Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

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conceptualiza um conjunto de distúrbios psicológicos, distribuídos por uma dimensão compulsividade/impulsividade, correspondendo a compulsividade a um evitamento do risco e a um esbatimento da ansiedade e a impulsividade a uma procura do risco e do prazer. Nesta perspectiva dimensional, as chamadas adições comportamentais estariam colocadas no extremo impulsivo mas, para se compreenderem na sua totalidade estes comportamentos, não pode descurar-se a envolvente social. PATRÍCIO (2002) defende as seguintes causas de dependência: Acessibilidade - Para o consumo de uma determinada substância, é fundamental a possibilidade de um acesso fácil. A extensão dos comportamentos de consumo depende da sua legalidade e da disponibilidade imediata daquilo que se consome. Os interesses económicos, que se alimentam destes comportamentos promovem tanto a sua produção como a sua promoção dependendo estas, para serem eficazes, de uma atmosfera social favorável. Factores de personalidade - Determinados tipos de personalidade em que predominam características de impulsividade ou de compulsividade podem, com maior facilidade, desenvolver comportamentos repetitivos orientados para a procura do prazer ou para o alívio de estados emocionais desagradáveis. Factores situacionais - Situações de crise pessoal e social, geradoras de sofrimento psicológico e de vivências de vazio existencial, criam as condições ideais para indivíduos mais vulneráveis, procurarem através de determinados consumos o alívio das suas frustrações e inseguranças e o preenchimento do vazio existencial. Características dos consumos - Para que se generalize um consumo tem que obedecer a determinadas características como: ser legal (sua utilização não acarrete a marginalizarão do consumidor), não ser demasiado dispendioso (o que permitirá uma maior difusão e impedirá que o consumidor resvale para comportamentos ilegais) e que as consequências negativas do consumo não se façam sentir a curto e médio prazo para que deixem passar uma imagem clara de inocuidade do seu consumo moderado. Como referido anteriormente, os consumos possuem várias características: são de fácil acessibilidade, são legais, movimentam poderosos interesses económicos e partilham reforços internos (o prazer do consumo) e externos (a aprovação e estimulações sociais). É evidente que o seu consumo possui regras, nomeadamente a idade de acesso, mas, paradoxalmente, esta é um factor condicionante na estruturação da personalidade. Ao longo do seu desenvolvimento a criança vive rodeada de adultos que bebem e com estimulação social para estes comportamentos tendo-se em seu redor desenvolvido uma indústria paralela que confecciona os mais requintados e belos objectos, e embora acessórios, contribuem para aumentar o encanto dos rituais de consumo e constituem excelentes ofertas para ocasiões especiais quando se pretende agradar a alguém. Em 1985, ORFORD compara o alcoolismo à dependência de outras drogas (incluindo a nicotina). O factor comum ás drogas e aos comportamentos que podem desenvolver dependência é o seu potencial para produzir prazer ou, pelo menos, aliviar alguns estados emocionais desagradáveis. As seguintes citações de VAZ (2002 b) ilustram como determinados estilos de vida, característicos duma sociedade em crise de valores, são o cadinho em que se desenvolve a dependência: "[...] mas parece-me que o desencanto reina 82

sem levantamento popular à vista, considerado inevitável, como o stress. [...]. Amiúde atafulhados em sinais exteriores de riqueza e nem por isso pacificados. [...] Mas numa sociedade em que o bem-estar depende, primordialmente, do que nos é exterior, seja a grande superfície ou o dealer..." (2002-a); "Vivemos depressa e mal; empilhados mas sozinhos; tudo consumindo e no entanto horrorosamente vazios". Já em 1956, o psiquiatra, Erich Fromm, atribuía os consumos compensadores, à incapacidade em se estar só: "o homem moderno transformou-se numa matéria-prima; ele vive a sua energia vital como sendo um investimento que deve render o mais possível, tendo em conta a sua situação e a sua posição no mercado da personalidade. Está alienado de si mesmo, dos seus semelhantes e da natureza. [...] Não há objectivo da vida senão o de progredir, não há princípios senão os do mercado livre e não há satisfação senão a do consumo. [...] Podemos fazer as mais diversas coisas ao mesmo tempo: ler, ouvir rádio, falar, fumar, comer, beber. Cada um de nós é um consumidor de boca aberta, desejoso de engolir tudo - arte, bebida, conhecimento. Esta falta de concentração é evidente na nossa incapacidade em suportar a solidão. [...] Na verdade, concentrar-se significa ser capaz de estar sozinho consigo mesmo - e esta capacidade é uma pré-condição para a capacidade de amar." Esta incapacidade em suportar a solidão, terá a sua origem na dificuldade do ser humano em lidar com angústias, inerentes à existência, sobretudo as relacionadas com a morte. Assim, o ser humano é a construção mais cruel da natureza. Nasce com um handicap horrível, sabe que inevitavelmente morre, não sabe quando, não sabe como e não sabe o que o espera depois da morte! O álcool, e os consumos em geral, são estratagemas para reduzir a tensão e tornar mais suportável o insuportável. Mas, o seu risco potencial, torna-se real quando a poderosa maquinaria das sociedades de consumo, os transforma em elementos estruturantes do desenvolvimento psicossocial individual. De entre as classificações das diversas substâncias consideradas drogas, o álcool pertence ao grupo das drogas depressoras do sistema nervoso central, e compreende um conjunto de substâncias, que têm em comum, a sua capacidade para dificultar o funcionamento habitual do cérebro, provocando reacções que podem ir desde a desinibição até ao coma num processo progressivo de adormecimento cerebral. Não é um estimulante, como por vezes se crê pois a euforia inicial, deve-se ao facto de a sua primeira acção inibidora se produzir sobre os centros cerebrais responsáveis pelo autocontrol. BREDA (2000) e RUIZ (2002), referem-se, ao desconhecimento das pessoas sobre o álcool ser considerado uma droga psicotrópica, pois ele actua no Sistema Nervoso Central, alterando o comportamento de quem o consome, além de ter o potencial necessário para desenvolver dependência. De facto, o álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que 83

