Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

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A aprendizagem do consumo de álcool faz parte integrante do desenvolvimento psicossocial e de socialização dentro de uma cultura. As crenças, atitudes e expectativas acerca do álcool são adquiridas precocemente, mesmo antes de qualquer experiência de consumo. A influência directa ou indirecta do meio cultural, da família, dos amigos, da publicidade e do reforço social estão na base deste comportamento de beber. Os próprios agentes de socialização são factores importantes, mas não suficientes para explicar o desenvolvimento do problema. As predisposições individuais (biológicas, psicológicas, hereditárias ou adquiridas), podem interactuar com os factores de socialização e de contexto na determinação dos padrões de consumo inicial. Os factores genéticos, farmacológicos e psicossociais (défice de aptidões sociais, dificuldades de lidar com estados emocionais negativos, etc.), assim como a inexistência de modelos de comportamentos de bebida normal ou a existência de modelos de consumo excessivo, podem aumentar o risco de um consumo desadequado. Experiências directas de consumo de álcool podem, por reforço negativo (redução da tensão) ou positivo (melhor interacção social), aumentar a probabilidade da continuação do consumo, que principalmente com doses baixas, são mediados pelas expectativas positivas obtidas acerca dos efeitos do álcool. Quando os factores predisponentes individuais interactuam numa determinada situação para um consumo normal ou desadequado, será condicionada pela percepção que o indivíduo possui de lidar com essa situação com ou sem recurso ao consumo de álcool. Quando o indivíduo possui expectativas positivas de que é o álcool que lhe fornece aptidões para lidar com uma determinada situação, ou o alivia de emoções desagradáveis e se não encontra aptidões alternativas, a probabilidade de recorrer ao álcool aumenta. As situações de consumo excessivo poderão, ser condicionados pelas situações com que o indivíduo se tem de confrontar, pelas aptidões em lidar adequadamente com a situação e pela disponibilidade de obter álcool. Quando o uso de álcool é contínuo, o indivíduo adquire tolerância, o que leva à situação de aumento progressivo das quantidades ingeridas para obter os mesmos efeitos. A tolerância poderá funcionar como um reforço directo e, simultaneamente como um mediador secundário dos consumos futuros. Caso o padrão de consumo aumente ou se mantenha, desenvolve-se a dependência física e/ou psicológica, com aumento do risco do consumo ser reforçado negativamente para evitar os sintomas de abstinência. O abuso do álcool não pode ser entendido apenas como resultado dos factores biológicos, situacionais e psicológicos. As situações de abuso, têm consequências individuais e sociais recíprocas a curto, médio e longo prazo, que podem manter ou aumentar o comportamento de bebida. Se numa fase inicial o comportamento de bebida é aceite e reforçado socialmente, com o aumento dos episódios de consumo excessivo as consequências negativas tornam-se mais pronunciadas, levando o indivíduo, a maiores dificuldades em se libertar e tenderá a refugiar-se mais no álcool para fugir às consequências negativas, tornando-as assim cada vez maiores. A influência dos diferentes factores sociais, institucionais e intra-individuais no consumo de álcool, podem variar de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo ao longo do tempo. A recuperação de um indivíduo com problemas de alcoolismo dependerá da sua capacidade para escolher e encontrar novas formas alternativas. Independentemente do que possa ser feito, o indivíduo precisará de adquirir aptidões, para lidar com as diferentes situações de vida e de auto-controlo para lidar com a necessidade de beber. Estudos experimentais confirmam e elucidam os processos de modelamento que exercem a sua acção na aquisição dos hábitos de bebida. CAUDILLE e MARLATT (1975), foram dos primeiros autores a constatar experimentalmente este processo quando, ao realizarem uma tarefa simulada de prova de bebidas alcoólicas, verificaram que entre estudantes bebedores sociais excessivos o consumo era maior quando expostos a modelos 160

