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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

isso não se apren<strong>de</strong> 39 . No enten<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> Sostas, a 40 não era condição sine<br />

qua non para o orescimento da virtu<strong>de</strong>, mas antes e tão-só um terreno 41 que a<br />

educação <strong>de</strong>veria cultivar.<br />

Assim se justica que Protágoras <strong>de</strong>fenda que Zeus <strong>de</strong>u a a to<strong>dos</strong> os<br />

homens 42 (<strong>em</strong>bora n<strong>em</strong> to<strong>dos</strong> a tenham recebido na mesma proporção) e que<br />

acredite na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver esse dom <strong>em</strong> alguns. Tal é o objetivo<br />

do curriculum <strong>de</strong>ste sosta (que se arma educador do político e formador<br />

<strong>de</strong> bons cidadãos – Pl. Prt. 318e-319a), que consi<strong>de</strong>ra que o ensino po<strong>de</strong><br />

condicionar a natureza 43 .<br />

Por conseguinte, <strong>em</strong>bora não houvesse muito a fazer no que respeita<br />

às qualida<strong>de</strong>s fundamentais e inatas <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, era possível<br />

dotar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas ferramentas qualquer indivíduo que se propusesse<br />

enveredar por essa carreira. Tendo <strong>em</strong> conta que as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cisões da vida<br />

política <strong>de</strong>pendiam da capacida<strong>de</strong> que os intervenientes tinham ou não <strong>de</strong> se<br />

convencer<strong>em</strong> mutuamente na ass<strong>em</strong>bleia, os Sostas apostaram no ensino da<br />

retórica, que Sócrates (Pl. Phdr. 261a) <strong>de</strong>ne como<br />

<br />

<br />

“uma espécie <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> psicagogia por meio <strong>de</strong> palavras, não apenas nos tribunais<br />

e muitas outras ass<strong>em</strong>bleias públicas 44 , mas também nas reuniões privadas (...).”<br />

39 Cf. supra p. 138.<br />

40 Sobre a famosa polémica , cf. E. Hec. 592-600 (passo a que já se fez alusão<br />

na nota 15, p. 138) e supra nota 29.<br />

41 Cf. infra p. 154.<br />

42 Pl. Prt. 320d-322d. Através do mito <strong>de</strong> Prometeu e Epimeteu, Protágoras preten<strong>de</strong><br />

explicar a distribuição das artes e da virtu<strong>de</strong> política. A teoria que o sosta <strong>de</strong>senvolve por<br />

intermédio <strong>de</strong>ste mito é um gran<strong>de</strong> avanço relativamente à antiga conceção da aristocracia que<br />

fazia da virtu<strong>de</strong> o privilégio <strong>de</strong> uma elite. Para uma análise do mito <strong>em</strong> questão, consult<strong>em</strong>-se,<br />

e.g., E<strong>de</strong>lstein (1967); Dodds (1973); Brisson (1975: 7-37).<br />

43 A mesma crença era partilhada por outros pensadores, como Pródico, que alegava que<br />

a virtu<strong>de</strong> está ao alcance <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se <strong>em</strong>penh<strong>em</strong> na sua conquista, ou Isócrates, que<br />

acreditava na compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> entre natureza e treino. Até os seus críticos acabam por, <strong>em</strong><br />

certa medida, partilhar da mesma opinião: Platão admite a contragosto a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as<br />

classes inferiores ace<strong>de</strong>r<strong>em</strong> à virtu<strong>de</strong>; Aristóteles (Pol. 1337a), por sua vez, acredita que a prática<br />

da virtu<strong>de</strong> se consegue com aprendizag<strong>em</strong> e treino e que a educação t<strong>em</strong> por objetivo suprir<br />

as <strong>de</strong>ciências da natureza. Também Eurípi<strong>de</strong>s, o sosta da tragédia grega, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> essa i<strong>de</strong>ia,<br />

sobretudo <strong>em</strong> Supp. 914 sqq. e <strong>em</strong> El. 369 sqq.<br />

44 Górgias (Pl. Grg. 452e) especica as situações políticas <strong>em</strong> que a retórica é utilizada,<br />

quando arma que esta é ‘a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> persuadir pela palavra os juízes no Tribunal, os<br />

senadores no Conselho, o povo na Ass<strong>em</strong>bleia, enm, os participantes <strong>de</strong> qualquer reunião<br />

política’ ( <br />

<br />

. Tradução <strong>de</strong> Pulquério (1997).<br />

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