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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte IV<br />

pejo 6 <strong>em</strong> armar a sua condição <strong>de</strong> povo superior. Disso é ex<strong>em</strong>plo o próprio<br />

Péricles, que conferiu a Atenas o título <strong>de</strong> “escola da Grécia” (por causa da sua<br />

maneira <strong>de</strong> ser e <strong>dos</strong> bons ex<strong>em</strong>plos que dava) e que também <strong>de</strong>ixou claro que<br />

o po<strong>de</strong>rio da <strong>de</strong>corria do caráter <strong>dos</strong> seus cidadãos 7 .<br />

Com efeito, os Atenienses julgavam-se senhores <strong>de</strong> uma civilização e <strong>de</strong><br />

uma maneira <strong>de</strong> ser singulares 8 , assentes <strong>em</strong> valores básicos como o bom senso,<br />

a obediência à lei, a igualda<strong>de</strong>, a audácia, a amiza<strong>de</strong>, o respeito pelos <strong>de</strong>uses,<br />

a resistência à opressão e à injustiça, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> persuasão. Não admira,<br />

pois, que as virtu<strong>de</strong>s <strong>ateniense</strong>s, antes <strong>de</strong> a oração fúnebre 9 se tornar <strong>em</strong> um<br />

género literário propício ao seu elogio, foss<strong>em</strong> evocadas <strong>de</strong> modo disperso nos<br />

diferentes textos que abordavam a gura <strong>de</strong> Teseu (que representa o espírito<br />

da Atenas i<strong>de</strong>alizada 10 ), nomeadamente na tragédia, como acontece, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, no Édipo <strong>em</strong> Colono <strong>de</strong> Sófocles ou nas Suplicantes <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s 11<br />

(on<strong>de</strong> o fundador surge como personag<strong>em</strong>), e noutras, como as Euméni<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Ésquilo 12 ou Os Heraclidas e a Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s (nas quais os soberanos <strong>de</strong><br />

Atenas, que representam o mesmo espírito, são, respetivamente, D<strong>em</strong>ofonte<br />

e Egeu). Também a narrativa e a oratória não foram alheias ao constante<br />

autoelogio <strong>dos</strong> naturais <strong>de</strong> Atenas à sua maneira <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> viver, pelo que<br />

vários outros autores – <strong>de</strong> entre os quais <strong>de</strong>stacamos Tucídi<strong>de</strong>s, Isócrates e<br />

Lísias – retrataram a imag<strong>em</strong> que os Atenienses tinham <strong>de</strong> si próprios e até<br />

a que os outros tinham <strong>de</strong>les. A própria comédia, género, por excelência,<br />

<strong>dos</strong> ataques e da ridicularização do sist<strong>em</strong>a, não consegue ser alheia a este<br />

fenómeno, como muito b<strong>em</strong> arma Mills (1997: 51) 13 :<br />

6 Antes pelo contrário: segundo Ar. Ach. 634-640, os Atenienses gostavam tanto <strong>de</strong> ser<br />

elogia<strong>dos</strong> que se <strong>de</strong>ixavam levar pelas lisonjas e se tornavam ‘cabeças <strong>de</strong> vento’.<br />

Na paródia que faz a este excesso <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>, o comediógrafo evoca o epíteto «povo coroado <strong>de</strong><br />

violetas» (cf. Ar. Eq. 1329), que foi pela primeira vez associado à beleza <strong>de</strong> Atenas por Píndaro<br />

(fr. 76 Snell). Tal elogio encheu os Atenienses <strong>de</strong> orgulho e valeu ao poeta diversas recompensas,<br />

<strong>de</strong> acordo com os test<strong>em</strong>unhos <strong>de</strong> Isoc. 15. 166 e Paus. 1. 8.4, respetivamente, o título <strong>de</strong> próxeno<br />

e <strong>de</strong>z mil dracmas e uma estátua. Aristófanes (Ach. 634-640) recorda ainda o epíteto «brilhante»<br />

(Pi. I. 2. 20), que era usado com frequência pelos diplomatas, experimenta<strong>dos</strong> conhecedores <strong>de</strong>sta<br />

sensibilida<strong>de</strong> <strong>ateniense</strong>. Também <strong>Plutarco</strong> se refere a este gosto por elogios <strong>em</strong> Moralia 799C,<br />

on<strong>de</strong> acrescenta, ao contrário do que po<strong>de</strong>ríamos imaginar, que os Atenienses não reagiam mal<br />

aos que os ridicularizavam com palavras espirituosas.<br />

7 uc. 2. 41. Segundo o estadista, o valor <strong>de</strong> Atenas era muito superior à sua fama. Sobre a<br />

perspetiva que Péricles tinha do caráter <strong>ateniense</strong>, vi<strong>de</strong> Rusten (1985: 14-19).<br />

8 Cf. infra p. 117.<br />

9 Para um aprofundamento <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> Loraux (1981) e bibliograa aí citada. É<br />

igualmente interessante consultar Ziolkowski (1981).<br />

10 Cf. supra p. 56.<br />

11 Este t<strong>em</strong>a encontra-se <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> Mills (1997: 87-185); Walker (1995: 146-193) e<br />

também <strong>em</strong> Hook (1931: 26 sqq.); Blun<strong>de</strong>ll (1993: 287-306).<br />

12 Vi<strong>de</strong> Kitto (1966: 74-115).<br />

13 Para uma visão da perspetiva que os Atenienses tinham sobre si próprios na comédia <strong>de</strong><br />

Aristófanes, nomeadamente <strong>em</strong> Acarnenses, consulte-se Silva (2007: 137-151).<br />

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