17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte I<br />

xação da tradição oral (com a manutenção do estilo formular e do conteúdo que<br />

lhe eram próprios), contribuiu sobr<strong>em</strong>odo para o <strong>de</strong>senvolvimento do espírito<br />

crítico, na medida <strong>em</strong> que veio facilitar o confronto, até então impossível, <strong>de</strong><br />

versões diferentes, impondo, assim, uma maior coerência aos relatos.<br />

A opção pela prosa como novo veículo <strong>de</strong> pensamento crítico também<br />

concorreu para o aparecimento da história. Tal facto não nos <strong>de</strong>ve surpreen<strong>de</strong>r,<br />

já que, se o verso vinha sendo, <strong>de</strong> há muito, utilizado para escrever sobre t<strong>em</strong>as<br />

mitológicos, havia que recorrer a outro instrumento, não só para refutar a<br />

tradição mítica (até porque é mais fácil argumentar <strong>em</strong> prosa), mas também<br />

para expor t<strong>em</strong>as relaciona<strong>dos</strong> com o mundo cont<strong>em</strong>porâneo, como o das<br />

viagens ou da medicina.<br />

Segundo Bertelli (2001), os textos <strong>em</strong> prosa pressupõ<strong>em</strong> uma audiência<br />

distinta, certamente mais reduzida e disposta a aceitar as críticas à tradição<br />

genealógica e mítica. Além disso, <strong>de</strong> acordo com este autor, «a prosa era <strong>de</strong><br />

longe um instrumento mais efetivo para o distanciamento da estrutura<br />

formular da poesia genealógica, para o seu questionamento e para avançar com<br />

argumentos que a refutass<strong>em</strong>.»<br />

Ora, aqueles que escreviam <strong>em</strong> prosa tinham o nome <strong>de</strong> 14 .<br />

Ainda que os trabalhos <strong>dos</strong> primeiros se tenham perdido, po<strong>de</strong>mos acreditar<br />

que <strong>de</strong>les fariam parte fábulas e mitos. A partir do séc. VI a.C., e na esteira<br />

<strong>dos</strong> físicos e geógrafos iónicos, tornaram-se críticos da tradição poética e<br />

mitológica. Apesar disso, Tucídi<strong>de</strong>s arma que estavam mais interessa<strong>dos</strong> <strong>em</strong><br />

cativar a multidão (ou seja, no efeito dramático do texto) do que <strong>em</strong> revelar a<br />

verda<strong>de</strong>. Talvez por essa razão o termo tenha adquirido sentido<br />

pejorativo no nal do séc. V a.C., passando a <strong>de</strong>signar, além daqueles que<br />

escrev<strong>em</strong> discursos para outros proferir<strong>em</strong>, também os que contam histórias<br />

incríveis.<br />

O relato histórico sofreu ainda, como já foi mencionado, profundas<br />

inuências da épica homérica, não obstante a forte ligação <strong>de</strong>sta com o mito.<br />

Isso estará certamente relacionado com o facto <strong>de</strong> os Po<strong>em</strong>as Homéricos<br />

ter<strong>em</strong> sido, durante muito t<strong>em</strong>po, aceites como registo <strong>de</strong> factos verídicos,<br />

apesar <strong>dos</strong> muitos episódios fantásticos, como o <strong>de</strong> Polif<strong>em</strong>o ou o da batalha<br />

entre Aquiles e o Escamandro. Mas não só: não nos po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong><br />

que a m<strong>em</strong>orização da Ilíada e da Odisseia era, por apologia <strong>dos</strong> melhores<br />

educadores, prática corrente, o que ajuda a explicar por que razão cada Grego<br />

tinha o seu conteúdo e estilo entranha<strong>dos</strong> no espírito. Assim, e para to<strong>dos</strong> os<br />

efeitos, mito e história acabaram por ser, <strong>de</strong> algum modo, sinónimos. Só com<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do espírito crítico (a que nos referimos atrás) e com a sua<br />

14 Cf. uc. 1. 21. Hecateu é o logógrafo que melhor conhec<strong>em</strong>os. Dos restantes, praticamente<br />

só os nomes chegaram até nós, como, por ex<strong>em</strong>plo, Dionísio <strong>de</strong> Mileto, Xanto da Lídia ou Cílax<br />

<strong>de</strong> Carianda. Sobre estes autores, consulte-se e. g. Lesky (1995: 247-253).<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!