de consumo excessivo do que quando expostos a modelos de consumo ligeiro. Estudos de HENDRICKS e cols. (1978), por sua vez, mostraram que os efeitos de modelamento se não verificavam quando o sujeito e o modelo não desempenhavam a tarefa em sincronia. Outros estudos, mostraram que os efeitos de modelamento são influenciados pelo contexto (STRICKER e cols. 1979), pela história de bebida e sexo (LIED e MARLATT, 1979) e pelo tipo de interacção entre os companheiros (COLLINS e cols. 1985). A teoria sócio-cognitiva defende que a família e os pares podem influenciar tanto o início como a manutenção do comportamento de bebida dos jovens, através de atitudes gerais, padrões e valores veiculados, assim como pelo modelamento de comportamentos de bebida em contexto social. Alguns estudos, apontam as atitudes dos pais face ao álcool como um dos melhores preditores do seu abuso nos adolescentes (O’LEARY e DONOVAN, 1976; BARNES, 1977; WECHSLER e MADDEN, 1979 e MCDERMOTT, 1984), não existindo no entanto para DAVIES e STACEY (1972), uma relação linear. Relativamente à influência da família no consumo de álcool, a teoria da aprendizagem social, subvaloriza os factores de modelamento, mas não poderemos deixar de referir que para outros autores, estes factores por si só não podem explicar as diferenças encontradas entre descendentes de alcoólicos e não alcoólicos, advertindo para a importância de outros factores, nomeadamente os genéticos. As investigações realizadas no âmbito da predisposição genética para o alcoolismo, as alterações comportamentais em filhos de alcoólicos e o possível aumento de disposição para o uso e abuso de álcool pelos descendentes de famílias com história de alcoolismo, nem sempre são consistentes, tornando-se até confusos pela disparidade de resultados obtidos. Estudos efectuados comparando jovens filhos de alcoólicos e de não alcoólicos, nos seus padrões de bebida (ALTERMAN e cols. 1989; JOHNSON e cols. 1989; PANDINA e JOHNSON, 1989) não encontraram diferenças significativas entre os dois grupos quanto à quantidade e frequência do uso, idade de início de consumo, frequência de intoxicação, razões e contexto de bebida, tendo os filhos de alcoólico referido maior número de consequências negativas devidas ao uso (KNOWLES e SCHROEDER, 1989; PANDINA e JOHNSON, 1989) e maior número de episódios de tratamento (PANDINA e JOHNSON, 1990). CHASSIN e cols. (1988), concluíram que a história familiar de abuso de álcool está associada a mais altos níveis de consumo de álcool, em quantidade e frequência, mais consequências negativas e baixo rendimento escolar. Ainda que as evidências indiquem que a ligação entre história familiar de alcoolismo e o desenvolvimento de alcoolismo possa incluir factores genéticos (CLONINGER e cols. 1987; GOODWIN, 1988) a força destes factores e a natureza desta ligação é ainda pouco 161

A aprendizagem <strong>do</strong> consumo de álcool faz parte integrante <strong>do</strong> desenvolvimento psicossocial e<br />

de socialização dentro de uma cultura. As crenças, atitudes e expectativas acerca <strong>do</strong> álcool<br />

são adquiridas precocemente, mesmo antes de qualquer experiência de consumo. A<br />

influência directa ou indirecta <strong>do</strong> meio cultural, da família, <strong>do</strong>s amigos, da publicidade e <strong>do</strong><br />

reforço social estão na base deste comportamento de beber. Os próprios agentes de<br />

socialização são factores importantes, mas não suficientes para explicar o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> problema.<br />

As predisposições individuais (biológicas, psicológicas, hereditárias ou adquiridas), podem<br />

interactuar com os factores de socialização e de contexto na determinação <strong>do</strong>s padrões de<br />

consumo inicial. Os factores genéticos, farmacológicos e psicossociais (défice de aptidões<br />

sociais, dificuldades de lidar com esta<strong>do</strong>s emocionais negativos, etc.), assim como a<br />

inexistência de modelos de comportamentos de bebida normal ou a existência de modelos de<br />

consumo excessivo, podem aumentar o risco de um consumo desadequa<strong>do</strong>.<br />

