O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
– <strong>em</strong>bora muitas vezes condiciona<strong>dos</strong> pela disponibilida<strong>de</strong> nanceira 20 ) das<br />
três gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> estudo que constituíam aquilo a que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os chamar<br />
«ensino el<strong>em</strong>entar»: o o e o 21 .<br />
Esta educação – a <br />
a responsável pela formação <strong>dos</strong> heróis <strong>de</strong> Maratona 22 (que<br />
simbolizam a corag<strong>em</strong>, a liberda<strong>de</strong>, o sacrifício <strong>em</strong> prol do b<strong>em</strong> comum e, sobretudo,<br />
o papel <strong>de</strong> salvadora/protetora das <strong>de</strong>mais que Atenas reivindicava para si)<br />
e das principais guras da Atenas do apogeu, como Péricles ou Sófocles.<br />
Uma vez concluída essa fase <strong>de</strong> estu<strong>dos</strong>, muitos jovens prosseguiam a sua<br />
instrução através do convívio com lósofos. Disso mesmo nos dá test<strong>em</strong>unho,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, Péricles que <strong>de</strong>veu boa parte da sua formação à inuência <strong>de</strong><br />
Anaxágoras (cf. Plu. Per. 4. 6).<br />
Como muito b<strong>em</strong> sintetiza Marrou (1965: 77),<br />
140<br />
«telle était cette ancienne éducation athénienne, plus artistique que littéraire et<br />
plus sportive qu’intellectuelle. (…) Cette éducation n’est pas du tout technique,<br />
elle reste orientée vers la vie noble et ses loisirs; ces aristocrates athéniens ont<br />
beau être <strong>de</strong> grands propriétaires fonciers et <strong>de</strong>s homes politiques, rien dans<br />
l’éducation ne les prépare à ces activités».<br />
Não havia, portanto, como nos nossos dias, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino<br />
público 23 . A educação formal era uma responsabilida<strong>de</strong> exclusiva das famílias,<br />
que tinham a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher o tipo <strong>de</strong> educação a dar às crianças.<br />
Note-se, contudo, que, com o apogeu do século V e a consequente melhoria das<br />
20 Por questões sobretudo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m económica, muitos pais po<strong>de</strong>riam pon<strong>de</strong>rar privar os lhos<br />
da educação musical, mas nunca da aprendizag<strong>em</strong> das letras. Ainda assim, qu<strong>em</strong> não frequentava<br />
as aulas do passava por ignorante, inculto, rústico. Contudo, <strong>de</strong>vido à longa tradição<br />
do ensino da música, os mo<strong>de</strong>rnos passaram a consi<strong>de</strong>rá-lo conservador (cf. Ar. Nu. 1357-1358).<br />
21 Para pormenores relativos às diversas componentes <strong>de</strong>stas áreas <strong>de</strong> estudo, consult<strong>em</strong>-se<br />
Beck (1964); Marrou (1965); Barrow (1976); Robb (1994) e Morgan (1999: 46-61).<br />
22 Ar. Nu. 985-986: <br />
. ‘Pois sim, mas foi com tal pedagogia que se formaram os heróis <strong>de</strong> Maratona.’ (tradução<br />
<strong>de</strong> Magueijo:1984). Segundo o comediógrafo (i<strong>de</strong>m, 959-960), esta educação foi responsável pela<br />
transmissão <strong>de</strong> princípios e valores e lutava pela justiça <strong>em</strong> uma época <strong>em</strong> que a mo<strong>de</strong>ração era norma.<br />
23 Platão e Aristóteles discordavam do papel <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado pelo <strong>Estado</strong> na educação do<br />
seu t<strong>em</strong>po e propugnaram para que este tivesse uma participação efetiva na condução <strong>de</strong> todo o<br />
processo educativo e para que a educação fosse um direito universal. Disso nos dão test<strong>em</strong>unho<br />
obras como a República e a Política, da qual evocar<strong>em</strong>os um pequeno trecho elucidativo (Pol.<br />
1337a18): <br />
<br />
. “Tendo toda<br />
a cida<strong>de</strong> um único m, é evi<strong>de</strong>nte que a educação <strong>de</strong>ve necessariamente ser uma e a mesma<br />
para to<strong>dos</strong>, e que o cuidado posto nela <strong>de</strong>ve ser tarefa comum e não do foro privado, como se<br />
tornou prática corrente (pois que cada um se preocupa <strong>em</strong> particular com a educação <strong>dos</strong> seus<br />
lhos, dando-lhes um ensino privado, segundo parece melhor a cada qual)”. Esta tradução é <strong>de</strong><br />
Amaral-Gomes (1998: 561)