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Documentos IAC 110.pdf - IAC - Governo do Estado de São Paulo

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Relatos <strong>de</strong> Ocorrência <strong>de</strong> Animais Silvestres<br />

e <strong>de</strong> Danos Causa<strong>do</strong>s em Culturas <strong>de</strong><br />

Interesse Comercial no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />

Instituto Agronômico (<strong>IAC</strong>)<br />

Campinas (SP)<br />

<strong>Documentos</strong> <strong>IAC</strong>, 110<br />

Elaine Bahia WUTKE<br />

Sebastião Wilson TIVELLI<br />

Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> AZEVEDO FILHO<br />

Luis Felipe Villani PURQUERIO<br />

<strong>Paulo</strong> Boller GALLO<br />

Edmilson José AMBROSANO<br />

<strong>Paulo</strong> Cesar RECO<br />

Ama<strong>de</strong>u REGITANO NETO<br />

Roberto Botelho Ferraz BRANCO


<strong>Governo</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />

Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento<br />

Agência Paulista <strong>de</strong> Tecnologia <strong>do</strong>s Agronegócios<br />

Instituto Agronômico<br />

Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />

Geral<strong>do</strong> Alckmin<br />

Secretária <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento<br />

Mônika Carneiro Meira Bergamaschi<br />

Secretário-Adjunto <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento<br />

Alberto José Mace<strong>do</strong> Filho<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Agência Paulista <strong>de</strong> Tecnologia <strong>do</strong>s Agronegócios<br />

Orlan<strong>do</strong> Melo <strong>de</strong> Castro<br />

Diretor Técnico Substituto <strong>de</strong> Departamento <strong>do</strong> Instituto Agronômico<br />

César Pagotto Stein<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


ISSN 1809-7693<br />

Relatos <strong>de</strong> Ocorrência <strong>de</strong> Animais Silvestres e <strong>de</strong><br />

Danos Causa<strong>do</strong>s em Culturas <strong>de</strong> Interesse Comercial<br />

no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />

<strong>Documentos</strong> <strong>IAC</strong>, Campinas,110, 2012<br />

ElainE Bahia WUTKE<br />

SEBaSTião WilSon TiVElli<br />

JoaqUim adElino dE aZEVE<strong>do</strong> Filho<br />

lUiS FElipE Villani pURqUERio<br />

paUlo BollER Gallo<br />

EdmilSon JoSé amBRoSano<br />

paUlo CESaR RECo<br />

amadEU REGiTano nETo<br />

RoBERTo BoTElho FERRaZ BRanCo


Ficha elaborada pelo Núcleo <strong>de</strong> Informação e Documentação <strong>do</strong> Instituto<br />

Agronômico<br />

R382 Relatos <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> animais silvestres e <strong>de</strong> danos causa<strong>do</strong>s em<br />

culturas <strong>de</strong> interesse comercial no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> / Elaine<br />

Bahia Wutke, Sebastião Wilson Tivelli, Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong><br />

Filho; et al. Campinas: Instituto Agronômico, 2012.<br />

37 p; (<strong>Documentos</strong> <strong>IAC</strong>, 110)<br />

Versão online<br />

ISSN 1809-7693<br />

1. Animais Silvestres - comércio - <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (SP) I. Wutke, Elaine Bahia,<br />

II. Tivelli, Sebastião Wilson III. Azeve<strong>do</strong> Filho, Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong><br />

IV. Purquerio, Luis Felipe Villani V. Gallo, <strong>Paulo</strong> Boller VI. Ambrosano,<br />

Edmilson José VII. Reco, <strong>Paulo</strong> Cesar VIII. Regitano Neto, Ama<strong>de</strong>u<br />

IX. Branco, Roberto Botelho Ferraz<br />

CDD: 918.1<br />

A eventual citação <strong>de</strong> produtos e marcas comerciais, não expressa, necessariamente,<br />

recomendações <strong>do</strong> seu uso pela Instituição.<br />

É permitida a reprodução, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citada a fonte. A reprodução total <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

anuência expressa <strong>do</strong> Instituto Agronômico.<br />

Comitê Editorial <strong>do</strong> <strong>IAC</strong><br />

Rafael Vasconcelos Ribeiro - Editor-chefe<br />

Dirceu <strong>de</strong> Mattos Júnior - Editor-assistente<br />

Oliveiro Guerreiro Filho - Editor-assistente<br />

Equipe Participante <strong>de</strong>sta Publicação<br />

Revisão <strong>de</strong> vernáculo: Maria Angela Manzi da Silva<br />

Coor<strong>de</strong>nação da Editoração: Marilza Ribeiro Alves <strong>de</strong> Souza<br />

