Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

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Contudo, um problema a considerar, é o facto dos investigadores não manterem uma consistência com o modelo multidimensional da etiologia do alcoolismo apesar de defenderem a adequação deste modelo (NATHAN, 1988). O autor refere que se tem verificado algum fracasso na sua aplicação, pois a maioria dos estudos neste âmbito têm-se restringindo a um único constructo de personalidade por exemplo a sociopatia, ou a examinar o poder preditivo de um único instrumento de personalidade. Por outro lado, são escassos os estudos que analisam a capacidade preditiva de um construto ou de um instrumento da personalidade em conjugação com outros factores de risco de cariz fisiológico, ambiental, ou psicossociológica (DONOVAN, 1986; PEELE, 1986). Um dos maiores problemas nesta área de investigação assenta, segundo NATHAN (1988), na dificuldade em separar atributos e factores de personalidade e comportamentos derivados do alcoolismo, daqueles que possam considerar-se como causa e antecedentes, e os que são meramente coincidentes ou concomitantes. Outra dificuldade situa-se no facto de certos tipos/traços de personalidade serem comuns a alcoólicos e a não alcoólicos. Alguns autores, afirmam que muitos alcoólicos preenchem os critérios de diagnóstico de personalidade anti-social (STABENAR, 1984; HESSELBROCK e cols. 1985), a qual estaria ligada a um início de abuso de álcool precoce e a maiores excessos e problemas associados com a bebida. Outros, indicam uma certa relação entre a dependência alcoólica e a depressão COX, (1985). BENSON e WILSNACK (1983) e COX (1985), evidenciam que muitos alcoólicos que entram em tratamento, apresentam baixos níveis de auto-estima e elevado grau de ansiedade e depressão. Alguns autores, verificaram ainda que os indivíduos abusadores do álcool correspondem com maior frequência aos critérios de diagnóstico de personalidade anti-social da DSM-IV do que os não abusadores. Pelo exposto, consideramos fracos os nexos consistentes estabelecidos entre factores de personalidade e consequente abuso do álcool. Os preditores apontados encaminham-nos mais a nível de comportamentos e atitudes relacionados com comportamentos anti-sociais na infância ou na juventude, do que a nível de personalidade propriamente dita. Mas, o carácter preditivo do comportamento anti-social é relativo e incerto, porque muitos anti-sociais não são bebedores excessivos e muitos bebedores excessivos não têm comportamentos anti-sociais. Considerada a personalidade como elemento preditor de alcoolismo, como descriminador dos vários tipos de bebedores e como condicionante da reacção ao tratamento, os estudos permanecem inconclusivos deixando uma ampla e integradora área de investigação para aprofundar. 176

4.4.3 – Influências sócio-culturais e ambientais Os factores sócio-culturais influenciam como já referenciado, o uso de bebidas alcoólicas, de tal forma, que no nosso País o consumo de álcool se faz em altas doses e os problemas daí resultantes, parecem advir de práticas culturais ancestrais. Estas diferenças culturais nas práticas de consumo, e os diferentes pontos de vista sobre o álcool, são culturalmente transmitidas desde a infância. COX e KLINGER (1988), sublinham que, as diferentes experiências passadas e a motivação presente podem ser adquiridas pelos comportamentos vigentes da cultura ambiental. Ainda dentro dos grupos culturais, outras variáveis sociais referenciadas por WHITE e cols. (1990), são o comportamento de bebida dos pais, amigos, pares do grupo e mass média e o reforço ou não de tais comportamentos serem ou não um apelo a hábitos de consumo de bebida alcoólica. Os factores situacionais denominados de “microambientais” por MCCARTY, (1985) (contexto físico, o estar só ou com outras pessoas e o encorajamento ou desencorajamento recebido das outras pessoas) inserem-se no contexto ambiental imediato à decisão de beber. Outros factores, como a regulamentação legislativa do álcool, o seu custo, a assecibilidade e a publicidade à bebida entre outros, são também para CONNORS e TARBOX (1985), factores a considerar. Os factores motivacionais interagem com os estímulos positivos relacionados com factores presentes e considerados pela pessoa, indutores de experiências gratificantes (prazer e emoções positivas). Os estímulos negativos nocivos são geralmente responsáveis pelas emoções negativas experienciadas. A ausência de estímulos positivos facilitadores para atingir os objectivos desejados e a presença de expectativas considerando o álcool facilitador dessas expectativas cria condições favoráveis para o consumo. Também, se a pessoa considera a sua vida insatisfatória pela presença de elementos nocivos e simultaneamente possui expectativas de que o álcool permite a eliminação desses elementos, consumir será um factor de exacerbação das emoções positivas. Do conhecimento da combinação de factores situacionais (onde e quando) com os motivacionais (porque), podem resultar esclarecimentos sobre os diferentes padrões de bebida e até possibilitar o conhecimento de outros factores inerentes ás abordagens que privilegiam os factores intrapessoais (crenças, motivações e expectativas). Por exemplo, uma determinada situação (festa, convívio) pode proporcionar motivações individuais, (estar alegre, facilitar a interacção) mas que quando ausentes noutras situações interferem no padrão de consumo. 177

