Ditado pelo Espírito: HUMBERTO DE CAMPOS ... - Portal Luz Espírita
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18 – (Humberto de Campos) Francisco Cândido Xavier OS DEGREDADOS Todos os Espíritos edificados nas lições sublimes do Senhor se reuniram, logo após o descobrimento da nova terra, celebrando o acontecimento nos espaços do infinito. Grandes multidões donairosas e aéreas formavam imensos hífens de luz, entre a terra e o céu. Uma torrente impetuosa de perfumes se elevava da paisagem verde e florida, em busca do firmamento, de onde voltava à superfície do solo, saturada de energias divinas. Nos ninhos quentes das árvores, pousavam as vibrações renovadoras das esperanças santificantes, e, no Além, ouviam-se as melodias evocadoras da Galileia, ubertosa e agreste antes das lutas arrasadoras das Cruzadas, que lhe talaram todos os campos, transformando-a num montão de ruínas. Afigurava-se que a região dos pescadores humildes, que conheceu, bastante assinalados, os passos do Divino Mestre, se havia transplantado igualmente para o continente novo, dilatada em seus suaves contornos. Uma alegria paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro. Complacente sorriso lhe bailava nos lábios angélicos e suas mãos liriais empunhavam largo estandarte branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciado naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de concórdia. Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura: — Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do
19 – BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo. Ismael recebe o lábaro bendito das mãos compassivas do Senhor, banhado em lágrimas de reconhecimento, e, como se entrara em ação o impulso secreto da sua vontade, eis que a nívea bandeira tem agora uma insígnia. Na sua branca substância, uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: “Deus, Cristo e Caridade”. Todas as almas ali reunidas entoam um hosana melodioso e intraduzível à sabedoria do Senhor do Universo. São vibrações gloriosas da espiritualidade, que se elevam pelos espaços ilimitados, louvando o Artista Inimitável e o Matemático Supremo de todos os sóis e de todos os mundos. O emissário de Jesus desce então à Terra, onde estabelecerá a sua oficina. Os exércitos dos seres redimidos e luminosos lhe seguem a esplêndida trajetória e, como se o chão do Brasil fosse a superfície de um novo Hélicon 6 da imortalidade, a natureza, macia e cariciosa, toda se enfeita de luzes e sombras, de sinfonias e de ramagens odoríferas, preparando-se para um banquete de deuses. Os caminhos agrestes tornam-se sendas de maravilhosa beleza, rasgadas pelas coortes do invisível. Nessa hora, a frota de Cabral foge das águas verdes e fartas da Baía de Porto Seguro. Entretanto, nas fitas extensas da praia choram, desesperadamente, os dois degredados, dos vinte párias sociais que o Rei D. Manuel I destinara ao exílio. Os homens do mar se distanciam daqueles sítios, levando amostras da sua extraordinária riqueza. Em toda a paisagem há um largo ponto de interrogação, enquanto os dois infelizes se lastimam sem consolo e sem esperança. Os silvícolas amáveis e fraternos lhes abrem os braços; é dos seus corações rudes e simples que desabrocham, para a amargura deles, as flores amigas de um brando conforto. Mas, Afonso Ribeiro 7 , um dos condenados ao penoso desterro, avança numa piroga desprotegida e desmantelada, sem que os olhos da História lhe anotassem o gesto de profunda desesperação, a caminho do mar alto. Ao longe, 6 Hélicon: na mitologia grega, monte onde habitavam as nove musas, filhas de Zeus e Mnemósine – N. D. 7 Afonso Ribeiro, segundo carta de Pero Vaz de Caminha, foi exilado às terras tupiniquins (então Colônia de Portugal) como pena por suposto assassinato.
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19 – BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO<br />
Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina.<br />
Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua<br />
coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo,<br />
lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres,<br />
com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo,<br />
mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.<br />
Ismael recebe o lábaro bendito das mãos compassivas do Senhor,<br />
banhado em lágrimas de reconhecimento, e, como se entrara em ação o impulso<br />
secreto da sua vontade, eis que a nívea bandeira tem agora uma insígnia. Na sua<br />
branca substância, uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: “Deus, Cristo e<br />
Caridade”.<br />
Todas as almas ali reunidas entoam um hosana melodioso e<br />
intraduzível à sabedoria do Senhor do Universo. São vibrações gloriosas da<br />
espiritualidade, que se elevam <strong>pelo</strong>s espaços ilimitados, louvando o Artista<br />
Inimitável e o Matemático Supremo de todos os sóis e de todos os mundos.<br />
O emissário de Jesus desce então à Terra, onde estabelecerá a sua<br />
oficina. Os exércitos dos seres redimidos e luminosos lhe seguem a esplêndida<br />
trajetória e, como se o chão do Brasil fosse a superfície de um novo Hélicon 6 da<br />
imortalidade, a natureza, macia e cariciosa, toda se enfeita de luzes e sombras,<br />
de sinfonias e de ramagens odoríferas, preparando-se para um banquete de<br />
deuses.<br />
Os caminhos agrestes tornam-se sendas de maravilhosa beleza,<br />
rasgadas pelas coortes do invisível. Nessa hora, a frota de Cabral foge das águas<br />
verdes e fartas da Baía de Porto Seguro.<br />
Entretanto, nas fitas extensas da praia choram, desesperadamente, os<br />
dois degredados, dos vinte párias sociais que o Rei D. Manuel I destinara ao<br />
exílio.<br />
Os homens do mar se distanciam daqueles sítios, levando amostras da<br />
sua extraordinária riqueza. Em toda a paisagem há um largo ponto de<br />
interrogação, enquanto os dois infelizes se lastimam sem consolo e sem<br />
esperança. Os silvícolas amáveis e fraternos lhes abrem os braços; é dos seus<br />
corações rudes e simples que desabrocham, para a amargura deles, as flores<br />
amigas de um brando conforto.<br />
Mas, Afonso Ribeiro 7 , um dos condenados ao penoso desterro, avança<br />
numa piroga desprotegida e desmantelada, sem que os olhos da História lhe<br />
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6 Hélicon: na mitologia grega, monte onde habitavam as nove musas, filhas de Zeus e Mnemósine – N. D.<br />
7 Afonso Ribeiro, segundo carta de Pero Vaz de Caminha, foi exilado às terras tupiniquins (então Colônia de Portugal)<br />
como pena por suposto assassinato.