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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

aprendido a caçar, a montar a cavalo, a tocar lira e alguns conhecimentos do<br />

foro da medicina; com o segundo, a ser um bom guerreiro e um bom orador.<br />

A importância do a<strong>de</strong>stramento das capacida<strong>de</strong>s oratórias e bélicas também é<br />

realçada, na Odisseia, por Mentor 7 , amigo a qu<strong>em</strong> Ulisses – <strong>de</strong> partida para a<br />

Guerra <strong>de</strong> Troia – se vê forçado a conar Telémaco.<br />

Da análise do que nos é dito sobre a formação <strong>de</strong> Aquiles e <strong>de</strong> Telémaco<br />

(nos quatro primeiros cantos da Odisseia), po<strong>de</strong>mos inferir que a educação<br />

da aristocracia retratada na epopeia homérica assenta <strong>em</strong> dois el<strong>em</strong>entos<br />

fundamentais – o ex<strong>em</strong>plo e o contacto com indivíduos mais velhos (que se<br />

<strong>de</strong>stacam pela experiência e ) – e não na frequência <strong>de</strong> uma escola formal.<br />

Esses indivíduos mais velhos e experientes, a qu<strong>em</strong> se conava a educação<br />

<strong>dos</strong> jovens, eram, por norma, amigos da família e tinham não só a função<br />

<strong>de</strong> transmitir conhecimentos, valores e i<strong>de</strong>ais partilha<strong>dos</strong> pelo grupo social a<br />

que pertenciam, mas também o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar nos «forman<strong>dos</strong>» o espírito<br />

agónico característico da aristocracia, b<strong>em</strong> como velar para que, no futuro, as<br />

ações <strong>dos</strong> jovens não envergonhass<strong>em</strong> os mestres e as famílias.<br />

Para alcançar<strong>em</strong> os seus objetivos, os precetores incitavam-nos a ser<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre os melhores entre os seus pares (cf. Il. 6.208: <br />

‘ser s<strong>em</strong>pre o melhor e manter-se superior aos<br />

<strong>de</strong>mais’) e a rivalizar com guras apresentadas como mo<strong>de</strong>los 8 . Fénix propõe<br />

a Aquiles o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Meleagro; já Atena/Mentor, por sua vez, apresenta<br />

Orestes como paradigma a seguir por Telémaco. Também Aquiles (encarnação<br />

moral do perfeito guerreiro homérico) e Telémaco viriam a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong><br />

mo<strong>de</strong>los a seguir pelas diversas gerações <strong>de</strong> leitores/ouvintes <strong>dos</strong> Po<strong>em</strong>as<br />

Homéricos.<br />

Torna-se, portanto, evi<strong>de</strong>nte que a educação homérica privilegia duas áreas<br />

fundamentais: a técnica – que inclui o ensino do manejo <strong>de</strong> armas, <strong>de</strong>sporto,<br />

artes musicais (canto, lira, dança) e oratória – e a ética, que transmite os valores<br />

próprios da socieda<strong>de</strong> 9 .<br />

Os gran<strong>de</strong>s teóricos da educação, contudo, apenas surgiram no período que<br />

compreen<strong>de</strong> os séculos V e IV a.C. O seu aparecimento foi impulsionado pelas<br />

profundas e vertiginosas alterações então ocorridas na vida e na mentalida<strong>de</strong><br />

tragediógrafo. Na Il. 9. 432-605, a educação <strong>de</strong> Aquiles surge igualmente associada à gura <strong>de</strong><br />

Fénix. A este propósito, vi<strong>de</strong> Jaeger ( 3 1995: 49-52).<br />

7 A importância <strong>de</strong> Telémaco (ou, se quisermos, a <strong>de</strong> Ulisses) era tal que Mentor chegou<br />

a ser substituído – ainda que por pouco t<strong>em</strong>po – pela própria Atena disfarçada (Od. 2.<br />

267sqq., 399sqq, 3. 13 sqq.). É por causa da missão conada a Mentor que ainda hoje<br />

utilizamos este nome para <strong>de</strong>signar qualquer indivíduo sábio e experiente que serve <strong>de</strong> guia<br />

e conselheiro.<br />

8 Como no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Teseu, que sente o <strong>de</strong>sejo ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>em</strong>ular Héracles. Vi<strong>de</strong> p. 54.<br />

9 Sobre a educação retratada nos Po<strong>em</strong>as Homéricos, consulte-se ainda, por ex<strong>em</strong>plo, Wees<br />

(1996: 1-25).<br />

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