17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte IV<br />

Essa capacida<strong>de</strong> interventiva <strong>dos</strong> Atenienses era coadjuvada pelo facto <strong>de</strong><br />

ser<strong>em</strong> audazes ( 50 ), t<strong>em</strong>erários 51 (), resolutos () 52<br />

e otimistas ( 53 ). Provaram-no <strong>em</strong> vários momentos, o mais famoso<br />

<strong>dos</strong> quais terá sido, s<strong>em</strong> dúvida, as Guerras Médicas 54 , durante as quais<br />

puseram <strong>em</strong> prática estratégias nunca antes utilizadas pelos Gregos. Também<br />

por essa ocasião foi possível comprovar uma outra qualida<strong>de</strong> importante <strong>dos</strong><br />

Atenienses: a abnegação que manifestavam quer <strong>em</strong> relação à vida, quer <strong>em</strong><br />

relação ao solo pátrio. Eles não tinham pejo <strong>em</strong> morrer pela sua (<br />

) 55 ou <strong>em</strong> abandonar o<br />

território () para alcançar os seus intentos – sobretudo quando<br />

o que estava <strong>em</strong> causa era a salvação da Héla<strong>de</strong> 56 –, o que ex<strong>em</strong>plica b<strong>em</strong> a<br />

<strong>de</strong>nição que Tucídi<strong>de</strong>s (7. 77. 7) dá <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> tipicamente grega:<br />

124<br />

<br />

abolir l’histoire; Athènes veut la faire».<br />

50 Cf. Hornblower (1991: 115). Em uc. 1. 70. 2 e 1. 74. 2 e 4, ocorr<strong>em</strong> por diversas vezes<br />

palavras da família <strong>de</strong> ‘audácia, corag<strong>em</strong>’, quer na boca <strong>dos</strong> Atenienses, quer na <strong>dos</strong><br />

Coríntios. A corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Atenas suscitava admiração e terror entre os Gregos, porque parecia<br />

ser diretamente proporcional às diculda<strong>de</strong>s enfrentadas. O próprio Péricles reconhece essa<br />

capacida<strong>de</strong> quando, <strong>em</strong> uc. 1. 144. 4, arma que a vitória sobre os Persas se cou a <strong>de</strong>ver<br />

mais à corag<strong>em</strong> do que ao po<strong>de</strong>rio militar <strong>dos</strong> Atenienses (). Até o<br />

inimigo elogia a audácia <strong>de</strong>ste povo, que, segundo Górgias (DK 82 B6), possui um ímpeto<br />

bélico inato (). Cf. Lys. 2. 63. Os Atenienses, como no-lo test<strong>em</strong>unha Péricles<br />

<strong>em</strong> uc. 2. 39, tinham a percepção <strong>de</strong> que a corag<strong>em</strong> é um dom inato, mais do que algo que<br />

se possa apren<strong>de</strong>r através do treino militar precoce, como advogam os Espartanos. A sugestão<br />

<strong>de</strong> que as tropas <strong>de</strong> Atenas não são prossionais mas amadoras serve para sobrevalorizar<br />

as capacida<strong>de</strong>s bélicas e a corag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste povo e para <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar das virtu<strong>de</strong>s aprendidas<br />

do inimigo, já que estas são necessariamente imperfeitas (cf. Pi. N. 3. 40 sq.). Vi<strong>de</strong> Loraux<br />

(1981b: 150).<br />

51 Isoc. 4. 95 arma que a cida<strong>de</strong> que quiser li<strong>de</strong>rar a Grécia t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

afrontar o perigo, <strong>em</strong> uma clara alusão a esta característica <strong>ateniense</strong>.<br />

52 Este traço <strong>de</strong> caráter revela-se, sobretudo, através da pronta ação <strong>dos</strong> Atenienses. Cf. supra<br />

p. 121 sq.<br />

53 Cf. Gomme (1945-1956: 230) e Hornblower (1991: 115). Ao <strong>de</strong>stacarmos este adjetivo<br />

da caracterização que os Coríntios faz<strong>em</strong> <strong>dos</strong> Atenienses, foi impossível não relacioná-lo com<br />

Evélpi<strong>de</strong>s, uma personag<strong>em</strong> das Aves <strong>de</strong> Aristófanes, que personica o espírito <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor,<br />

otimista e aventureiro do povo <strong>de</strong> Atenas. Importa também recordar que esta característica<br />

está diretamente relacionada com a : é que, segundo Péricles (uc. 2. 64),<br />

os Atenienses eram conheci<strong>dos</strong> pelo seu vigor e por ter<strong>em</strong> fé na ação. Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste<br />

otimismo, vi<strong>de</strong> uc. 1. 138 (postura <strong>de</strong> T<strong>em</strong>ístocles), 4. 10 (<strong>em</strong> que D<strong>em</strong>óstenes incita os<br />

solda<strong>dos</strong> antes do combate <strong>em</strong> Esfactéria), 7. 77 (<strong>em</strong> que Nícias faz o mesmo antes da última<br />

batalha <strong>de</strong> Siracusa).<br />

54 Cf. infra p. 126: os próprios Atenienses escolh<strong>em</strong> este acontecimento como contexto<br />

supr<strong>em</strong>o da realização das suas qualida<strong>de</strong>s.<br />

55 Vi<strong>de</strong> etiam uc. 2. 42. 2 e uc. 2. 60, on<strong>de</strong> Péricles se arma , sugerindo que<br />

todo o Ateniense que possui esse sentimento para com a sua cida<strong>de</strong> é capaz <strong>de</strong> dar a vida por ela.<br />

Cf. Gomme (1945-1956: 231).<br />

56 Lys. 2. 33; Plu. <strong>em</strong>. 11. 4-5.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!