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eferências podem ser encontradas nas obras de Homero, de Virgílio, nos textos de Platão e de Hipócrates (BREDA, 2000a; FIGUEIREDO, 1996). Em Portugal, a cultura da vinha antecede a fundação da nacionalidade (MELLO, 1992), citando BREDA (2000, p. 8) "A extensão do Império Romano para Ocidente acompanhou-se da cultura do vinho, levando o uso de fabrico e consumo a todo o Mediterrâneo Ocidental e conquistas romanas (Gália, Germânia, Península Ibérica, etc.) ". DUARTE (1993), refere que com a entrada dos Ingleses no mercado das bebidas alcoólicas no século VII, principalmente no norte do país, iniciou-se a revolução da vinha, considerada a segunda maior revolução agrária em Portugal. No início do século XX, a situação em Portugal em termos alcoólogicos agrava-se em resultado de modificações da política agrícola, do início da era Industrial com a consequente proletarização, factores económicos e miséria social que determinaram a intensificação da viticultura e o baixo preço das bebidas alcoólicas (PIRES, 1999). Nos anos 60 do século passado, no nosso país, a substância psicoactiva mais consumida era o vinho e os destilados que não eram consideradas drogas (PATRICIO, 2002), sendo o alcoolismo a principal toxicomania não socialmente integrada. Assim, o profundo enraizamento do consumo de bebidas alcoólicas na história do Homem ao longo das várias civilizações e em Portugal em particular, está intimamente ligado à cultura, religião e economia. Toda a história da Humanidade está permeada pelo consumo do álcool. De acordo com alguns registos arqueológicos, os primeiros indícios sobre o consumo do álcool pelo Homem remontam aproximadamente ao ano 6000 a.C., sendo por isso um costume muito antigo que tem persistido por milhares de anos. LAMEIRAS e PINTO (1999) referem que o Homem das cavernas terá encontrado o álcool e a embriaguez por acaso, bebendo sumos de frutos que fermentaram de um dia para o outro. Referem ainda que inicialmente as bebidas eram produzidas apenas pela fermentação e, por isso, tinham um conteúdo alcoólico relativamente baixo, como acontece com o vinho e a cerveja. Com o desenvolvimento do processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas, que passaram a ser utilizadas de forma destilada. Por serem bebidas fortes, passaram a ser consideradas como um remédio para todas as doenças, pois "dissipavam as preocupações mais rapidamente do que o vinho e a cerveja, além de produzirem um alívio mais eficiente da dor". Acrescentam que em Portugal se salientam alguns aspectos históricos, como por exemplo na época dos descobrimentos, em que o vinho era um elemento de elevada importância no comércio. É feita também referência à influência de Baco - o deus do vinho - no desenvolvimento da acção dos 86

Lusíadas, opondo-se a Vénus, no concílio dos Deuses. Terminam referindo que "a região do Douro é a primeira região demarcada de vinhos no mundo e a fundação da Real Companhia pelo Marquês de Pombal no século XVIII foi fundamental para a importância do vinho do Porto como riqueza nacional e ex-libris de todo um povo". Na nossa era o vinho torna-se objecto comercial, deixando de ser reservado a sacerdotes para servir como consumo individual e fonte de rendimento. Com esta mudança os poetas encontram no vinho fonte de inspiração, ao mesmo tempo que os mitos sociais e a ligação homem/álcool se conservam até aos dias de hoje. Com a Revolução Industrial, a bebida passou a ser produzida em série o que aumentou consideravelmente o número de consumidores e, por consequência, gerou um aumento do número de pessoas que passaram a apresentar problemas sociais causados pelo uso excessivo de álcool. O cenário Português não foi diferente em relação ás evoluções do álcool e do seu uso, não fosse a cultura da vinha no nosso país, uma tradição que antecede a fundação da nacionalidade (MELLO, 1995). DUARTE e cols (1993), descrevem como Portugal, com cerca de mil quilómetros de costa, recebeu facilmente as influências de vários povos navegadores, quer pelos seus conhecimentos quer pelos seus produtos. Na idade média, durante graves crises de alimentação e de peste, a questão cerealífera, à qual era urgente dar resposta, era colocada, em segundo plano no que respeita à cultura da vinha. "A história reza que as terras de pão têm predomínio sobre todas as culturas, excepto a vinha " (MELLO, 1995,p.31; PINTO, 2001). BARRIAS (1993, p. 71-74), DUARTE e cols. (1993, p.4), concordam que existe uma forte relação entre o vinho e o povo português que se reflecte em muitas tradições, falsos conceitos e ensinamentos traduzidos em provérbios e adágios directa ou indirectamente ligados ao álcool: "Quem tem vinho tem bom amigo", "Antes embebedar que constipar”, "Pão e vinho levam o homem a bom caminho", "A mulher e o vinho enganaram o mais fino", " Quem do vinho é amigo, cedo está perdido". Neste contexto é bem conhecida a seguinte frase: " Beber vinho é dar de comer a um milhão de Portugueses" (FIGUEIREDO, 1996, pág. 10). "O álcool é uma bebida consumida como alimento e às vezes como remédio e possui um rico significado simbólico quando usado em costumes e rituais sociais, culturais e religiosos" (EDWARDS e cols 1999,p.31) uma vez que, o produto em causa é uma" droga muito atraente na medida em que os seus efeitos imediatos são prazerosamente percebidos pelo usuário" (SHUCKIT, 1991, p.80). 87

