O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />
“é que a pólis são os cidadãos e não as muralhas n<strong>em</strong> os barcos viúvos <strong>de</strong> homens.”<br />
À ânsia <strong>de</strong> sucesso e à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> que tais características<br />
<strong>de</strong>spoletaram no espírito <strong>ateniense</strong>, aliou-se o generoso <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dilatar pelos<br />
povos vizinhos os valores e o modo <strong>de</strong> vida <strong>em</strong> que acreditavam. Segundo<br />
Isoc. 4. 26-40, Atenas <strong>de</strong>u alimentos aos que não os tinham, fomentou o<br />
aparecimento da maior parte <strong>dos</strong> bens 57 e a união entre os Gregos que viviam<br />
dispersos e s<strong>em</strong> leis, uns ultraja<strong>dos</strong> pela tirania, outros pela anarquia.<br />
No cumprimento <strong>de</strong>sse objetivo civilizador e lantrópico, que ajuda a<br />
justicar a sua expansão, acabaram por cometer excessos (a que os Coríntios se<br />
refer<strong>em</strong> através da expressão , uc. 1. 68. 2)<br />
que zeram com que, alia<strong>dos</strong> ou não, os <strong>de</strong>mais Gregos se sentiss<strong>em</strong> acossa<strong>dos</strong><br />
e olhass<strong>em</strong> para essa <strong>em</strong>presa como uma tentativa <strong>de</strong> escravização 58 , da qual<br />
muitos já haviam sido vítimas (, uc. 1. 68. 3).<br />
O discurso <strong>ateniense</strong>, que é proferido <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> resposta ao ataque<br />
do orador <strong>de</strong> Corinto, não contraria <strong>em</strong> absoluto o que os <strong>em</strong>baixadores <strong>de</strong><br />
Atenas ouviram antes. De facto, como o próprio orador <strong>ateniense</strong> previne<br />
a audiência, na sua exposição, não procurará <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r Atenas das acusações<br />
(<strong>de</strong>certo injustas!) <strong>de</strong> que foi alvo, mas tão só justicar a sua superiorida<strong>de</strong> e<br />
consequentes direitos 59 , b<strong>em</strong> como alertar os Lace<strong>de</strong>mónios para que <strong>de</strong>cidam<br />
do melhor modo, s<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ixar<strong>em</strong> inuenciar pela pressão <strong>dos</strong> alia<strong>dos</strong>. Nesse<br />
sentido, o orador salienta que não preten<strong>de</strong> convencer os Lace<strong>de</strong>mónios a<br />
evitar o conito bélico, mas alertá-los para a qualida<strong>de</strong> do inimigo com que se<br />
irão <strong>de</strong>frontar (uc. 1. 73. 3). Da sua parte, Atenas não irá entrar <strong>em</strong> guerra,<br />
57 Plin. Nat 7. 194 faz o rol <strong>dos</strong> inventos com orig<strong>em</strong> <strong>ateniense</strong>. Plu. Moralia 345F, por<br />
sua vez, arma que Atenas foi mãe e ama <strong>de</strong> muitas artes diferentes. De acordo com Plu. Cim.<br />
10. 6, a generosida<strong>de</strong> do irmão <strong>de</strong> Elpinice ultrapassou os limites das famosas e<br />
<strong>dos</strong> Atenienses, pois se estes haviam difundido s<strong>em</strong>entes e ensinado quer técnicas<br />
<strong>de</strong> regadio quer a fazer fogo, aquele franqueou as portas da sua casa a quantos precisavam <strong>de</strong><br />
roupas e alimentos, numa partilha s<strong>em</strong>elhante à mítica comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens que reinava no<br />
t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Crono.<br />
58 Cf. Plu. Cim. 11. 3, segundo o qual esta perspetiva se pren<strong>de</strong> sobretudo ao facto <strong>de</strong> os<br />
tributos ter<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser forneci<strong>dos</strong> <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> barcos e homens, por recusa <strong>dos</strong> próprios<br />
alia<strong>dos</strong>. De modo a <strong>de</strong>ixar ambas as partes satisfeitas, Címon sugeriu que aqueles, que preferiam<br />
car a cultivar os campos e a usufruir da paz, pagass<strong>em</strong> uma soma para substituir a forma primitiva<br />
<strong>de</strong> contribuição. Aos Atenienses, contudo, não permitiu essa regalia e obrigava-os a treinar<br />
diariamente. Isso fez com que o po<strong>de</strong>rio militar <strong>de</strong> Atenas se <strong>de</strong>senvolvesse exponencialmente e<br />
com que aqueles que o sustentavam passass<strong>em</strong> a t<strong>em</strong>er o po<strong>de</strong>r <strong>ateniense</strong>. O texto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>,<br />
<strong>em</strong>bora reconheça a pretensa situação <strong>de</strong> escravidão <strong>em</strong> que os alia<strong>dos</strong> viviam, responsabiliza as<br />
vítimas, que se recusaram a servir.<br />
59 Esta nossa frase sugere a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os mais fortes exerc<strong>em</strong>, por direito natural, o po<strong>de</strong>r sobre<br />
os mais fracos, realida<strong>de</strong> que o orador <strong>ateniense</strong> admite <strong>em</strong> uc. 1. 76. 2 (<br />
). De salientar, porém, que <strong>em</strong> uc. 5. 105. 2, tal<br />
«valor», mais do que assumido, é elogiado pelos Atenienses. Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> infra p. 128 sq.<br />
125