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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />

relacionado com a superiorida<strong>de</strong> do seu povo, o único capaz <strong>de</strong> combinar<br />

(que representa a força física, a dinâmica <strong>de</strong> ação, a violência) e <br />

(que representa a paz, a inteligência, a persuasão, o civismo) 32 . Isto signica<br />

que a sua ação (que parece <strong>de</strong>senfreada e int<strong>em</strong>pestiva pela rapi<strong>de</strong>z com que<br />

é executada) se baseia na pronta reexão, ou seja, <strong>em</strong> uma reexão que não se<br />

arrasta pelo t<strong>em</strong>po, pondo <strong>em</strong> causa a execução, antes pelo contrário: permite<br />

esclarecer as i<strong>de</strong>ias antes <strong>de</strong> agir, logo, mostrar audácia com riscos calcula<strong>dos</strong> 33 .<br />

Porque senhores <strong>de</strong>sta capacida<strong>de</strong> 34 , os Atenienses prefer<strong>em</strong> surpreen<strong>de</strong>r<br />

a ser surpreendi<strong>dos</strong>, antecipar <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> reagir 35 e mostram-se indigna<strong>dos</strong><br />

com a apatia <strong>dos</strong> outros Gregos. É, por isso, compreensível que os Coríntios<br />

atribuam à rapi<strong>de</strong>z que os Atenienses confer<strong>em</strong> ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão/ação 36<br />

a responsabilida<strong>de</strong> pelos êxitos por estes alcança<strong>dos</strong>.<br />

A está intimamente relacionada com outro traço <strong>dos</strong><br />

Atenienses, a ambição, a ânsia <strong>de</strong> sucesso, que fazia com que, s<strong>em</strong>pre insatisfeitos<br />

com o que tinham, buscass<strong>em</strong> mais e melhor, s<strong>em</strong> se importar<strong>em</strong> <strong>de</strong> correr<br />

riscos para alcançar os seus objetivos 37 . Foi esta maneira <strong>de</strong> ser que, <strong>de</strong> acordo<br />

32 Os Atenienses são os mais experientes <strong>em</strong> palavras e ações – <br />

(Isoc. 8. 52). Note-se, contudo, que o recurso ao , apesar <strong>de</strong> sinónimo <strong>de</strong> paz,<br />

po<strong>de</strong> justicar a guerra. Nas Suplicantes <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, a batalha só acontece porque Teseu não<br />

consegue persuadir os Tebanos <strong>de</strong> outro modo.<br />

33 Cf. uc. 7. 28, on<strong>de</strong> se arma que qu<strong>em</strong> não quer correr riscos protela a ação; qu<strong>em</strong> não<br />

se importa <strong>de</strong> corrê-los passa à execução com maior rapi<strong>de</strong>z.<br />

34 Como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>sta característica, mais uma das que causava a admiração <strong>dos</strong> seus pares<br />

e <strong>dos</strong> inimigos, po<strong>de</strong>mos recordar a velocida<strong>de</strong> da construção <strong>dos</strong> muros <strong>em</strong> Siracusa (uc. 6.<br />

98) e <strong>em</strong> Atenas (uc. 1. 93), b<strong>em</strong> como a rapi<strong>de</strong>z da concretização do programa <strong>de</strong> obras <strong>de</strong><br />

reconstrução e <strong>em</strong>belezamento da (Plu. Per. 13. 3).<br />

35 Vd. uc. 6. 18, segundo o qual Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>clara que não se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> ataques<br />

<strong>dos</strong> mais fortes, mas precaver-se antes que ataqu<strong>em</strong>.<br />

36 Cf. uc. 1. 57; Isoc. 4. 87. Em Ar. Ach. 630-631, o comediógrafo parodia esta característica,<br />

quando arma que os Atenienses estão s<strong>em</strong>pre prontos a tomar <strong>de</strong>cisões e … a alterá-las. Esta<br />

pretensa in<strong>de</strong>cisão po<strong>de</strong> ser interpretada <strong>de</strong> dois mo<strong>dos</strong>: um, negativo, por sugerir insegurança<br />

e <strong>de</strong>sorientação; outro, positivo, pois a abertura <strong>de</strong> espírito necessária para voltar atrás aponta<br />

para natureza superior e magnanimida<strong>de</strong>. Disto nos dá test<strong>em</strong>unho uc. 3. 36, quando relata<br />

que os Atenienses, que haviam <strong>de</strong>cidido executar to<strong>dos</strong> os homens <strong>de</strong> Mitilene e escravizar<br />

as mulheres e crianças, se aperceb<strong>em</strong> da cruelda<strong>de</strong> e exagero <strong>de</strong> uma tal posição e recuam. Tal<br />

comportamento <strong>de</strong>corre, segundo Plu. Moralia 799C, <strong>de</strong> o povo <strong>ateniense</strong> ser propenso à ira e e<br />

à conversão <strong>de</strong>sta <strong>em</strong> pieda<strong>de</strong>, pois prefere suspeitar primeiro e averiguar a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois. Esta<br />

maneira <strong>de</strong> ser faz-nos pensar <strong>em</strong> Édipo, que, não sendo <strong>ateniense</strong>, é talvez o ex<strong>em</strong>plo máximo<br />

daqueles que pautam as suas vidas por <strong>de</strong>cisões e ações int<strong>em</strong>pestivas. Cf. Knox (1957: 69).<br />

Sobre o caráter mo<strong>de</strong>rado <strong>dos</strong> Atenienses, vi<strong>de</strong> infra p. 128 nota 77.<br />

37 Os riscos corri<strong>dos</strong> por Atenas eram normalmente b<strong>em</strong> calcula<strong>dos</strong>. Recor<strong>de</strong>-se o discurso<br />

<strong>de</strong> Péricles (uc. 2. 40. 3): à sua audácia (), os Atenienses aliavam (além da rapi<strong>de</strong>z e<br />

iniciativa) a inteligência, ao contrário <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mais Gregos. Por isso, a audácia <strong>dos</strong> pares era por<br />

ele consi<strong>de</strong>rada ‘ignorância, estupi<strong>de</strong>z’. Segundo Plu. <strong>em</strong>. 7. 4, T<strong>em</strong>ístocles foi um <strong>dos</strong><br />

mais ilustres ex<strong>em</strong>plos da perfeita junção <strong>de</strong>stas características, fazendo com que os Atenienses<br />

se mostrass<strong>em</strong> superiores ao inimigo pela sua corag<strong>em</strong> e aos alia<strong>dos</strong> pela sua inteligência. Sobre<br />

os riscos corri<strong>dos</strong>, vi<strong>de</strong> infra p. 123.<br />

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