Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

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aixa (desagregação), sendo a troca de informação prejudicada pela existência de segredos ou pela dificuldade de cada um se fazer ouvir. Poucos são, os que, no seu seio, se compenetram no papel que lhes cabe dentro dessa estrutura. Os seus membros possuem uma visão egocêntrica da vida, sempre à espera de ver as suas necessidades satisfeitas, de receber, e pouco disponíveis para dar. Se cada um desconhecer a sua posição, o seu papel e as suas responsabilidades, dificilmente esta família poderá prosperar. Na opinião de ESTEVES (2001), a família patriarcal é comparada a um grupo que luta pela sua conservação e contribui com o seu esforço para ultrapassar as necessidades que se lhe deparam. Possui estrutura e estabilidade, pois cada elemento ocupa o seu devido lugar e assume as suas responsabilidades específicas. Neste tipo de família, os núcleos familiares são bastante alargados e de alguma abrangência, pois inclui sempre várias gerações. Assiste-se a uma transferência de conhecimentos obtidos através da experiência mas que se mostram úteis em circunstâncias mais difíceis. O sentido de identidade própria é marcante, pois cada elemento adquire um sentimento de pertencer a um grupo distinto dos demais, mas, ao mesmo tempo, o faz sentir seguro porque tem a sua família à qual poderá sempre retornar, mesmo após um período de ausência. Para o autor citado, a família actual é basicamente nuclear, com algumas características negativas, nomeadamente a fragilidade. A génese destas famílias deve-se em grande medida à diminuição da taxa de natalidade e à crescente impossibilidade de vivência com os mais idosos, levando a um núcleo central pobre devido à sua diminuta dimensão para passar valores às novas gerações. A família é hoje entendida como um empreendimento temporário sujeito a interesses pessoais, que com alguma naturalidade pode ser desfeita, sem uma avaliação rigorosa das consequências. É o que acontece com a crescente vulgarização do divórcio e roturas profundas entre pais e filhos, emergindo daí as famílias monoparentais. Verifica-se também, em relação ás famílias de hoje, uma forte descaracterização, podendo ser considerado um drama viver numa família em que não se sente qualquer tipo de identificação com ela, traduzindo-se numa sensação de solidão, que muitas vezes só é compensada com a inserção descontrolada do jovem em certos grupos ditos marginais, ou apresentando comportamentos que visem chamar a atenção dos seus progenitores. Daí que outras estruturas tais como a escola ou o estado, venham a assumir o papel que a família já não consegue desempenhar. Os divórcios parentais, o desentendimento parental crónico, e a doença mental parental constituem para o adolescente sofrimento psíquico, traduzindo-se segundo 58

MARCELLI e BRACONIER (1992) em manifestações depressivas e toda uma sintomatologia ligada à depressão como tristeza, oscilação de humor, dificuldade de concentração, fatigabilidade, isolamento, fracasso escolar, anorexia e insónia, e ainda em algumas dificuldades psicológicas que podem conduzir a suicídio, toxicodependência e condutas do tipo psicopático. As questões litigiosas, as disputas e as cenas de violência, são particularmente traumatizantes para o adolescente, provocando-lhe uma sensação penosa de abandono e solidão e mesmo alterações no desenvolvimento e maturidade. Os mesmos autores são da opinião que a perda de um dos pais, constitui um factor de risco. As relações directas, reduzidas e breves tornam-se cheias de inquietações e de ansiedade, logo, mais propícios a conflitos da que a aproximações confiantes e afectuosas. Nesta perspectiva, quanto mais um adolescente manifestar um comportamento patológico ou desviante, mais as relações entre este e seus pais se mostrarão insatisfatórias e conflituosas. Esta conflitualidade, faz parte do movimento psico-afectivo do adolescente, referindo LIDZ citado por MARCELLI e BRACONIER (1992, p. 304), que "a violência da revolta é muitas vezes uma medida da pressão necessária para vencer os laços que unem o adolescente aos seus pais, mais do que um índice da sua hostilidade em relação a eles.". De acordo com MATOS (2001), o conflito familiar é uma característica do processo de separação/autonomia do adolescente ou seja, a sua capacidade em separar-se ou mover-se para fora da relação com os pais. FISHMAN (1996, pág. 7), diz que “a existência de um adolescente com problemas numa família, funciona como o canário silencioso dentro de uma mina, ele é um aviso de que existem problemas no sistema. Além de ser intensamente afectado pelo contexto familiar, o adolescente por sua vez afecta o contexto do qual faz parte." Diversos estudos mostram que os motivos de desacordo não variaram muito nos últimos cem anos, mas, as transformações sociais do nosso tempo contribuíram para complicar a relação pais/filhos e a condição de filho único tão comum nos nossos tempos, torna mais difícil o processo de separação/individuação e mais conflitual a interacção com os pais (MARCELLI e BRACONIER, 1992). Para os mesmos autores, na família monoparental os problemas de identificação encontrados pelo adolescente são particularmente marcantes, sobretudo pela ausência de uma imagem possível de identificação positiva, correndo riscos de uma identificação negativa em ambos os sexos. Apesar do adolescente estar decidido a encontrar a sua própria identidade, na realidade, não se afasta dos valores, crenças e atitudes apreendidos no seio da sua família, embora e segundo CORDEIRO (1979), no seu processo de maturação conteste os hábitos e 59

