17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />

Vejamos, então, quais os traços inerentes aos Atenienses 23 , que os<br />

tornavam «superiores aos <strong>de</strong>mais Gregos», partindo do test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong><br />

Tucídi<strong>de</strong>s, que completar<strong>em</strong>os – s<strong>em</strong>pre que pertinente – com os <strong>de</strong> outros<br />

autores.<br />

A caracterização elogiosa que o historiador 24 faz do povo a que pertence,<br />

apesar <strong>de</strong> também ser tratada na oração fúnebre <strong>de</strong> Péricles (2. 35-46), ocorre<br />

sobretudo <strong>em</strong> dois gran<strong>de</strong>s momentos do Livro I: por ocasião da intervenção<br />

<strong>dos</strong> Coríntios (68-71) e aquando da resposta da <strong>em</strong>baixada <strong>ateniense</strong> (73-79).<br />

Esta or<strong>de</strong>m torna-se digna <strong>de</strong> reparo. Não terá sido, <strong>de</strong>certo, inocente a opção<br />

por apresentar primeiro a visão que os «outros» têm <strong>dos</strong> Atenienses, a qual<br />

consiste <strong>em</strong> um misto <strong>de</strong> ódio e admiração, e só <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, a<br />

i<strong>de</strong>ia que os visa<strong>dos</strong> têm <strong>de</strong> si mesmos. Deste modo, a própria importância <strong>dos</strong><br />

Atenienses ganha ênfase: to<strong>dos</strong> falam a seu respeito, <strong>de</strong>monstrando um não<br />

pequeno receio pelo po<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>têm e tentando convencer-se mutuamente<br />

da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer frente à ameaça que Atenas representa 25 ; no entanto,<br />

acaba por ser esta a ter a última palavra na fase <strong>de</strong> argumentação que prece<strong>de</strong><br />

a sentença <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios.<br />

Igualmente digno <strong>de</strong> reparo é o facto <strong>de</strong> os Coríntios caracterizar<strong>em</strong><br />

os Atenienses por contraste com os Lace<strong>de</strong>mónios 26 , <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte que<br />

Atenas é um inimigo digno <strong>de</strong> respeito, muito mais do que a Lace<strong>de</strong>mónia,<br />

o seu gran<strong>de</strong> adversário. Esta estratégia, além <strong>de</strong> realçar a superiorida<strong>de</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> Atenas (que surg<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre como «– ») e inferiorizar os seus eternos<br />

rivais, serve <strong>de</strong> aguilhão para incitar a pronta reação <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios que,<br />

apesar das críticas, seriam os únicos com condições para fazer frente ao po<strong>de</strong>rio<br />

<strong>ateniense</strong> 27 .<br />

23 Sobre os prós e contras da tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nir um perl <strong>ateniense</strong>, vi<strong>de</strong> Mills (1997: 43<br />

sqq.).<br />

24 Ao longo da sua obra, Tucídi<strong>de</strong>s oscila entre o elogio e a crítica a Atenas. Há passos <strong>em</strong><br />

que assume que Atenas é uma tirania (e. g. uc. 2.63, 3. 37. 1; cf. Ar. Eq. 1111-14, 1130, 1133,<br />

V. 620) e que a maioria <strong>dos</strong> Helenos, alia<strong>dos</strong> ou não, a o<strong>de</strong>iam (uc. 2. 8. 4, 11. 2).<br />

25 De acordo com os Coríntios (uc. 1. 71. 4), os Atenienses são os piores inimigos (<br />

). Segundo o éforo Estenelaí<strong>de</strong>s, é fundamental impedir que cresçam (uc. 1. 86.<br />

5) – cf. infra p. 130.<br />

26 Mais do que uma estratégia <strong>dos</strong> Coríntios, esta é uma das linhas <strong>de</strong> leitura possível da obra<br />

<strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, segundo Luginbill (1999).<br />

27 O mesmo t<strong>em</strong>a é abordado por Eurípi<strong>de</strong>s na Andrómaca, on<strong>de</strong> Menelau representa<br />

o espartano hostil, e por Isoc. 12. 41-48, que louva Atenas por ter contribuído para o<br />

engran<strong>de</strong>cimento da Grécia (cf. etiam Isoc. 4. 26 sqq.) e critica a egoísta Esparta por só pensar<br />

<strong>em</strong> causas próprias, chegando mesmo a acusá-la, ainda que <strong>de</strong> modo velado, <strong>de</strong> ter sido um<br />

obstáculo à evolução da Héla<strong>de</strong> (Isoc. 4. 20). Para mais críticas à atuação <strong>de</strong> Esparta, vi<strong>de</strong> infra<br />

nota. 49. Para mais referências ao seu egoísmo, cf. uc. 1. 74. 3 (on<strong>de</strong> é acusada <strong>de</strong> t<strong>em</strong>er pela<br />

sua sorte e não pela <strong>de</strong> Atenas), 3. 13. 7 (on<strong>de</strong> é incitada a agir para escapar à acusação <strong>de</strong> não<br />

prestar auxílio). Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso notar que, segundo Plu. Cim. 16. 4, que se baseia <strong>em</strong><br />

Estesímbroto, Címon tinha o procedimento inverso: s<strong>em</strong>pre que queria repreen<strong>de</strong>r ou exortar<br />

os Atenienses, apresentava-lhe os Lace<strong>de</strong>mónios como mo<strong>de</strong>lo.<br />

119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!