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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

auxo das contribuições monetárias <strong>dos</strong> alia<strong>dos</strong> da Simaquia <strong>de</strong> Delos gerou,<br />

Atenas acabou por se transformar no centro cultural pelo qual passaram (e<br />

on<strong>de</strong> se xaram) os gran<strong>de</strong>s cérebros <strong>de</strong> então.<br />

Ora, esses indivíduos – que acabariam por receber o nome <strong>de</strong> Sostas 34 –<br />

propuseram-se, entre outras coisas, formar o <strong>hom<strong>em</strong></strong>, <strong>em</strong> especial o político (cf.<br />

Pl. Prt. 317b, 319a). Essa pretensão veio ao encontro da necessida<strong>de</strong> pr<strong>em</strong>ente<br />

que os que ascendiam socialmente sentiam <strong>de</strong> melhorar a sua formação (e<br />

sobretudo a <strong>dos</strong> seus lhos) para combater<strong>em</strong> na arena política <strong>em</strong> pé <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> com os aristocratas. É que a crescente solicitação da vida política<br />

ativa 35 havia revelado a disparida<strong>de</strong> que resultava da «não-educação» <strong>dos</strong><br />

cidadãos plebeus. Estavam, assim, reunidas as condições para dar formação<br />

a to<strong>dos</strong> quantos quisess<strong>em</strong> <strong>de</strong>dicar-se com sucesso à carreira política, quer os<br />

jovens <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> humil<strong>de</strong> que buscavam – segundo Marrou – o «savonnette à<br />

vilain», quer os oriun<strong>dos</strong> <strong>de</strong> famílias aristocratas.<br />

Des<strong>de</strong> então, mais do que nunca até aí, a educação alargou-se a to<strong>dos</strong><br />

aqueles que tinham condições nanceiras para pagar os preços – porque não<br />

dizê-lo – exorbitantes que a nova classe docente exigia (cf. Pl. Prt. 328b-c).<br />

O ensino apregoado e praticado pelos Sostas, apesar (e simultaneamente<br />

por causa) da gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> que foi alvo, ocasionou uma forte crítica e<br />

contribuiu para a contenda entre a educação tradicional e a mo<strong>de</strong>rna, que era<br />

sobretudo reexo do conito social e político mais profundo entre as tradições<br />

conselho – pelos cidadãos que dominam a retórica. É por isso que os principais lí<strong>de</strong>res políticos<br />

são os que sab<strong>em</strong> persuadir, graças à sua eloquência, os concidadãos.<br />

34 Segundo Pl. Prt. 312c-d, os Sostas eram simultaneamente intelectuais, sábios, lósofos<br />

e professores. Embora já houvesse Sostas na Atenas <strong>de</strong> Péricles (Protágoras, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

integrou o círculo do estratego), o gran<strong>de</strong> auxo <strong>de</strong>stes intelectuais ocorreu após a morte do<br />

estadista (429 a.C.). Pródico (frg. 6 Diels), por sua vez, <strong>de</strong>nia os Sostas como «intermediários<br />

entre lósofos e políticos». Tudo leva a crer que o primeiro uso pejorativo <strong>de</strong> tenha<br />

ocorrido <strong>em</strong> Ar. Nu. 331: <br />

<br />

. ‘Claro<br />

que não, por Zeus.!... É que tu não sabes que são elas que sustentam a maior parte <strong>dos</strong> sostas,<br />

adivinhos <strong>de</strong> Túrios, artistas <strong>de</strong> medicina, calões gue<strong>de</strong>lhu<strong>dos</strong> que só cuidam <strong>de</strong> anéis e unhas,<br />

torneadores <strong>de</strong> cânticos para os coros cíclicos – enm, to<strong>dos</strong> esses vigaristas <strong>dos</strong> astros, que<br />

não faz<strong>em</strong> nenhum, são elas que lhes dão <strong>de</strong> comer, só porque lhes <strong>de</strong>dicam versos’ (Magueijo:<br />

1984). De facto, não nos po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> que Aristófanes era cont<strong>em</strong>porâneo <strong>dos</strong> Sostas<br />

e <strong>de</strong> que, por isso mesmo, <strong>em</strong>bora os criticasse, não po<strong>de</strong> car alheio à sua inuência, como b<strong>em</strong><br />

arma Sikes (1931). Sobre a história do termo , consult<strong>em</strong>-se, e. g., Kerferd (1976:<br />

17-28); Cole (1993: 753-763).<br />

35 Como justica Legras (1998: 83): «Après la crise <strong>de</strong> la tyrannie, au VI e siècle, nous voyons<br />

la plupart <strong>de</strong>s cités grecques, et surtout la démocratique Athènes, s’animer d’une vie politique<br />

intense: l’exercice du pouvoir, la direction <strong>de</strong>s aaires <strong>de</strong>viennent l’occupation essentielle,<br />

l’activité la plus noble et la plus prisée <strong>de</strong> l’homme grec, l’objectif suprême oert à son ambition.<br />

Il s’agit toujours pour lui <strong>de</strong> l’<strong>em</strong>porter, d’être supérieur et ecace; mais ce n’est plus dans le<br />

domaine du sport et <strong>de</strong> la vie élégante que sa «valeur», son arête cherche à s’armer: c’est dans<br />

l’action politique qu’elle s’incarne désormais…»<br />

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