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do conceito de crença, continua a verificar-se uma utilização indiscriminada dos dois termos, referindo-se à mesma variável mediacional (GOUVEIA e cols. 1991 e 1993 e BECK e cols. 1993). Retomando os trabalhos de TOLMAN, define-se expectativa como a aprendizagem de uma relação entre um estímulo inicial (elicitador), a resposta e a consequência esperada da resposta (resultado) na presença do elicitador. ROTTER (1954), citado pelo mesmo autor, inclui na definição da expectativa a noção subjectiva de probabilidade e em 1981 defende que as expectativas se podem estabilizar face a determinados estímulos perante uma relação repetida de situação-comportamento- reforço, tornando-se depois difícil de mudar, assim como ao comportamento por ela mediado mesmo que as consequências da acção não sejam coincidentes. Assim, a modificação do comportamento de beber, não pode ser atingida sem a modificação das expectativas mantidas acerca dos efeitos do álcool. GOLMAN e cols. (1987, p. 184), definem expectativa como “a probabilidade construída pelo indivíduo que um reforço particular ocorrerá em função de um seu comportamento específico numa situação específica” e BANDURA (1977ª), define-a como aquilo que o indivíduo espera que aconteça, distinguindo dois tipos: expectativa de auto- eficácia – o que o indivíduo pode vir a fazer e expectativas de resultados – o que o indivíduo espera que venha a acontecer como consequência de uma acção. A transição de um consumo ocasional para um abuso é influenciada, para além de outros factores, pelas crenças individuais (BECK e cols. 1993), pelo que os tipos de expectativas definidos por BANDURA são motivo de atenção de muitos investigadores (GOUVEIA e cols. 1993; STACY e cols. 1996 e CARVALHO e cols. 1996). Assim, o conceito de expectativa de auto-eficácia, é a expectativa do indivíduo em relação à capacidade de lidar com uma situação ou tarefa próximas (MARLATT, 1985b, p. 40). O autor diz tratar-se de um processo cognitivo que engloba a percepção de juízos de avaliação das pessoas e da sua competência sobre um bom desempenho em tarefas específicas, acrescentando ainda que é uma variável mediadora do comportamento. Numa outra caracterização, a auto-eficácia é definida pelo autor da seguinte forma “diz respeito a juízos acerca de quão bem podemos organizar e executar sequências de acção requeridas para lidar com situações antecipadas que contêm muitos elementos ambíguos, imprevisíveis e frequentemente stressantes (BANDURA, 1981,pp.200-201; citado por MARLATT, 1985). O conceito de expectativa de Auto-Eficácia, no que respeita ao alcoolismo, traduz a percepção que o sujeito alcoólico possui acerca da sua capacidade para lidar com situações de alto risco, sem beber. Compreende comportamentos de alta auto-eficácia “eu posso 192

efectivamente lidar com esta situação sem beber” ou “eu disse não ao álcool” que estão associados com a abstinência e comportamentos de baixa auto-eficácia “eu sou um escravo do álcool” ou “eu não aguento este dia sem beber” associados com a recaída, que variam directamente em função do sucesso (MARLATT e GORDON, 1985). Neste âmbito a utilização do conceito de auto-eficácia e de expectativas, permite-nos compreender que a probabilidade de um indivíduo beber numa determinada situação, aumentará de forma proporcional de acordo com a percepção da sua capacidade de lidar com essa situação e de possuir expectativas de que o álcool lhe vai originar efeitos que o ajudarão a lidar com essa situação (diminuição da ansiedade, etc.). Perante uma situação de alto risco, em que o sujeito é capaz de activar uma resposta de coping cognitiva ou comportamental eficaz, vivenciará um aumento da percepção de controlo e lidará de forma adequada com a situação sem recurso a álcool, possibilitando-lhe o desenvolvimento de expectativas positivas de lidar de forma adequada em situações futuras (MARLATT, 1985 a). Para o autor, a expectativa de ser capaz de lidar com sucessivas situações de alto risco conforme estas vão surgindo, é semelhante à noção de auto-eficácia desenvolvida por BANDURA em 1977, quando afirma que o indivíduo, assume um aumento de auto-confiança nas suas próprias aptidões para lidar eficazmente com situações de alto risco, o que se traduz num aumento da percepção de auto-eficácia (BANDURA, 1981). Também em programas de tratamento, a percepção de auto-eficácia para a mudança, é um dos determinantes da motivação, pois se possuir a percepção de que é capaz e a competência para tal, a motivação aumenta. Por outro lado, se apesar de compreender as vantagens da mudança e da ajuda do terapeuta se sentir incapaz de manter os objectivos (abstinência ou bebida moderada), a motivação diminui. Nesta fase, ao fornecer ao doente a expectativa de que perante um deslize voltará novamente a beber segundo o padrão anterior, está-se a aumentar a dissonância cognitiva entre o que se espera dele para manter a abstinência e aquilo que ele se sente capaz de conseguir, conduzido a uma diminuição de auto-eficácia e à violação da abstinência e por consequência, à recaída. O papel do terapeuta, nesta fase, é o de criar expectativas realistas demonstrando- lhes que pessoas que deixaram de beber têm com frequência episódios de deslize ao longo do processo, não podendo este ser entendido como “estraguei tudo”, mas sim como um acontecimento esperado, associado a uma situação de risco e para a qual tem de estar preparado (aprender a identificá-la e a enfrentá-la, de acordo com as alternativas possíveis para lidar com essa situação). Assim, perante um episódio de ingestão de álcool, pretende- se minimizar os seus efeitos e impedir que tal facto funcione como um passo para o retorno 193