sem levantamento popular à vista, considera<strong>do</strong> inevitável, como o stress. [...]. Amiúde<br />

atafulha<strong>do</strong>s em sinais exteriores de riqueza e nem por isso pacifica<strong>do</strong>s. [...] Mas numa<br />

sociedade em que o bem-estar depende, primordialmente, <strong>do</strong> que nos é exterior, seja a<br />

grande superfície ou o dealer..." (2002-a); "Vivemos depressa e mal; empilha<strong>do</strong>s mas<br />

sozinhos; tu<strong>do</strong> consumin<strong>do</strong> e no entanto horrorosamente vazios".<br />

Já em 1956, o psiquiatra, Erich Fromm, atribuía os consumos compensa<strong>do</strong>res, à<br />

incapacidade em se estar só:<br />

"o homem moderno transformou-se numa matéria-prima; ele vive a sua energia<br />

vital como sen<strong>do</strong> um investimento que deve render o mais possível, ten<strong>do</strong> em conta a<br />

sua situação e a sua posição no merca<strong>do</strong> da personalidade. Está aliena<strong>do</strong> de si<br />

mesmo, <strong>do</strong>s seus semelhantes e da natureza. [...] Não há objectivo da vida senão o de<br />

progredir, não há princípios senão os <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> livre e não há satisfação senão a <strong>do</strong><br />

consumo. [...] Podemos fazer as mais diversas coisas ao mesmo tempo: ler, ouvir rádio,<br />

falar, fumar, comer, beber. Cada um de nós é um consumi<strong>do</strong>r de boca aberta, desejoso<br />

de engolir tu<strong>do</strong> - arte, bebida, conhecimento. Esta falta de concentração é evidente na<br />

nossa incapacidade em suportar a solidão. [...] Na verdade, concentrar-se significa ser<br />

capaz de estar sozinho consigo mesmo - e esta capacidade é uma pré-condição para a<br />

capacidade de amar."<br />

Esta incapacidade em suportar a solidão, terá a sua origem na dificuldade <strong>do</strong> ser<br />

humano em lidar com angústias, inerentes à existência, sobretu<strong>do</strong> as relacionadas com a<br />

morte. Assim, o ser humano é a construção mais cruel da natureza. Nasce com um handicap<br />

horrível, sabe que inevitavelmente morre, não sabe quan<strong>do</strong>, não sabe como e não sabe o<br />

que o espera depois da morte!<br />

O álcool, e os consumos em geral, são estratagemas para reduzir a tensão e tornar<br />

mais suportável o insuportável. Mas, o seu risco potencial, torna-se real quan<strong>do</strong> a poderosa<br />

maquinaria das sociedades de consumo, os transforma em elementos estruturantes <strong>do</strong><br />

desenvolvimento psicossocial individual.<br />

De entre as classificações das diversas substâncias consideradas drogas, o álcool<br />

pertence ao grupo das drogas depressoras <strong>do</strong> sistema nervoso central, e compreende um<br />

conjunto de substâncias, que têm em comum, a sua capacidade para dificultar o<br />

funcionamento habitual <strong>do</strong> cérebro, provocan<strong>do</strong> reacções que podem ir desde a desinibição<br />

até ao coma num processo progressivo de a<strong>do</strong>rmecimento cerebral. Não é um estimulante,<br />

como por vezes se crê pois a euforia inicial, deve-se ao facto de a sua primeira acção<br />

inibi<strong>do</strong>ra se produzir sobre os centros cerebrais responsáveis pelo autocontrol.<br />

BREDA (2000) e RUIZ (2002), referem-se, ao desconhecimento das pessoas sobre o<br />

álcool ser considera<strong>do</strong> uma droga psicotrópica, pois ele actua no Sistema Nervoso Central,<br />

alteran<strong>do</strong> o comportamento de quem o consome, além de ter o potencial necessário para<br />

desenvolver dependência. De facto, o álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que<br />

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