Editoração eletrônica e Capa: Karen Mizuno (estagiária)<br />

Instituto Agronômico<br />

Centro <strong>de</strong> Comunicação e Transferência <strong>do</strong> Conhecimento<br />

Av. Barão <strong>de</strong> Itapura, 1.481<br />

13020-902 - Campinas (SP) BRASIL<br />

Fone: (19) 2137-0600 Fax: (19) 2137-0706<br />

www.iac.sp.gov.br


SUMÁRIO<br />

Página<br />

RESUMO.................................................................................................................1<br />

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................2<br />

2. RELATOS DOS CASOS.........................................................................................4<br />

3. MEDIDAS DE CONTROLE....................................................................................24<br />

4.CONCLUSÃO........................................................................................................34<br />

REFERÊNCIAS......................................................................................................35


1<br />

RELATOS DE OCORRÊNCIA DE ANIMAIS SILVESTRES E<br />

DE DANOS CAUSADOS EM CULTURAS DE INTERESSE<br />

COMERCIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO<br />

Elaine Bahia WUTKE ( 1 ); Sebastião Wilson TIVELLI ( 2 );<br />

Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> AZEVEDO FILHO ( 3 ); Luis Felipe Villani PURQUERIO ( 4 );<br />

<strong>Paulo</strong> Boller GALLO ( 5 ); Edmilson José AMBROSANO ( 6 );<br />

<strong>Paulo</strong> Cesar RECO ( 1 ); Ama<strong>de</strong>u REGITANO NETO ( 1 );<br />

Roberto Botelho Ferraz BRANCO ( 7 )<br />

RESUMO<br />

Este trabalho é um levantamento <strong>de</strong> alguns relatos mais recentes sobre a ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

animais silvestres, como a capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), javali (Sus scroffa),<br />

lebre-européia ou lebrão (Lepus europaeus), maritaca (Aratinga leucophthalma) e pomba-amargosa<br />

(Zenaida auriculata), em algumas regiões no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, causan<strong>do</strong> prejuízos e inviabilizan<strong>do</strong><br />

a produção em lavouras <strong>de</strong> cereais, frutíferas, hortaliças e <strong>de</strong> leguminosas adubos-ver<strong>de</strong>s<br />

particularmente nos últimos cinco anos. Na área rural, essa ocorrência tem si<strong>do</strong> crescente e bastante<br />

preocupante porque a produção quantitativa e qualitativa das culturas está sen<strong>do</strong> prejudicada, com<br />

consequentes e óbvios prejuízos econômicos ao produtor. Muitos <strong>de</strong>sses animais não pertencem à<br />

fauna brasileira, mas são protegi<strong>do</strong>s por Lei Ambiental e sua caça é proibida. Alguns méto<strong>do</strong>s alternativos<br />

<strong>de</strong> controle, como a prevenção <strong>do</strong> acesso <strong>de</strong>ssa fauna-problema à área cultivada pela utilização<br />

<strong>de</strong> cercas com telas ou elétricas, <strong>de</strong> eficácia variável e custo bastante eleva<strong>do</strong>, muitas vezes é inviável<br />

para o produtor. Falta mais conscientização <strong>do</strong> produtor em assuntos <strong>de</strong> proteção ambiental, bem<br />

como seu comprometimento efetivo na conservação <strong>do</strong>s recursos naturais na proprieda<strong>de</strong>, para manutenção<br />

<strong>do</strong>s habitats da fauna silvestre. O Departamento <strong>de</strong> Fauna da Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> se interessa pelo assunto e comprometeu-se a estudar o assunto para manejo<br />

<strong>de</strong>sses animais, particularmente <strong>do</strong> javali e <strong>do</strong> lebrão, basean<strong>do</strong>-se em levantamento <strong>de</strong> ocorrência e<br />

comprovação <strong>do</strong>s danos econômicos.<br />

Palavras-chave: Aratinga leucophthalma, Hydrochoerus hydrochoeris, Lepus europaeus,<br />