Lusíadas, opon<strong>do</strong>-se a Vénus, no concílio <strong>do</strong>s Deuses. Terminam referin<strong>do</strong> que "a região <strong>do</strong><br />

Douro é a primeira região demarcada de vinhos no mun<strong>do</strong> e a fundação da Real Companhia<br />

pelo Marquês de Pombal no século XVIII foi fundamental para a importância <strong>do</strong> vinho <strong>do</strong><br />

Porto como riqueza nacional e ex-libris de to<strong>do</strong> um povo".<br />

Na nossa era o vinho torna-se objecto comercial, deixan<strong>do</strong> de ser reserva<strong>do</strong> a<br />

sacer<strong>do</strong>tes para servir como consumo individual e fonte de rendimento. Com esta mudança<br />

os poetas encontram no vinho fonte de inspiração, ao mesmo tempo que os mitos sociais e a<br />

ligação homem/álcool se conservam até aos dias de hoje.<br />

Com a Revolução Industrial, a bebida passou a ser produzida em série o que<br />

aumentou consideravelmente o número de consumi<strong>do</strong>res e, por consequência, gerou um<br />

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pelo uso excessivo de álcool.<br />

O cenário Português não foi diferente em relação ás evoluções <strong>do</strong> álcool e <strong>do</strong> seu<br />

uso, não fosse a cultura da vinha no nosso país, uma tradição que antecede a fundação da<br />

nacionalidade (MELLO, 1995). DUARTE e cols (1993), descrevem como Portugal, com cerca<br />

de mil quilómetros de costa, recebeu facilmente as influências de vários povos navega<strong>do</strong>res,<br />

quer pelos seus conhecimentos quer pelos seus produtos. Na idade média, durante graves<br />

crises de alimentação e de peste, a questão cerealífera, à qual era urgente dar resposta, era<br />

colocada, em segun<strong>do</strong> plano no que respeita à cultura da vinha. "A história reza que as<br />

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PINTO, 2001).<br />

BARRIAS (1993, p. 71-74), DUARTE e cols. (1993, p.4), concordam que existe uma<br />

forte relação entre o vinho e o povo português que se reflecte em muitas tradições, falsos<br />

conceitos e ensinamentos traduzi<strong>do</strong>s em provérbios e adágios directa ou indirectamente<br />

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e vinho levam o homem a bom caminho", "A mulher e o vinho enganaram o mais fino", "<br />

Quem <strong>do</strong> vinho é amigo, ce<strong>do</strong> está perdi<strong>do</strong>". Neste contexto é bem conhecida a seguinte<br />

frase: " Beber vinho é dar de comer a um milhão de Portugueses" (FIGUEIREDO, 1996, pág.<br />

10).<br />

"O álcool é uma bebida consumida como alimento e às vezes como remédio e possui<br />

um rico significa<strong>do</strong> simbólico quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> em costumes e rituais sociais, culturais e<br />

religiosos" (EDWARDS e cols 1999,p.31) uma vez que, o produto em causa é uma" droga<br />

muito atraente na medida em que os seus efeitos imediatos são prazerosamente percebi<strong>do</strong>s<br />

pelo usuário" (SHUCKIT, 1991, p.80).<br />

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