O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />
não lhes granjeava muita simpatia por parte <strong>dos</strong> «vilões». Lidar com um<br />
suplicante implicava, por isso e s<strong>em</strong>pre, o duplo risco <strong>de</strong> provocar uma guerra<br />
ou incorrer <strong>em</strong> 45 . A pie<strong>dos</strong>a Atenas preferia, como é óbvio, o primeiro<br />
para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os seus i<strong>de</strong>ais. Um tal altruísmo e respeito pelos <strong>de</strong>uses acabava<br />
s<strong>em</strong>pre pr<strong>em</strong>iado na proporção do risco corrido, como po<strong>de</strong>mos vericar <strong>em</strong><br />
tragédias como as Euméni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ésquilo, o Édipo <strong>em</strong> Colono <strong>de</strong> Sófocles ou o<br />
Héracles e as Suplicantes <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, segundo as quais Atenas passa a car<br />
protegida por divinda<strong>de</strong>s antes adversas e por heróis.<br />
A vivência <strong>de</strong>sta benecia, por isso, da «hiperativida<strong>de</strong>» 46 e do<br />
dom <strong>de</strong> combinar força e inteligência 47 <strong>ateniense</strong>s, acabando por estar também<br />
associada ao fomento do po<strong>de</strong>rio militar. Só com meios sucientes era possível<br />
dar uma resposta pronta aos pedi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> ajuda que, <strong>de</strong> todo o lado – e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
s<strong>em</strong>pre –, chegavam a Atenas, pelo que a ação militar acaba por se tornar <strong>em</strong><br />
uma manifestação necessária da sua . Como ex<strong>em</strong>plo mítico-literário<br />
<strong>de</strong>ssa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta pronta – que distinguia Atenas <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mais, <strong>em</strong><br />
particular <strong>de</strong> Esparta 48 –, po<strong>de</strong>mos recordar a rápida intervenção <strong>de</strong> Teseu<br />
para ajudar Édipo <strong>em</strong> S. OC 897, 904, que <strong>de</strong>monstra a conança que os<br />
Atenienses têm nas suas ações, a consciência da sua força militar, b<strong>em</strong> como do<br />
<strong>de</strong>ver e da reputação que têm a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Ora, à , esse «excesso<br />
<strong>de</strong> energia», por causa do qual não viviam n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixavam os outros viver <strong>em</strong><br />
paz, contrapõe-se (nas palavras do orador coríntio) a inércia lace<strong>de</strong>mónia que<br />
acabou por contribuir para dar mais liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação aos sonhos imperialistas<br />
<strong>de</strong> Atenas 49 .<br />
<strong>dos</strong> Atenienses) são a lantropia, o bom-senso, a corag<strong>em</strong>, a pieda<strong>de</strong> e a generosida<strong>de</strong>. Para um<br />
estudo aprofundado <strong>de</strong>stes conceitos e do vocabulário grego que os <strong>de</strong>signam, consult<strong>em</strong>-se<br />
Ferguson (1958); Adkins (1960, 1972).<br />
45 Os Atenienses nunca incorr<strong>em</strong> voluntariamente <strong>em</strong> , porque são mo<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong>,<br />
pacícos e não são exageradamente conantes. Cf. Mills (1997: 60).<br />
46 E. Supp. 305-310.<br />
47 uc. 2. 40. 3. A força é necessária para conquistar os que o merec<strong>em</strong>, a inteligência para<br />
fazer a opção entre castigo e perdão. Cf. supra 121, nota 36.<br />
48 Segundo uc. 6. 18, os Atenienses socorr<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> imediato a qu<strong>em</strong> lhes pe<strong>de</strong> ajuda.<br />
49 Na perspetiva <strong>dos</strong> Coríntios, os Lace<strong>de</strong>mónios estão s<strong>em</strong>pre a pon<strong>de</strong>rar os perigos e<br />
jamais dão o seu melhor quando abraçam uma causa. Ao <strong>de</strong>negrir a imag<strong>em</strong> <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios,<br />
os Coríntios parec<strong>em</strong> fazer da omissão daqueles o segundo gran<strong>de</strong> responsável pelo po<strong>de</strong>rio<br />
<strong>ateniense</strong> ( ‘vós sois os culpa<strong>dos</strong>’): podiam ter impedido a forticação da cida<strong>de</strong><br />
a seguir às Guerras Médicas e não o zeram; podiam ter travado as suas ambições, mas<br />
não esboçaram qualquer reação nesse sentido (cf. uc. 1. 69. 1). Não admira, por isso, que<br />
sejam apelida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> hesitantes ( –uc. 1. 70. 4, 71. 1), e<br />
que que a sugestão <strong>de</strong> que são maus alia<strong>dos</strong>, já que, apesar da fama, eram um apoio pouco<br />
seguro ( – uc. 1. 69. 5)<br />
e responsáveis pela ruína <strong>de</strong> vários <strong>dos</strong> que neles haviam conado (como os Poti<strong>de</strong>atas, os<br />
Tásios e os Eubeus – uc. 1. 58. 1. 101. 1-2, 1. 114). Até os Atenienses se queixam do pouco<br />
apoio que os Lace<strong>de</strong>mónios lhes prestaram por ocasião das Guerras Médicas (uc. 1. 74.<br />
2-3; Plu. Arist. 10. 7, <strong>em</strong>. 11. 5). Fica, pois, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que Esparta vivia presa ao passado, à<br />
tradição e <strong>de</strong> que Atenas era símbolo <strong>de</strong> progresso. Cf. Chatelet (1962: 35): «Sparte tend à<br />
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