O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />
costumes – que não era usual da parte <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>tinha tão gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r – não<br />
lhes valeu qualquer reconhecimento, só duras críticas quando, <strong>em</strong> «legítima<br />
<strong>de</strong>fesa», se viram obriga<strong>dos</strong> a recorrer ao po<strong>de</strong>r que o facto <strong>de</strong> encabeçar<strong>em</strong> um<br />
império lhes outorgava. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que Atenas reconheça como<br />
erro tratar os súbditos como iguais: qu<strong>em</strong> age com violência não costuma ser<br />
julgado, porque as vítimas não po<strong>de</strong>m exigir justiça, mas, qu<strong>em</strong> está habituado<br />
a ela, ao mínimo incómodo, queixa-se com gran<strong>de</strong> alarido.<br />
O discurso <strong>ateniense</strong> <strong>de</strong>ixa, assim, a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um povo cheio <strong>de</strong> méritos<br />
que, pelo seu excesso <strong>de</strong> brandura e <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> 79 , é injustamente ameaçado<br />
e acusado, facto que o leva a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se com mão rme, mas não a atacar <strong>de</strong><br />
graça os seus alia<strong>dos</strong>. Nas entrelinhas, vislumbramos um povo que quer ser<br />
consi<strong>de</strong>rado superior, mas que, quando lhe convém (por ex<strong>em</strong>plo, por se sentir<br />
<strong>em</strong> perigo), não se importa <strong>de</strong> ter o mesmo comportamento do comum <strong>dos</strong><br />
mortais, ou seja, <strong>dos</strong> que se guiam pela lei do mais forte.<br />
Com este discurso contrasta o <strong>de</strong>bate que se segue, do qual <strong>de</strong>veria<br />
resultar a posição a assumir pelos Lace<strong>de</strong>mónios. Os dois intervenientes, cujas<br />
palavras Tucídi<strong>de</strong>s relata (Arquidamo e Estenelaí<strong>de</strong>s 80 ), revelam a existência<br />
<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>s diferentes <strong>em</strong> relação à essência do inimigo. Arquidamo<br />
assume uma postura mais diplomática (mas n<strong>em</strong> por isso totalmente favorável<br />
aos Atenienses), o que <strong>de</strong>certo se justica pelo facto <strong>de</strong> manter relações <strong>de</strong><br />
hospitalida<strong>de</strong> com alguns <strong>de</strong>les, nomeadamente com Péricles. Admite a clara<br />
superiorida<strong>de</strong> bélica <strong>dos</strong> Atenienses 81 , mas refuta que a excelência daqueles seja<br />
uma condição inata 82 . Não <strong>de</strong>ixa, no entanto, <strong>de</strong> sugerir a visão negativa que os<br />
Lace<strong>de</strong>mónios têm do inimigo, já que arma que preten<strong>de</strong> surpreendê-los nos<br />
seus <strong>em</strong>bustes (uc. 1. 82. 1).<br />
Estenelaí<strong>de</strong>s, mais int<strong>em</strong>pestivo, profere palavras que suger<strong>em</strong> a<br />
existência <strong>de</strong> um ódio visceral entre os dois povos. Critica os Atenienses pelo<br />
constante autoelogio, pelos discursos longos e ininteligíveis 83 , por não ter<strong>em</strong><br />
uc. 1. 77. 1, vi<strong>de</strong> Gomme (1945-1956: 236-243); Hornblower (1991: 122-123).<br />
79 Isoc. 4. 79-80 apresenta como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> civismo o facto <strong>de</strong> se ter como<br />
preocupação primeira o b<strong>em</strong>-comum e arma que os Atenienses serviam os Gregos s<strong>em</strong><br />
oprimi-los.<br />
80 A respeito <strong>de</strong>ste éforo, apenas se conhece o discurso referido <strong>em</strong> uc. 1. 86. Sobre<br />
os discursos <strong>de</strong> Arquidamo e Estenelaídas, consult<strong>em</strong>-se Gomme (1945-1956: 246-252);<br />
Hornblower (1991: 125-131).<br />
81 Segundo Arquidamo (uc. 1. 80. 3), os Atenienses são os mais b<strong>em</strong> prepara<strong>dos</strong> (<br />
), quer pela experiência marítima, quer pelos <strong>de</strong>mais recursos<br />
<strong>de</strong> que dispõ<strong>em</strong> (riqueza, navios, cavalaria, tropas e homens). São um adversário a respeitar.<br />
Apesar disso, admite que, b<strong>em</strong> organiza<strong>dos</strong> e com t<strong>em</strong>po, os Lace<strong>de</strong>mónios po<strong>de</strong>m vencê-los.<br />
82 Arquidamo acreditava que a superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um povo relativamente a outro é fruto<br />
do tipo <strong>de</strong> educação recebida (uc. 1. 74. 4). Assume, portanto, uma posição distinta da <strong>dos</strong><br />
Coríntios, que acreditam que os Atenienses são como são por causa da raça a que pertenc<strong>em</strong> (cf.<br />
uc. 1. 68-71). Sobre a relação entre e e , vi<strong>de</strong> p. 137 sqq.<br />
83 Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante notar que a sua intervenção – brevíssima – funciona como<br />
129