17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong><br />

«even comedy can contain a kind of «anti-encomium» of Athens, which<br />

necessitates that its audience is familiar with an i<strong>de</strong>al Athens and what is<br />

typical, institutionally and otherwise, of it.»<br />

Esse louvor exacerbado <strong>dos</strong> Atenienses não era um mero exercício <strong>de</strong><br />

vaida<strong>de</strong> através do qual davam a conhecer as suas virtu<strong>de</strong>s. Servia, sobretudo,<br />

para justicar aquele que entendiam ser o seu pleno direito à heg<strong>em</strong>onia 14 , <strong>em</strong><br />

particular quando esta começou a ser contestada pelos alia<strong>dos</strong>, apesar <strong>de</strong> se<br />

ter revelado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para a Héla<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que permitiu a<br />

expulsão <strong>dos</strong> Bárbaros e a prosperida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> Helenos.<br />

Do mesmo modo que as famílias nobres procuravam valorizar a sua<br />

linhag<strong>em</strong> atribuindo a si mesmas heróis mitológicos como antepassa<strong>dos</strong>, as<br />

cida<strong>de</strong>s pretendiam fazer r<strong>em</strong>ontar as suas origens a perío<strong>dos</strong> im<strong>em</strong>oriais e ter<br />

fundadores ilustres 15 . No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Atenas, a excelência <strong>de</strong>riva da sua antiguida<strong>de</strong><br />

e do facto <strong>de</strong> os Atenienses acreditar<strong>em</strong> (e passar<strong>em</strong> por) ser o único povo<br />

grego que não resultava <strong>de</strong> fusões ou migrações nómadas 16 :<br />

<br />

17<br />

“… não têm n<strong>em</strong> sangue misturado n<strong>em</strong> sangue estrangeiro, mas os únicos <strong>de</strong><br />

entre os Gregos nasci<strong>dos</strong> no seu território…”<br />

Por isso, como único povo autóctone, que, segundo a tradição, teria<br />

brotado do solo da Ática e sido o único a aí ter habitado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre, os<br />

Atenienses tinham uma razão <strong>de</strong> monta para se consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> Gregos <strong>de</strong><br />

14 Com efeito, porque a heg<strong>em</strong>onia <strong>de</strong> Atenas r<strong>em</strong>ontava às relativamente recentes Guerras<br />

Pérsicas, os Atenienses sentiram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lhe conferir antiguida<strong>de</strong>, com o intuito <strong>de</strong><br />

reforçá-la e dignicá-la. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que Isoc. 4. 37 arme que a heg<strong>em</strong>onia <strong>de</strong><br />

Atenas é anterior à fundação da maior parte das cida<strong>de</strong>s gregas. Segundo o orador (Isoc. 4.<br />

54-57), o po<strong>de</strong>r e o caráter da – e por conseguinte, a sua heg<strong>em</strong>onia –, foram <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

muito cedo reconheci<strong>dos</strong>. Para comprová-lo, basta recordar as diferentes súplicas que lhe foram<br />

dirigidas aos longo <strong>dos</strong> t<strong>em</strong>pos, como a <strong>dos</strong> lhos <strong>de</strong> Hércules (Lys. 2. 11-16 ) e a <strong>de</strong> Adrasto<br />

(Lys. 2. 10), ou, na perspetiva <strong>de</strong> Hdt. 9. 27, os seus feitos ancestrais, como a participação na<br />

Guerra <strong>de</strong> Troia, na Amazonomaquia e o apoio dado aos Heraclidas.<br />

15 Cf. Arist. Rh. 1360 b 31: <br />

<br />

‘nobreza signica para um povo e uma cida<strong>de</strong> que a orig<strong>em</strong> <strong>dos</strong><br />

seus m<strong>em</strong>bros é autóctone ou antiga, que os seus primeiros chefes foram ilustres e que muitos<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes se ilustraram <strong>em</strong> qualida<strong>de</strong>s invejáveis’. A tradução apresentada é da autoria <strong>de</strong><br />

Júnior, Alberto – Pena (2005).<br />

16 Cf. Hdt. 7. 161; uc. 1. 2. 5, 2. 36. 1; Lys. 2. 17. Sobre a autoctonia, vi<strong>de</strong> Loraux (1979:<br />

1-26; 1996); Rosivach (1987: 294-306); Cohen (2003, <strong>em</strong> especial o segundo capítulo).<br />

17 Isoc. 12. 124.<br />

117

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!