17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte IV<br />

tentado <strong>de</strong>smentir as acusações <strong>de</strong> que foram alvo e apela a uma punição,<br />

pronta e pesada, para aqueles que, <strong>de</strong> «salvadores», passaram a uma espécie <strong>de</strong><br />

«carrascos» da Grécia, logo, uma ameaça a erradicar 84 .<br />

Todas as características <strong>dos</strong> Atenienses que fomos referindo faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>les<br />

um povo que só podia viver <strong>em</strong> <strong>de</strong>mocracia, pelo que esta se torna no regime por<br />

excelência <strong>de</strong> Atenas, on<strong>de</strong>, segundo Lys. 2. 18, foi estabelecido pela primeira<br />

vez. Na sua perspetiva, este era um <strong>dos</strong> aspetos que os tornava superior aos<br />

<strong>de</strong>mais Helenos, porque, tendo sido uma constituição por eles inventada 85 ,<br />

era a única verda<strong>de</strong>iramente grega e a única que representava a liberda<strong>de</strong>, ao<br />

contrário da tirania e da oligarquia 86 . Por isso, ao elogio das características do<br />

, é intrínseco o do regime <strong>de</strong>mocrático 87 , escolhido, na época clássica,<br />

para orientar o seu funcionamento, e sob o qual a alcançou o apogeu.<br />

A constituição <strong>de</strong>mocrática torna-se fundamental para a imag<strong>em</strong> da Atenas<br />

i<strong>de</strong>alizada, por assentar no respeito pela lei (nomeadamente a escrita – cf. E.<br />

Supp. 426-455) e na igualda<strong>de</strong> perante esta. Na verda<strong>de</strong>, esta <strong>de</strong>mocracia cou<br />

conhecida, porque, pobre ou rico, qualquer cidadão tinha plena participação<br />

nas <strong>de</strong>cisões inerentes ao funcionamento da sua comunida<strong>de</strong> e podia dar o<br />

seu contributo para o engran<strong>de</strong>cimento da pátria 88 . Por isso, os Atenienses,<br />

ao contrário do que acontecia com os Bárbaros, eram governa<strong>dos</strong> por to<strong>dos</strong> e<br />

não por um só <strong>hom<strong>em</strong></strong> (A. Pers. 242; E. Supp. 403-408), o que lhes permitia<br />

viver <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com as suas próprias opções e não subjuga<strong>dos</strong> à<br />

vonta<strong>de</strong> alheia 89 .<br />

ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> um discurso sucinto e eciente, <strong>em</strong> tudo diferente <strong>dos</strong> que são formula<strong>dos</strong> pelas<br />

gentes <strong>de</strong> Atenas. Importa, contudo, l<strong>em</strong>brar que os Atenienses eram conheci<strong>dos</strong> por dominar<strong>em</strong><br />

a arte <strong>de</strong> b<strong>em</strong> falar, que, segundo Isoc. 47-50, era um dom inato <strong>de</strong>ste povo. <strong>Plutarco</strong> reconhece<br />

esta aptidão quando, <strong>em</strong> Cim. 4. 5, arma que este era <strong>de</strong>sprovido <strong>dos</strong> dotes <strong>de</strong> eloquência<br />

tipicamente <strong>ateniense</strong>s ().<br />

84 É sua uma expressão reveladora da verda<strong>de</strong>ira razão que levou ao <strong>de</strong>agrar do conito<br />

armado: – ‘não <strong>de</strong>ixeis que os Atenienses cresçam’<br />

(uc. 1. 86. 5).<br />

85 É, portanto, um <strong>dos</strong> traços da civilização que Péricles <strong>de</strong>clara original e não cópia do que<br />

já existia. Cf. supra pp.118.<br />

86 No entanto, Atenas é <strong>de</strong>scrita como uma tirania, e.g., <strong>em</strong> uc. 2. 37, 2. 63, 3.37, 6. 85.<br />

87 Cf. E. Supp. 349-353, 404-5. Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> elogio do regime <strong>de</strong>mocrático vi<strong>de</strong> uc.<br />

2. 37 sqq. A este propósito, consulte-se, entre outros, Gomme (1945-1956: 108) e Harris (1992:<br />

157-167). Sobre a <strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong> <strong>em</strong> geral, vi<strong>de</strong> Ribeiro Ferreira (1990) e bibliograa<br />

por ele citada.<br />

88 Cf. Hdt. 3. 80. 1; E. Supp. 403-408, 426-455. Segundo Lys. 2. 19, to<strong>dos</strong> são iguais perante<br />

a lei que <strong>de</strong>ve proteger os mais fracos e punir o que é indiscutivelmente vergonhoso. A igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>via-se ao facto <strong>de</strong>, <strong>em</strong> teoria, to<strong>dos</strong> ter<strong>em</strong> a mesma orig<strong>em</strong> autóctone e constituía um ecaz<br />

mecanismo <strong>de</strong> incentivo à participação do conjunto <strong>dos</strong> cidadãos. Sobre a autoctonia, vi<strong>de</strong> supra pp.<br />

117-118. Note-se, porém, que a <strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong> é por muitos consi<strong>de</strong>rada uma constituição<br />

mista, já que, <strong>de</strong> um modo geral, só um leque muito reduzido <strong>de</strong> cidadãos aristocratas ace<strong>de</strong> aos<br />

cargos <strong>de</strong> topo. Para esta probl<strong>em</strong>ática, consulte-se, por ex<strong>em</strong>plo, Oliver (1955: 37-40).<br />

89 Cf. E. Heracl. 423-4. Este era mais um <strong>dos</strong> el<strong>em</strong>ento a distinguir os Gregos <strong>dos</strong> Bárbaros<br />

na tragédia.<br />

130

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!