Ditado pelo Espírito: HUMBERTO DE CAMPOS ... - Portal Luz Espírita
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50 – (Humberto de Campos) Francisco Cândido Xavier<br />
mais ninguém pelas vielas escuras, com exceção dos dias de grande gala, em<br />
que o governador comparecia pessoalmente às festas populares, tendo todos o<br />
cuidado de ir a esses folguedos de rua com os elementos precisos para a<br />
iluminação do caminho, no regresso a casa.<br />
O Rio de então, como as demais cidades não só do Brasil, mas também<br />
de Portugal, não primava pela higiene e pela limpeza. Os igarapés que conheci,<br />
ainda em princípios deste século, em algumas pequenas cidades do Norte<br />
brasileiro, onde se viam, em pleno dia, homens e crianças acertando contas com<br />
a natureza, se localizavam então nos recantos mais afastados das ruas, em<br />
grandes valas dentro das quais os pobres escravos depositavam, todas as<br />
tardes, o conteúdo malcheiroso dos largos potes de barro, carregados à cabeça.<br />
Alguns forasteiros ilustres, que nos visitaram naquela época,<br />
arquivaram tristes impressões do Brasil dos vice-reis, cheio dos mais<br />
espantosos quadros de imundície. Todavia, um dos espetáculos mais dolorosos<br />
e comovedores ofereciam-no os mercados de escravos, como o do Valongo,<br />
onde os miseráveis se amontoavam aos magotes, esperando o comprador que<br />
lhes examinava os pulsos e os dentes, selecionando os mais fortes para os duros<br />
trabalhos das fazendas. Ali, encontravam-se representantes dos negros de<br />
Guiné, de Cabinda e de Benguela, que eram separados dos pais e das mães, dos<br />
irmãos e dos filhos, nos sucessivos martirológios da raça negra, na qual os<br />
próprios padres de Portugal não viam irmãos em humanidade, mas os<br />
amaldiçoados descendentes de Cam.<br />
Até há pouco tempo, podia-se ver na Luanda a cadeira de pedra do<br />
bispo, de onde um prelado português abençoava os navios negreiros, prontos<br />
para se fazerem ao mar largo, com a pesada carga de desgraçados cativos. A<br />
bênção religiosa visava conservá-los vivos até aos portos do destino, a fim de<br />
que os mais fartos lucros compensassem o trabalho dos hediondos mercadores.<br />
Estes últimos, no entanto, além da bênção, adotavam outras precauções,<br />
amontoando os desditosos africanos nos porões infectos, onde viajavam como<br />
animais ferozes, trancafiados na prisão, para que não vissem, pela última vez,<br />
os horizontes do berço ingrato em que haviam nascido, vacinando-se contra as<br />
dores supremas da desesperação, que os arrastaria para os abismos do oceano.<br />
Ismael, com as suas hostes do mundo invisível, consegue harmonizar<br />
lentamente os interesses espirituais de quantos se haviam estabelecido na<br />
Pátria do Cruzeiro. Sob a sua inspiração, a igreja torna-se a protetora necessária<br />
da mentalidade infantil daquela época. Os templos da colônia abrem as portas<br />
para todos os infelizes e para todos os tristes. Os reineis organizam festanças<br />
periódicas, missas e procissões da fé, bem como folganças profanas, quais as da<br />
“Serração da Velha”.<br />
Sob as vistas condescendentes da igreja, os mensageiros do espaço se