Experiências directas de consumo de álcool podem, por reforço negativo (redução da tensão)<br />

ou positivo (melhor interacção social), aumentar a probabilidade da continuação <strong>do</strong> consumo,<br />

que principalmente com <strong>do</strong>ses baixas, são media<strong>do</strong>s pelas expectativas positivas obtidas<br />

acerca <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> álcool.<br />

Quan<strong>do</strong> os factores predisponentes individuais interactuam numa determinada situação para<br />

um consumo normal ou desadequa<strong>do</strong>, será condicionada pela percepção que o indivíduo<br />

possui de lidar com essa situação com ou sem recurso ao consumo de álcool. Quan<strong>do</strong> o<br />

indivíduo possui expectativas positivas de que é o álcool que lhe fornece aptidões para lidar<br />

com uma determinada situação, ou o alivia de emoções desagradáveis e se não encontra<br />

aptidões alternativas, a probabilidade de recorrer ao álcool aumenta. As situações de<br />

consumo excessivo poderão, ser condiciona<strong>do</strong>s pelas situações com que o indivíduo se tem<br />

de confrontar, pelas aptidões em lidar adequadamente com a situação e pela disponibilidade<br />

de obter álcool.<br />

Quan<strong>do</strong> o uso de álcool é contínuo, o indivíduo adquire tolerância, o que leva à situação de<br />

aumento progressivo das quantidades ingeridas para obter os mesmos efeitos. A tolerância<br />

poderá funcionar como um reforço directo e, simultaneamente como um media<strong>do</strong>r secundário<br />

<strong>do</strong>s consumos futuros.<br />

Caso o padrão de consumo aumente ou se mantenha, desenvolve-se a dependência física<br />

e/ou psicológica, com aumento <strong>do</strong> risco <strong>do</strong> consumo ser reforça<strong>do</strong> negativamente para evitar<br />

os sintomas de abstinência.<br />

O abuso <strong>do</strong> álcool não pode ser entendi<strong>do</strong> apenas como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s factores biológicos,<br />

situacionais e psicológicos. As situações de abuso, têm consequências individuais e sociais<br />

recíprocas a curto, médio e longo prazo, que podem manter ou aumentar o comportamento de<br />

bebida. Se numa fase inicial o comportamento de bebida é aceite e reforça<strong>do</strong> socialmente,<br />

com o aumento <strong>do</strong>s episódios de consumo excessivo as consequências negativas tornam-se<br />

mais pronunciadas, levan<strong>do</strong> o indivíduo, a maiores dificuldades em se libertar e tenderá a<br />

refugiar-se mais no álcool para fugir às consequências negativas, tornan<strong>do</strong>-as assim cada vez<br />

maiores.<br />

A influência <strong>do</strong>s diferentes factores sociais, institucionais e intra-individuais no consumo de<br />

álcool, podem variar de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

A recuperação de um indivíduo com problemas de alcoolismo dependerá da sua capacidade<br />

para escolher e encontrar novas formas alternativas. Independentemente <strong>do</strong> que possa ser<br />

feito, o indivíduo precisará de adquirir aptidões, para lidar com as diferentes situações de vida<br />

e de auto-controlo para lidar com a necessidade de beber.<br />

Estu<strong>do</strong>s experimentais confirmam e elucidam os processos de modelamento que<br />

exercem a sua acção na aquisição <strong>do</strong>s hábitos de bebida. CAUDILLE e MARLATT (1975),<br />

foram <strong>do</strong>s primeiros autores a constatar experimentalmente este processo quan<strong>do</strong>, ao<br />

realizarem uma tarefa simulada de prova de bebidas alcoólicas, verificaram que entre<br />

estudantes bebe<strong>do</strong>res sociais excessivos o consumo era maior quan<strong>do</strong> expostos a modelos<br />

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