Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ... Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

repositorio.aberto.up.pt
from repositorio.aberto.up.pt More from this publisher
17.04.2013 Views

1 - ADOLESCÊNCIA O termo adolescência deriva do latim ad (a, para) e olescere (crescer), referindo-se assim ao processo de crescimento OUTEIRAL, (1982). Etimologicamente, adolescere significa crescer, o que não clarifica totalmente, uma vez que, em certa medida estamos sempre a crescer. O que talvez identifique melhor esta fase é a celeridade da mudança (SANTOS, 1999). Também PINTO (1998, p. 22), reforça a ideia, que na adolescência se assiste a uma mudança tumultuosa que surpreende o próprio adolescente. Conscientes da importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento futuro do indivíduo, a partir da década de 60/70 os investigadores dedicaram-se a estudar a adolescência. Porém, este período de vida nunca foi ignorado, pois já Aristóteles lhe fez alusão, descrevendo os jovens como seres com características específicas que vão da autoconfiança ao sentido de solidariedade, inter-ajuda e comportamento estereotipado (OFFER e BOXER, 1995). Conforme veremos adiante, a adolescência tem sido alvo da atenção dos investigadores nas últimas décadas, uma vez que é uma fase primordial do desenvolvimento do Ser Humano. OFFER e BOXER (1995), afirmam que a adolescência é considerada como uma fase crítica do curso da vida merecedora de atenção e estudo e não apenas uma transição entre a infância e a idade adulta. A adolescência é habitualmente definida como um período de transição do desenvolvimento humano entre a infância e a maturidade física, psíquica e social que caracteriza o estatuto do adulto (MATOS e cols. 2000). Para HUERRE, cols (2000), é no século XVII que se dá início à aquisição da actual acepção de adolescência, que só veio a estabilizar-se em meados do século XIX, dado que até então, se observava uma passagem directa da infância para a idade adulta, mas é só entre 1865 e 1880 que a palavra “adolescência” passa a fazer parte do dicionário. Com efeito, na Idade Média não se falava em adolescência. Rousseau em “Emílio”, nos finais do século XVII faz pela primeira vez a distinção entre infância, adolescência e idade adulta, considerando a adolescência como um problema psicológico e pedagógico. A revolução industrial acarretou grandes alterações na estrutura familiar que contribuíram para o aparecimento do conceito de adolescência (MARTINS, 1995). CLAES (1985, p.7), também advoga que o termo adolescência emerge com a revolução industrial, situando-a entre a infância e a idade adulta, mas OFFER e BOXER (1995) referem que 30

surge essencialmente no século XX, definindo-a como um “período de transição em que a pessoa já não é mais criança e ainda não é um adulto" (MALDONADO, 1994, p. 27). No entanto, LEPRE (2003), remontando o seu estudo ao Império Romano (século I d.C.), considera que o nascimento de um romano não era o suficiente para que este ocupasse um lugar no mundo. Era necessário que o pai o quisesse e o recebesse para que iniciasse então, a sua educação e consequente colocação na aristocracia romana. Logo após o nascimento, a criança era entregue a uma ama, a quem competia a responsabilidade pela sua educação até a puberdade. Esta educação era extremamente rígida e tinha como objectivo a formação do carácter. Só quando atingia os 14 anos é que o jovem romano abandonava as vestes infantis e passava a ter o direito de fazer o que um jovem gostava de fazer. Aos 17 anos podia entrar para a carreira pública. Não havia um marco que separasse a criança do adolescente, pois isso, era decidido pelo pai, quando este achasse que tinha chegado a altura do jovem abandonar as vestes de criança e vestir as de homem. Ainda para a mesma autora, durante a Idade Média, não existia nenhum período de transição entre a infância e a idade adulta. O chamado jovem era o recém entrado no mundo adulto, o que era feito através de uma cerimónia que se seguia ao primeiro barbear do rapaz chamada de "barbatona", sendo que o pêlo era a prova de que a criança se tornara homem e, então, a qualidade da agressividade poderia ser cultivada, objectivando a boa formação do guerreiro. A "noite da alta idade média" foi marcada pelo monopólio da Igreja e pela ascensão da violência, uma vez, que só essa, permitia a sobrevivência e o jovem adulto era preparado para exercer a sua virilidade através da habilidade em matar e da disponibilidade para morrer, se assim fosse preciso. Embora nesta época já existisse uma classificação dos diferentes períodos da vida (infância e puerilidade, juventude e adolescência, velhice e senilidade), não havia ainda, lugar para a adolescência, que era confundida com a infância. Foi apenas no século XVIII que apareceram as primeiras tentativas de definição de adolescência. Mas, é somente no século XX que se vê nascer o adolescente tipicamente moderno exprimindo uma mistura de pureza provisória, força física, espontaneidade e alegria de viver, o que o tornou o herói do século XX - o "século da adolescência". A partir de então, passou a haver interesse sobre o que o adolescente pensa, faz e sente. Definiu-se claramente a puberdade e as mudanças psíquicas, para que se tivesse a imagem do adolescente actual. Segundo CHAGAS (2003), há autores segundo os quais a adolescência diz respeito a um processo cultural e, assim referida, poderá ser considerada como um fenómeno moderno que surgiu e se desenvolveu nos E.U.A. a partir do início do século XX. Esta posição propõe uma compreensão da adolescência como uma invenção da modernidade. 31

