17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte IV<br />

primeira categoria, <strong>de</strong> raça pura, reforçando a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> que<br />

tinham <strong>de</strong> si próprios. Além disso, s<strong>em</strong>pre que evocavam este mito, rebaixavam<br />

os restantes Gregos 18 , apresentavam uma justicação para o ódio que nutriam<br />

pelos Bárbaros 19 e para o seu direito à heg<strong>em</strong>onia 20 .<br />

A autoctonia (referida, por ex<strong>em</strong>plo por Plu. Moralia 820A; Pl. R. 415ab,<br />

416e) congura, assim, um el<strong>em</strong>ento patriótico e cívico, que constitui<br />

um apoio fundamental à propaganda externa <strong>de</strong> Atenas e suporta a unida<strong>de</strong><br />

<strong>dos</strong> seus habitantes. De acordo com o que arma Péricles <strong>em</strong> uc. 2. 38,<br />

essa orig<strong>em</strong> é uma das principais responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

uma cultura única e original (<strong>de</strong>vido à sua autoctonia, Atenas nunca imitou<br />

ninguém). É essa mesma autoctonia, essa condição <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> inata 21 ,<br />

que – não sendo aquilo a que po<strong>de</strong>mos chamar uma virtu<strong>de</strong> moral – <strong>de</strong>sperta<br />

no povo <strong>de</strong> Atena a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e respeito<br />

pela lei, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> sair <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>dos</strong> mais fracos e oprimi<strong>dos</strong> 22 . Po<strong>de</strong>mos,<br />

por isso, armar que as virtu<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> Atenienses como que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> da sua<br />

orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> exceção e são ampliadas pelo modus vivendi por que <strong>de</strong>cidiram<br />

enveredar.<br />

18 De acordo com D. 60. 4, os <strong>de</strong>mais Gregos são lhos adotivos das cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong>, ao<br />

contrário <strong>dos</strong> Atenienses, cidadãos <strong>de</strong> nascimento legítimo. Cf. Lyc. 48.<br />

19 Cf. Pl. Mx. 245 c-d: …<br />

‘o ódio natural aos Bárbaros, porque somos Gregos puros e s<strong>em</strong> mistura com Bárbaros’. Isoc.<br />

14. 66-71 <strong>de</strong>bruça-se sobre a relação <strong>dos</strong> Atenienses com os Bárbaros e arma que estes saíram<br />

<strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong> s<strong>em</strong>pre que atacaram Atenas com o intuito <strong>de</strong>, conquistando-a, submeter <strong>em</strong><br />

simultâneo os <strong>de</strong>mais Gregos. Foi isso que aconteceu, por ex<strong>em</strong>plo, com as Amazonas (cf. Isoc.<br />

4. 68; Lys. 2. 4-6) e, mais tar<strong>de</strong>, com Dario e Xerxes (cf. Hdt. 7. 139; Lys. 2. 21-43), o que revela<br />

que os Bárbaros tinham uma conceção «atenocêntrica» da Héla<strong>de</strong>. I<strong>de</strong>ia s<strong>em</strong>elhante ocorre <strong>em</strong><br />

A. Pers. 233-234, on<strong>de</strong> o Corifeu diz à Rainha que o Rei <strong>de</strong>sejava conquistar Atenas para, assim,<br />

sujeitar toda a Grécia, e <strong>em</strong> Plu. Arist. 5.1, segundo o qual Dario envia Dátis sob o pretexto <strong>de</strong><br />

castigar Atenas, mas com a real intenção <strong>de</strong> conquistar a Grécia.<br />

20 Cf. Hdt. 7. 161: diante da pretensão siracusana <strong>de</strong> comandar a frota, os Atenienses<br />

recusam ce<strong>de</strong>r o seu posto, por possuír<strong>em</strong> a linhag<strong>em</strong> mais antiga e ser<strong>em</strong> os únicos <strong>de</strong> entre os<br />

Gregos a nunca ter mudado <strong>de</strong> território. Igual relação <strong>de</strong> causa e consequência estabelece Isoc.<br />

4. 24-25, quando <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o único povo grego com orig<strong>em</strong> no próprio solo <strong>de</strong>ve recorrer a<br />

esse argumento para reclamar o seu direito à heg<strong>em</strong>onia.<br />

21 Segundo Lys. 2. 43, a inata <strong>dos</strong> Atenienses advém da autoctonia.<br />

22 Cf. E. Heracl. 329-332: <br />

<br />

. ‘Esta terra ten<strong>de</strong>u s<strong>em</strong>pre a socorrer com justiça qu<strong>em</strong> estava <strong>em</strong> apuros. Por isso já<br />

suportou sofrimentos s<strong>em</strong> conta <strong>em</strong> prol <strong>dos</strong> amigos, e ainda agora vejo que se aproxima o<br />

momento da luta’ (tradução <strong>de</strong> Silva: 2000). Esta mesma característica é mencionada <strong>em</strong> Isoc.<br />

4. 52, on<strong>de</strong> se arma que os Atenienses s<strong>em</strong>pre lutaram pelos mais fracos e pelos suplicantes,<br />

mesmo <strong>em</strong> prejuízo <strong>dos</strong> seus interesses, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se aliar<strong>em</strong> às injustiças <strong>dos</strong> mais fortes para<br />

alcançar benefícios. Quando era <strong>caso</strong> disso, entravam <strong>em</strong> guerra por aqueles e saíam vitoriosos,<br />

o que faz com que as intervenções militares <strong>de</strong> Atenas possam ser vistas como ajuda ao próximo,<br />

<strong>de</strong>fesa da lei, punição <strong>dos</strong> maus e mais uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> , característica<br />

<strong>de</strong>senvolvida infra a partir da p. 120.<br />

118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!