17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

Consequent<strong>em</strong>ente, era ao legislador () que se atribuía a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> principal educador, como no-lo <strong>de</strong>monstra, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

Aristóteles, ao armar, entre outras coisas, que é ao que cabe velar,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, pela saú<strong>de</strong> <strong>dos</strong> corpos <strong>dos</strong> cidadãos a educar 29 , pelos princípios<br />

a incutir na alma <strong>dos</strong> homens 30 e, sobretudo, assegurar que se torn<strong>em</strong> bons 31 .<br />

Só a formação militar tinha um estatuto superior, pois obrigava a um treino<br />

formal. Daí que, nas palavras <strong>de</strong> Grith (2001: 72), «the «schooling» of <strong>de</strong>mocratic<br />

citizen in the political process and values of their community was left to be acquired<br />

through observation and practice, not formal instruction or study».<br />

Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que a evolução da educação esteja intimamente<br />

relacionada com a da e que resulte da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar cidadãos<br />

capazes <strong>de</strong> participar no processo político. E a conjuntura favorável à cada<br />

vez maior participação do cidadão atingiu o seu auge <strong>em</strong> mea<strong>dos</strong> do século<br />

V a.C., sobretudo por força do impulso que Péricles <strong>de</strong>u à consolidação<br />

do regime <strong>de</strong>mocrático <strong>em</strong> Atenas, nomeadamente com a instituição das<br />

mistoforias, que permitiam que até qu<strong>em</strong> tinha menos recursos pu<strong>de</strong>sse<br />

intervir na vida da 32 . Este foi um processo lento, cujo início r<strong>em</strong>onta<br />

não só às reformas <strong>de</strong> Clístenes, como também à mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s<br />

provocada pelo papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r da Héla<strong>de</strong> que Atenas assumiu na sequência<br />

das Guerras Pérsicas. Ante a liberda<strong>de</strong> que se respirava nesta (para<br />

a qual <strong>em</strong> muito contribuiu a isegoria 33 ) e o dinamismo económico que o<br />

favor do coletivo. Curiosamente, a dicotomia foi <strong>de</strong> início mais política que<br />

losóca: é que à aristocracia convinha fazer acreditar que a sua superiorida<strong>de</strong> era inata e<br />

não resultado <strong>de</strong> uma aprendizag<strong>em</strong>. Essa necessida<strong>de</strong> tornou-se manifesta sobretudo com a<br />

crescente importância das classes mais baixas na vida da . Foi no contexto do século V<br />

que essa dicotomia alcançou estatuto losóco, pois, com o aparecimento da sofística e com<br />

a crescente importância dada a cada pessoa enquanto ser único, intensicou-se a discussão<br />

sobre o peso relativo que e <strong>de</strong>veriam ter na orientação da vida <strong>de</strong> cada um.<br />

Surgiram então duas posições: alguns indivíduos mais egoístas <strong>de</strong>fendiam a satisfação <strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong>sejos instiga<strong>dos</strong> pela natureza <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do b<strong>em</strong>-estar comunitário (cf. a posição<br />

<strong>de</strong> Cálicles no Protágoras, t<strong>em</strong>a abordado supra pp. 63-64). Havia qu<strong>em</strong>, por outro lado,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse a compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> existente entre e para uma vida feliz: é que<br />

o respeito pelas leis e pelos costumes permite o bom funcionamento da vida <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong><br />

e o <strong>hom<strong>em</strong></strong>, enquanto ser gregário, só se sentirá realizado se não abdicar <strong>de</strong> uma vida social<br />

organizada, sob pena <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r conviver com os s<strong>em</strong>elhantes. Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong><br />

Kerferd (1981: 111-130).<br />

29 Pol. 1333b37-38: .<br />

30 Pol. 1334b29-30: <br />

.<br />

31 Pol. 1333a14.<br />

32 Legras (1998: 72) faz da igualda<strong>de</strong> <strong>em</strong> termos educativos um ingrediente indispensável no<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização: «Athènes est <strong>de</strong>venue une vraie démocratie: le peuple y a conquis<br />

non seul<strong>em</strong>ent, par une extension graduelle, les privilèges, droits et pouvoirs politiques, mais<br />

encore l’accès à ce type <strong>de</strong> vie, <strong>de</strong> culture, à cet idéal humain dont seule l’aristocratie avait<br />

d’abord joui».<br />

33 Note-se, porém, que a isegoria só po<strong>de</strong> ser utilizada – na ass<strong>em</strong>bleia, no tribunal ou no<br />

142

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!