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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

conservadoras e aristocráticas da classe privilegiada e os i<strong>de</strong>ais revolucionários<br />

e <strong>de</strong>mocráticos do proletariado <strong>em</strong> ascensão.<br />

Dessa crítica e <strong>de</strong>sse conito, dão-nos test<strong>em</strong>unho Aristófanes,<br />

Eurípi<strong>de</strong>s, Platão e Aristóteles – para citar aquelas que foram talvez as vozes<br />

mais sonantes <strong>de</strong>ssa contestação –, que culpavam o ensino <strong>dos</strong> Sostas 36 da<br />

crescente <strong>de</strong>gradação moral da socieda<strong>de</strong> coeva. Não nos esqueçamos, porém,<br />

<strong>de</strong> que o ensino levado a cabo por estes prossionais constituía um supl<strong>em</strong>ento<br />

à formação inicial que os jovens continuavam a receber, mas que, por força das<br />

circunstâncias, se tinha vindo a modicar paulatinamente, <strong>de</strong> tal modo que,<br />

no nal do século V a.C., já era evi<strong>de</strong>nte que a educação física 37 e a musical<br />

tinham perdido importância <strong>em</strong> favor do estudo das letras.<br />

De facto, a principal inovação <strong>dos</strong> Sostas assentou não na rutura com o<br />

sist<strong>em</strong>a educativo tradicional, mas na inclusão <strong>de</strong> novas matérias e no aumento<br />

da importância dada ao estudo das letras, pois continuaram a privilegiar o<br />

estudo <strong>dos</strong> poetas, cujos textos serviam <strong>de</strong> base para a transmissão da tradição<br />

cultural da Grécia.<br />

Ainda que o leque <strong>de</strong> disciplinas que suscitava o interesse <strong>dos</strong> Sostas seja<br />

amplo 38 (por ex<strong>em</strong>plo, mat<strong>em</strong>ática, astrologia, religião, losoa, linguística,<br />

poesia), o aspeto que nos interessa é sobretudo aquele que diz respeito à<br />

formação do <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> ou, se quisermos, o ensino da virtu<strong>de</strong> política<br />

(), que assenta <strong>em</strong> dois pressupostos: a crença na importância<br />

<strong>de</strong> algumas disciplinas para a formação do caráter e a rejeição da teoria<br />

aristocrática segundo a qual a virtu<strong>de</strong> ou é inata ou é um dom divino e por<br />

36 Não nos alongar<strong>em</strong>os sobre este t<strong>em</strong>a, pois seria impossível num tão curto espaço ter a<br />

pretensão <strong>de</strong> abordar um assunto já tão amplamente analisado. Destacar<strong>em</strong>os apenas os aspetos<br />

que mais se relacionam com o contributo dado por este movimento para o «<strong>de</strong>senhar» <strong>de</strong> um<br />

novo tipo <strong>de</strong> <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>. Sobre os Sostas, leiam-se, e. g, Guthrie (1971); Kerferd (1981);<br />

Romilly (1988); Untersteiner (1993).<br />

37 A gran<strong>de</strong> revolução ocorrida no âmbito do ensino superior acabou por ter efeitos<br />

práticos a nível do ensino el<strong>em</strong>entar: é que, como aquele dava gran<strong>de</strong> importância ao estudo<br />

das letras, este viu-se obrigado a dotar os alunos <strong>de</strong> instrumentos que facilitass<strong>em</strong> o acesso<br />

àquela formação. Contudo, a <strong>de</strong>dicação ao exercício físico, ao <strong>de</strong>sporto, não <strong>de</strong>sapareceu.<br />

Embora na maior parte das vezes fosse praticado apenas como forma <strong>de</strong> manter o corpo<br />

saudável <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r tirar benefício do esforço intelectual, muitos foram aqueles que<br />

passaram a praticá-lo a título prossional, dando azo a duras críticas por parte <strong>de</strong> Platão e<br />

Aristóteles (cf. infra p. 149). Aristófanes (Nu. 1005-1019), por sua vez, além <strong>de</strong> fazer o elogio<br />

à prática da ginástica, chama a atenção para as consequências que o se<strong>de</strong>ntarismo provocava:<br />

enquanto os que praticavam ginástica eram fortes e viçosos, os a<strong>de</strong>ptos da nova eram<br />

amarelentos.<br />

38 Hípias, o sosta natural <strong>de</strong> Élis, pregura-se como verda<strong>de</strong>iro i<strong>de</strong>al do <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />

renascentista. Armava conhecer to<strong>dos</strong> os domínios (astronomia, geometria, aritmética, análise<br />

da linguag<strong>em</strong>, genealogias e arqueologia) e até fazia as próprias roupas e joias! Cf. Pl. Hp. Mi.<br />

368b-e. Foi com base nas disciplinas cujo estudo era mais fomentado pelos Sostas que se<br />

vieram a constituir o triuium e o quadriuium.<br />

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