efectivamente lidar com esta situação sem beber” ou “eu disse não ao álcool” que estão<br />

associa<strong>do</strong>s com a abstinência e comportamentos de baixa auto-eficácia “eu sou um escravo<br />

<strong>do</strong> álcool” ou “eu não aguento este dia sem beber” associa<strong>do</strong>s com a recaída, que variam<br />

directamente em função <strong>do</strong> sucesso (MARLATT e GORDON, 1985). Neste âmbito a<br />

utilização <strong>do</strong> conceito de auto-eficácia e de expectativas, permite-nos compreender que a<br />

probabilidade de um indivíduo beber numa determinada situação, aumentará de forma<br />

proporcional de acor<strong>do</strong> com a percepção da sua capacidade de lidar com essa situação e de<br />

possuir expectativas de que o álcool lhe vai originar efeitos que o ajudarão a lidar com essa<br />

situação (diminuição da ansiedade, etc.).<br />

Perante uma situação de alto risco, em que o sujeito é capaz de activar uma resposta<br />

de coping cognitiva ou comportamental eficaz, vivenciará um aumento da percepção de<br />

controlo e lidará de forma adequada com a situação sem recurso a álcool, possibilitan<strong>do</strong>-lhe<br />

o desenvolvimento de expectativas positivas de lidar de forma adequada em situações<br />

futuras (MARLATT, 1985 a). Para o autor, a expectativa de ser capaz de lidar com<br />

sucessivas situações de alto risco conforme estas vão surgin<strong>do</strong>, é semelhante à noção de<br />

auto-eficácia desenvolvida por BANDURA em 1977, quan<strong>do</strong> afirma que o indivíduo, assume<br />

um aumento de auto-confiança nas suas próprias aptidões para lidar eficazmente com<br />

situações de alto risco, o que se traduz num aumento da percepção de auto-eficácia<br />

(BANDURA, 1981).<br />

Também em programas de tratamento, a percepção de auto-eficácia para a<br />

mudança, é um <strong>do</strong>s determinantes da motivação, pois se possuir a percepção de que é<br />

capaz e a competência para tal, a motivação aumenta. Por outro la<strong>do</strong>, se apesar de<br />

compreender as vantagens da mudança e da ajuda <strong>do</strong> terapeuta se sentir incapaz de manter<br />

os objectivos (abstinência ou bebida moderada), a motivação diminui. Nesta fase, ao<br />

fornecer ao <strong>do</strong>ente a expectativa de que perante um deslize voltará novamente a beber<br />

segun<strong>do</strong> o padrão anterior, está-se a aumentar a dissonância cognitiva entre o que se<br />

espera dele para manter a abstinência e aquilo que ele se sente capaz de conseguir,<br />

conduzi<strong>do</strong> a uma diminuição de auto-eficácia e à violação da abstinência e por<br />

consequência, à recaída.<br />

O papel <strong>do</strong> terapeuta, nesta fase, é o de criar expectativas realistas demonstran<strong>do</strong>-<br />

lhes que pessoas que deixaram de beber têm com frequência episódios de deslize ao longo<br />

<strong>do</strong> processo, não poden<strong>do</strong> este ser entendi<strong>do</strong> como “estraguei tu<strong>do</strong>”, mas sim como um<br />

acontecimento espera<strong>do</strong>, associa<strong>do</strong> a uma situação de risco e para a qual tem de estar<br />

prepara<strong>do</strong> (aprender a identificá-la e a enfrentá-la, de acor<strong>do</strong> com as alternativas possíveis<br />

para lidar com essa situação). Assim, perante um episódio de ingestão de álcool, pretende-<br />

se minimizar os seus efeitos e impedir que tal facto funcione como um passo para o retorno<br />

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