surge essencialmente no século XX, definin<strong>do</strong>-a como um “perío<strong>do</strong> de transição em que a<br />

pessoa já não é mais criança e ainda não é um adulto" (MALDONADO, 1994, p. 27).<br />

No entanto, LEPRE (2003), remontan<strong>do</strong> o seu estu<strong>do</strong> ao Império Romano (século I<br />

d.C.), considera que o nascimento de um romano não era o suficiente para que este<br />

ocupasse um lugar no mun<strong>do</strong>. Era necessário que o pai o quisesse e o recebesse para que<br />

iniciasse então, a sua educação e consequente colocação na aristocracia romana. Logo<br />

após o nascimento, a criança era entregue a uma ama, a quem competia a responsabilidade<br />

pela sua educação até a puberdade. Esta educação era extremamente rígida e tinha como<br />

objectivo a formação <strong>do</strong> carácter. Só quan<strong>do</strong> atingia os 14 anos é que o jovem romano<br />

aban<strong>do</strong>nava as vestes infantis e passava a ter o direito de fazer o que um jovem gostava de<br />

fazer. Aos 17 anos podia entrar para a carreira pública. Não havia um marco que separasse<br />

a criança <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, pois isso, era decidi<strong>do</strong> pelo pai, quan<strong>do</strong> este achasse que tinha<br />

chega<strong>do</strong> a altura <strong>do</strong> jovem aban<strong>do</strong>nar as vestes de criança e vestir as de homem.<br />

Ainda para a mesma autora, durante a Idade Média, não existia nenhum perío<strong>do</strong> de<br />

transição entre a infância e a idade adulta. O chama<strong>do</strong> jovem era o recém entra<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong><br />

adulto, o que era feito através de uma cerimónia que se seguia ao primeiro barbear <strong>do</strong> rapaz<br />

chamada de "barbatona", sen<strong>do</strong> que o pêlo era a prova de que a criança se tornara homem<br />

e, então, a qualidade da agressividade poderia ser cultivada, objectivan<strong>do</strong> a boa formação<br />

<strong>do</strong> guerreiro. A "noite da alta idade média" foi marcada pelo monopólio da Igreja e pela<br />

ascensão da violência, uma vez, que só essa, permitia a sobrevivência e o jovem adulto era<br />

prepara<strong>do</strong> para exercer a sua virilidade através da habilidade em matar e da disponibilidade<br />

para morrer, se assim fosse preciso. Embora nesta época já existisse uma classificação <strong>do</strong>s<br />

diferentes perío<strong>do</strong>s da vida (infância e puerilidade, juventude e a<strong>do</strong>lescência, velhice e<br />

senilidade), não havia ainda, lugar para a a<strong>do</strong>lescência, que era confundida com a infância.<br />

Foi apenas no século XVIII que apareceram as primeiras tentativas de definição de<br />

a<strong>do</strong>lescência. Mas, é somente no século XX que se vê nascer o a<strong>do</strong>lescente tipicamente<br />

moderno exprimin<strong>do</strong> uma mistura de pureza provisória, força física, espontaneidade e alegria<br />

de viver, o que o tornou o herói <strong>do</strong> século XX - o "século da a<strong>do</strong>lescência". A partir de então,<br />

passou a haver interesse sobre o que o a<strong>do</strong>lescente pensa, faz e sente. Definiu-se<br />

claramente a puberdade e as mudanças psíquicas, para que se tivesse a imagem <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente actual.<br />

Segun<strong>do</strong> CHAGAS (2003), há autores segun<strong>do</strong> os quais a a<strong>do</strong>lescência diz respeito<br />

a um processo cultural e, assim referida, poderá ser considerada como um fenómeno<br />

moderno que surgiu e se desenvolveu nos E.U.A. a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX. Esta<br />

posição propõe uma compreensão da a<strong>do</strong>lescência como uma invenção da modernidade.<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!