso à retórica passou a ser visto<br />

por muitos como uma mera habilida<strong>de</strong> (adquirida a preços elevadíssimos)<br />

para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um argumento menos válido. Disso mesmo nos dá test<strong>em</strong>unho<br />

Aristófanes, quando arma que (Nu. 98-99):<br />

146<br />

<br />

<br />

“Tais criaturas [os Sostas] – <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> dinheiro, é claro – ensinam uma pessoa<br />

a discorrer tão b<strong>em</strong>, que é capaz <strong>de</strong> vencer todas as causas, justas ou injustas;”<br />

e quando diz (Nu. 1041-1042):<br />

<br />

<br />

ora, isto <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> tomar o partido das teses mais fracas e, não obstante,<br />

conseguir vencer, é coisa para valer um balúrdio. (a tradução <strong>dos</strong> passos das<br />

Nuvens é <strong>de</strong> Magueijo: 1984).<br />

Esta habilida<strong>de</strong> para advogar quer as causas justas quer as injustas <strong>de</strong>u azo<br />

a que os Sostas cass<strong>em</strong> conheci<strong>dos</strong> como indivíduos s<strong>em</strong> moral, já que muitos<br />

consi<strong>de</strong>ravam a ética como um mero conjunto <strong>de</strong> convenções. É, no fundo, essa<br />

a perceção que subjaz às palavras <strong>de</strong> Fidípi<strong>de</strong>s <strong>em</strong> Ar. Nu. 1399-1405:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!