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Doutoramento Lidia do Rosrio Cabral Agosto2007.pdf - Repositório ...

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O modelo médico enfatiza a importância <strong>do</strong>s factores biológicos da adição, com uma<br />

focalização no álcool ou outra droga e nos seus efeitos farmacológicos. Nesta nova<br />

abordagem, o sujeito é considera<strong>do</strong> um “<strong>do</strong>ente”, ten<strong>do</strong> no entanto subjacente a ideia de que<br />

o próprio não consegue controlar voluntariamente o seu comportamento, retiran<strong>do</strong>-lhe assim,<br />

qualquer responsabilidade no desenvolvimento <strong>do</strong> problema, na sua modificação e na sua<br />

recaída, pois é considerada como uma reactivação da <strong>do</strong>ença. A ênfase dada à influência de<br />

factores fisiológicos internos, sobrepõem-se à perspectiva moral, ganhan<strong>do</strong> terreno a<br />

concepção de que os comportamentos aditivos se baseiam numa dependência física<br />

subjacente, enfatizan<strong>do</strong> os factores predisponentes de ordem fisiológica, que se presume<br />

serem transmiti<strong>do</strong>s geneticamente (MARLATT, 1985). Este modelo é aceite pela OMS e por<br />

muitas entidades ligadas á saúde. Apesar das suas limitações que referiremos adiante<br />

acarreta um significativo número de vantagens, trata-se de uma <strong>do</strong>ença e<br />

consequentemente retira o estigma associa<strong>do</strong> ao problema orientan<strong>do</strong>-se o <strong>do</strong>ente para a<br />

procura de auxílio no seu tratamento.<br />

O alcoólico, passa a ser entendi<strong>do</strong> como porta<strong>do</strong>r de uma <strong>do</strong>ença orgânica, da qual<br />

não tem que ter “vergonha”. É assumi<strong>do</strong> que “o processo de <strong>do</strong>ença estava latente mesmo<br />

antes <strong>do</strong> alcoólico ter toma<strong>do</strong> a primeira bebida, devi<strong>do</strong> à predisposição genética, e<br />

permanece activo ainda que temporariamente «em remissão», mesmo se o alcoólico<br />

recupera<strong>do</strong> não beba, durante anos” (MARLATT, 1985a, p. 7). Para este autor esta nova<br />

conceptualização envolve um conceito básico “o controlo” que encerra em si um <strong>do</strong>s maiores<br />

para<strong>do</strong>xos deste modelo. Por um la<strong>do</strong>, assume-se que o indivíduo não tem capacidade de<br />

controlo sobre o seu comportamento aditivo, pela influência <strong>do</strong>s factores fisiológicos internos,<br />

por outro, exige-se como única forma de tratamento, a abstenção total que é em si o controlo<br />

<strong>do</strong> comportamento. Nesta perspectiva, o indivíduo apenas consegue exercer o controlo<br />

enquanto mantiver a abstinência total, perden<strong>do</strong> esse mesmo controlo logo que sofra uma<br />

recaída e reactivação da <strong>do</strong>ença progressivamente. Este modelo, pela sua<br />

conceptualização, não dá grandes alternativas terapêuticas ao adito: ou mantém abstinência<br />

(controlo), ou recaída (perda de controlo).<br />

É interessante notar, que, se em termos etiológicos este modelo se afasta <strong>do</strong> modelo<br />

moral, ao nível <strong>do</strong> tratamento assume uma posição de aproximação, pela fórmula moralista –<br />

“não beberás”.<br />

O modelo médico possui algumas limitações que se reflectem a vários níveis: a<br />

explicação <strong>do</strong> problema com base nos factores genéticos é reducionista e contrária aos<br />

da<strong>do</strong>s actuais da investigação, pois esta demonstra que na etiologia <strong>do</strong> alcoolismo existem<br />

factores múltiplos (FISHER e FARINA, 1979) e a desresponsabilização <strong>do</strong> próprio pelo seu<br />

problema, promove um comportamento passivo, com fraco envolvimento na a<strong>do</strong>pção de<br />

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