aixa (desagregação), sen<strong>do</strong> a troca de informação prejudicada pela existência de segre<strong>do</strong>s<br />

ou pela dificuldade de cada um se fazer ouvir. Poucos são, os que, no seu seio, se<br />

compenetram no papel que lhes cabe dentro dessa estrutura. Os seus membros possuem<br />

uma visão egocêntrica da vida, sempre à espera de ver as suas necessidades satisfeitas, de<br />

receber, e pouco disponíveis para dar. Se cada um desconhecer a sua posição, o seu papel<br />

e as suas responsabilidades, dificilmente esta família poderá prosperar.<br />

Na opinião de ESTEVES (2001), a família patriarcal é comparada a um grupo que<br />

luta pela sua conservação e contribui com o seu esforço para ultrapassar as necessidades<br />

que se lhe deparam. Possui estrutura e estabilidade, pois cada elemento ocupa o seu devi<strong>do</strong><br />

lugar e assume as suas responsabilidades específicas.<br />

Neste tipo de família, os núcleos familiares são bastante alarga<strong>do</strong>s e de alguma<br />

abrangência, pois inclui sempre várias gerações. Assiste-se a uma transferência de<br />

conhecimentos obti<strong>do</strong>s através da experiência mas que se mostram úteis em circunstâncias<br />

mais difíceis. O senti<strong>do</strong> de identidade própria é marcante, pois cada elemento adquire um<br />

sentimento de pertencer a um grupo distinto <strong>do</strong>s demais, mas, ao mesmo tempo, o faz sentir<br />

seguro porque tem a sua família à qual poderá sempre retornar, mesmo após um perío<strong>do</strong> de<br />

ausência.<br />

Para o autor cita<strong>do</strong>, a família actual é basicamente nuclear, com algumas<br />

características negativas, nomeadamente a fragilidade. A génese destas famílias deve-se<br />

em grande medida à diminuição da taxa de natalidade e à crescente impossibilidade de<br />

vivência com os mais i<strong>do</strong>sos, levan<strong>do</strong> a um núcleo central pobre devi<strong>do</strong> à sua diminuta<br />

dimensão para passar valores às novas gerações.<br />

A família é hoje entendida como um empreendimento temporário sujeito a interesses<br />

pessoais, que com alguma naturalidade pode ser desfeita, sem uma avaliação rigorosa das<br />

consequências. É o que acontece com a crescente vulgarização <strong>do</strong> divórcio e roturas<br />

profundas entre pais e filhos, emergin<strong>do</strong> daí as famílias monoparentais.<br />

Verifica-se também, em relação ás famílias de hoje, uma forte descaracterização,<br />

poden<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong> um drama viver numa família em que não se sente qualquer tipo<br />

de identificação com ela, traduzin<strong>do</strong>-se numa sensação de solidão, que muitas vezes só é<br />

compensada com a inserção descontrolada <strong>do</strong> jovem em certos grupos ditos marginais, ou<br />

apresentan<strong>do</strong> comportamentos que visem chamar a atenção <strong>do</strong>s seus progenitores. Daí que<br />

outras estruturas tais como a escola ou o esta<strong>do</strong>, venham a assumir o papel que a família já<br />

não consegue desempenhar.<br />

Os divórcios parentais, o desentendimento parental crónico, e a <strong>do</strong>ença mental<br />

parental constituem para o a<strong>do</strong>lescente sofrimento psíquico, traduzin<strong>do</strong>-se segun<strong>do</strong><br />

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