17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte IV<br />

com a constatação <strong>dos</strong> Coríntios 38 – <strong>de</strong> tom francamente abonatório para os<br />

Atenienses –, fez <strong>de</strong>stes um povo inovador ( 39 ) e apreciador do<br />

progresso, que aproveitava a experiência 40 adquirida <strong>em</strong> diversas áreas (como,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, a do combate naval) para aperfeiçoar recursos e méto<strong>dos</strong>, <strong>de</strong><br />

modo a melhor enfrentar os probl<strong>em</strong>as com que se iam <strong>de</strong>parando. Ficava, por<br />

isso, a impressão <strong>de</strong> que quanto maior a diculda<strong>de</strong>, maiores os seus <strong>em</strong>penho<br />

e corag<strong>em</strong>.<br />

Só a permite aos Atenienses <strong>de</strong>monstrar outras virtu<strong>de</strong>s<br />

que os caracterizam, nomeadamente a 41 e a . De facto,<br />

os Atenienses passavam por ser um povo pie<strong>dos</strong>o, que não media esforços para<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as leis 42 (quer as divinas, quer as humanas), protegendo os mais fracos<br />

e oprimi<strong>dos</strong>, os suplicantes 43 e procurando punir os maus 44 . Uma tal atitu<strong>de</strong><br />

38 uc. 1. 71. 3.<br />

39 Vi<strong>de</strong> Gomme (1945-1956: 230) e Hornblower (1991: 114). Um <strong>dos</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>ssa<br />

aptidão <strong>dos</strong> Atenienses para inovar é mencionado por <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong> Per. 27. 3. Através <strong>de</strong>sse<br />

passo, camos a saber que Péricles era um gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> engenhos <strong>de</strong> guerra, matéria <strong>em</strong> que<br />

tinha o engenheiro Árt<strong>em</strong>on como assessor.<br />

40 uc. 1. 142. 5. Os Atenienses tinham orgulho na sua ativida<strong>de</strong> constante e na vasta<br />

experiência que <strong>de</strong>la resultava, <strong>de</strong> tal modo que esta foi usada como incentivo por diferentes<br />

generais. Cf. uc. 2. 89, 6. 18, segundo os quais Nícias e Alcibía<strong>de</strong>s (respetivamente) apelam à<br />

tradição da ativida<strong>de</strong> militar <strong>ateniense</strong> para encorajar os solda<strong>dos</strong>.<br />

41 Esta característica está relacionada com a . Como ex<strong>em</strong>plos da sua manifestação,<br />

po<strong>de</strong>mos l<strong>em</strong>brar o facto <strong>de</strong> os Atenienses não escolher<strong>em</strong> as suas amiza<strong>de</strong>s com base nos<br />

benefícios que <strong>de</strong>las lhes po<strong>de</strong>riam advir, mas nos que po<strong>de</strong>m conce<strong>de</strong>r aos seus amigos (uc.<br />

2. 40. 4); ou ainda o facto <strong>de</strong> ajudar<strong>em</strong> os oprimi<strong>dos</strong> por acreditar<strong>em</strong> no valor da liberda<strong>de</strong><br />

e não para proveito próprio (uc. 2. 40. 5). A relação que mantêm com os estrangeiros<br />

que habitam <strong>em</strong> Atenas, ainda que condicionada pelos limites <strong>de</strong>correntes da consciência da<br />

sua condição <strong>de</strong> povo superior, também <strong>de</strong>monstra essa humanida<strong>de</strong>: os estrangeiros po<strong>de</strong>m<br />

partilhar o dom que é viver <strong>em</strong> Atenas, mas têm um estatuto próprio, que lhes veda sobretudo<br />

a participação na vida política ativa, apenas ao alcance do cidadão autóctone. Apesar <strong>de</strong>sta<br />

gran<strong>de</strong> privação, muitos prefer<strong>em</strong> viver <strong>em</strong> Atenas e beneciar do seu esplendor cultural, a<br />

partilhar direitos políticos com os concidadãos das suas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Sobre o estatuto<br />

do estrangeiro <strong>em</strong> Atenas, vi<strong>de</strong> Austin – Vidal-Naquet (1986); Clerc (1979); Gauthier (1972:<br />

107 sqq.).<br />

42 De acordo com a crença grega, a lei era uma instituição <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> divina. Os Atenienses,<br />

que se consi<strong>de</strong>ravam os mais pios – – (cf. Isoc. 4. 33, 12. 124) e protegi<strong>dos</strong> pelos<br />

<strong>de</strong>uses, davam o seu melhor para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o cumprimento da lei e os direitos <strong>dos</strong> suplicantes,<br />

mesmo que para isso tivess<strong>em</strong> <strong>de</strong> entrar <strong>em</strong> guerra. Foi o que aconteceu, segundo a tragédia,<br />

quando os Heraclidas e os Argivos pediram auxílio a Atenas. Sobre o estabelecimento das leis<br />

<strong>em</strong> Atenas, vi<strong>de</strong> etiam Lys. 2. 19 e Bonner – Smith (1938); Harrison (1968-71); Gagarin (1989)<br />

e Todd (1993).<br />

43 Cf. Isoc. 4. 52-53; Pl. Mx. 244e, que mencionam a ação <strong>de</strong>sinteressada <strong>em</strong> prol <strong>dos</strong> mais<br />

fracos e <strong>dos</strong> Gregos oprimi<strong>dos</strong>. Em S. OC 260-62, 1125, Édipo apresenta Atenas como mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> justiça, por ser a única cida<strong>de</strong> com vonta<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

os hóspe<strong>de</strong>s. Também <strong>em</strong> Euméni<strong>de</strong>s, Me<strong>de</strong>ia e Édipo <strong>em</strong> Colono, Atenas é apresentada como a<br />

única preparada para aceitar pessoas poluídas por crimes cometi<strong>dos</strong> <strong>em</strong> outras cida<strong>de</strong>s,<br />

logo a única capaz <strong>de</strong> perdoar e <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar humanida<strong>de</strong>. Cf. p. 118, nota 22.<br />

44 Segundo E. Supp. 341, era missão <strong>de</strong> Atenas. Outras características que se<br />

relacionam com o acolhimento <strong>de</strong> suplicantes e oprimi<strong>dos</strong> (e que, consequent<strong>em</strong>ente são típicas<br />

122

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!