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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O triunfo da sobre o <br />

o substantivo t<strong>em</strong> o sentido <strong>de</strong> ‘inquérito, conhecimento obtido através da<br />

investigação – test<strong>em</strong>unho visual direto, informação’ (Hdt. 1. 299) e ‘relato<br />

escrito <strong>de</strong>ssas inquirições’ (vi<strong>de</strong> Hdt. 7. 96). Da mesma família é o substantivo<br />

, que, na Ilíada, <strong>de</strong>signava aqueles que assumiam a função <strong>de</strong> juízes<br />

ou árbitros, encarrega<strong>dos</strong> <strong>de</strong>, após o inquérito, <strong>de</strong>cidir qual das partes tinha<br />

razão. No século VI a.C., recebiam a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> os iónicos que,<br />

enquanto astrónomos, geógrafos ou viajantes curiosos, tentavam compreen<strong>de</strong>r<br />

a diversida<strong>de</strong> do mundo a nível humano e físico. Assim, um historiador, ou<br />

seja, alguém que escreve , é um investigador que dá o seu test<strong>em</strong>unho<br />

relativamente aos factos examina<strong>dos</strong> 7<br />

Não foi s<strong>em</strong> razão que e não se <strong>de</strong>senvolveram <strong>em</strong><br />

simultâneo, apesar <strong>de</strong>, no fundo, visar<strong>em</strong> ambos a <strong>de</strong>scrição e compreensão<br />

do passado, b<strong>em</strong> como o seu registo e o das suas consequências no presente.<br />

Conquanto possamos armar que têm a mesma função, é preciso ter <strong>em</strong> conta<br />

que correspon<strong>de</strong>m a fases distintas da evolução do pensamento grego: o mito<br />

correspon<strong>de</strong> à infância <strong>de</strong>sta civilização, à qual faltavam formas «cientícas»<br />

<strong>de</strong> justicar os acontecimentos, pelo que se recorria a episódios ou fatores<br />

sobre-humanos para explicá-los. Por isso, <strong>em</strong>bora muitas vezes tenham um<br />

fundo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, acabam por ganhar conotação <strong>de</strong> mentira, <strong>de</strong> cção, sobretudo<br />

com o advento da , que, por sua vez, surge com o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

espírito cientíco e crítico e que vai pôr <strong>em</strong> causa a tradição mítica anterior.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que o espírito cientíco, que nos leva a questionar tudo<br />

o que nos ro<strong>de</strong>ia e a tentar compreen<strong>de</strong>r racionalmente a mudança, começou<br />

por se manifestar na Iónia e por se exercer no domínio do estudo do cosmos,<br />

mas <strong>de</strong>pressa se esten<strong>de</strong>u ao campo humano e social. Foi sob o ascen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>sta nova forma <strong>de</strong> pensar – responsável pela orig<strong>em</strong> do raciocínio crítico<br />

e analítico, da observação e do inquérito – que aquilo que até então era<br />

incontestável passou a ser posto <strong>em</strong> causa. Po<strong>de</strong>mos citar três ex<strong>em</strong>plos<br />

famosos, <strong>em</strong>bora não cont<strong>em</strong>porâneos. O mais antigo pertence a Estesícoro<br />

(fr. 11 Diehl), cuja vida <strong>de</strong>correu entre os séculos VII – VI a.C., que não<br />

acredita que Helena tenha ido para Troia e que tenha sido o móbil da guerra<br />

lendária.<br />

Outro test<strong>em</strong>unho muito famoso pertence a Xenófanes <strong>de</strong> Cólofon (fr. 11<br />

Diels), que, um século mais tar<strong>de</strong>, critica a forma como a tradição mitológica<br />

retrata as divinda<strong>de</strong>s, fazendo com que não haja qualquer relação entre religião<br />

e ética, o que para este lósofo era inaceitável – os <strong>de</strong>uses não podiam ter<br />

comportamentos criticáveis à luz da moral.<br />

7 Daqui po<strong>de</strong>rmos concluir que história não estava etimologicamente relacionada com o<br />

estudo do passado. Naquela altura, aquilo a que hoje chamamos história não tinha <strong>de</strong>signação<br />

especíca. Vi<strong>de</strong> 18 sqq.<br />

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