Contu<strong>do</strong>, um problema a considerar, é o facto <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res não manterem uma<br />

consistência com o modelo multidimensional da etiologia <strong>do</strong> alcoolismo apesar de<br />

defenderem a adequação deste modelo (NATHAN, 1988). O autor refere que se tem<br />

verifica<strong>do</strong> algum fracasso na sua aplicação, pois a maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s neste âmbito têm-se<br />

restringin<strong>do</strong> a um único constructo de personalidade por exemplo a sociopatia, ou a<br />

examinar o poder preditivo de um único instrumento de personalidade. Por outro la<strong>do</strong>, são<br />

escassos os estu<strong>do</strong>s que analisam a capacidade preditiva de um construto ou de um<br />

instrumento da personalidade em conjugação com outros factores de risco de cariz<br />

fisiológico, ambiental, ou psicossociológica (DONOVAN, 1986; PEELE, 1986).<br />

Um <strong>do</strong>s maiores problemas nesta área de investigação assenta, segun<strong>do</strong> NATHAN<br />

(1988), na dificuldade em separar atributos e factores de personalidade e comportamentos<br />

deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> alcoolismo, daqueles que possam considerar-se como causa e antecedentes, e<br />

os que são meramente coincidentes ou concomitantes.<br />

Outra dificuldade situa-se no facto de certos tipos/traços de personalidade serem<br />

comuns a alcoólicos e a não alcoólicos. Alguns autores, afirmam que muitos alcoólicos<br />

preenchem os critérios de diagnóstico de personalidade anti-social (STABENAR, 1984;<br />

HESSELBROCK e cols. 1985), a qual estaria ligada a um início de abuso de álcool precoce<br />

e a maiores excessos e problemas associa<strong>do</strong>s com a bebida. Outros, indicam uma certa<br />

relação entre a dependência alcoólica e a depressão COX, (1985). BENSON e WILSNACK<br />

(1983) e COX (1985), evidenciam que muitos alcoólicos que entram em tratamento,<br />

apresentam baixos níveis de auto-estima e eleva<strong>do</strong> grau de ansiedade e depressão. Alguns<br />

autores, verificaram ainda que os indivíduos abusa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> álcool correspondem com maior<br />

frequência aos critérios de diagnóstico de personalidade anti-social da DSM-IV <strong>do</strong> que os<br />

não abusa<strong>do</strong>res.<br />

Pelo exposto, consideramos fracos os nexos consistentes estabeleci<strong>do</strong>s entre<br />

factores de personalidade e consequente abuso <strong>do</strong> álcool. Os preditores aponta<strong>do</strong>s<br />

encaminham-nos mais a nível de comportamentos e atitudes relaciona<strong>do</strong>s com<br />

comportamentos anti-sociais na infância ou na juventude, <strong>do</strong> que a nível de personalidade<br />

propriamente dita. Mas, o carácter preditivo <strong>do</strong> comportamento anti-social é relativo e incerto,<br />

porque muitos anti-sociais não são bebe<strong>do</strong>res excessivos e muitos bebe<strong>do</strong>res excessivos<br />

não têm comportamentos anti-sociais. Considerada a personalidade como elemento preditor<br />

de alcoolismo, como descrimina<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s vários tipos de bebe<strong>do</strong>res e como condicionante da<br />

reacção ao tratamento, os estu<strong>do</strong>s permanecem inconclusivos deixan<strong>do</strong> uma ampla e<br />

integra<strong>do</strong>ra área de investigação para aprofundar.<br />

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