Sus scroffa, Zenaida auriculata, dano agrícola.<br />

______________________________<br />

( 1 ) Pesquisa<strong>do</strong>res Científicos, Instituto Agronômico - <strong>IAC</strong>, Centro <strong>de</strong> Análise e Pesquisa Tecnológica <strong>do</strong> Agronegócio <strong>de</strong><br />

Grãos e Fibras, 13020-902 Campinas (SP). ebwutke@iac.sp.gov.br; regitano@iac.sp.gov.br; reco@iac.sp.gov.br<br />

( 2 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento, Centro <strong>de</strong> Insumos Estratégicos e Serviços Especia-<br />

liza<strong>do</strong>s, Departamento <strong>de</strong> Descentralização <strong>do</strong> Desenvolvimento - DDD, <strong>São</strong> Roque (SP). tivelli@apta.sp.gov.br<br />

( 3 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Polo Regional <strong>do</strong> Leste Paulista/DDD, Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP). joaquima<strong>de</strong>lino@apta.<br />

sp.gov.br<br />

( 4 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Instituto Agronômico - <strong>IAC</strong>, Centro <strong>de</strong> Análise e Pesquisa Tecnológica <strong>do</strong> Agronegócio <strong>de</strong><br />

Horticultura, Campinas (SP). felipe@iac.sp.gov.br<br />

( 5 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Polo Regional <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste Paulista/DDD, Mococa (SP). paulogallo@apta.sp.gov.br<br />

( 6 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Polo Regional <strong>do</strong> Centro-Sul /DDD, Piracicaba (SP). ambrosano@apta.sp.gov.br<br />

( 7 ) Pesquisa<strong>do</strong>r Científico, Polo Regional <strong>do</strong> Centro-Leste / DDD, Ribeirão Preto (SP). branco@apta.sp.gov.br<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

ABSTRACT<br />

OCCURRENCE REPORTS OF WILD ANIMALS CAUSING<br />

DAMAGES AT VALUABLE COMMERCIAL CROPS AT<br />

THE STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL<br />

This work is a gathering of some recent reports, that happened at least in the last five years,<br />

about the damage <strong>do</strong>ne by some wild animals like capybara (Hydrochoerus hydrochoeris), boar (Sus<br />

scroffa), brown hare (Lepus europaeus), white-eyed conure (Aratinga leucophthalma) and eared <strong>do</strong>ves<br />

(Zenaida auriculata) in valuable commercial crops like grains, fruits, vegetables and green manures<br />

in some regions of <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> State, Brazil. In farms the occurrence of wild animals is causing<br />

concern because the yield and quality of commercial crops are being damaged, reducing growers income.<br />

A lot of these animals did not belong to the Brazilian animal life, however they are protected by<br />

Brazilian environmental law and their killing is forbid<strong>de</strong>n. Some alternative methods for control such<br />

as access prevention to the crop area by chicken fences or electrified wire have variable effectiveness<br />

and high cost. There is also a lack of consciousness by the growers related to environmental and natural<br />

resources protection in the farms to keep some natural habitats for wild animals. The Animal Life<br />

Department of <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> State Environment Bureau is interested by the cause and is compromised<br />

to study the best way to carry out the management of these animals, mainly of boar and brown hare<br />

based in reports of occurrence and economical damage in commercial crops.<br />

Key words: Aratinga leucophthalma, Hydrochoerus hydrochoeris, Lepus europaeus, Sus scroffa,<br />

Zenaida auriculata, crop damage.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Os ecossistemas naturais vêm sen<strong>do</strong> constantemente prejudica<strong>do</strong>s pelas alterações ambientais,<br />

como a ocupação não sustentável <strong>do</strong> solo, tornan<strong>do</strong>-se mais vulneráveis com a acelerada redução<br />

da biodiversida<strong>de</strong> e com a diminuição, fragmentação ou até eliminação <strong>do</strong>s ‘habitats’. Por esse motivo,<br />

a relação estoque silvestre versus estoque <strong>do</strong>méstico versus homem é influenciada, sen<strong>do</strong> facilitada<br />

ou mesmo incentivada a propagação <strong>de</strong> patógenos e vetores <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças. Devi<strong>do</strong> ao consequente<br />

<strong>de</strong>smatamento provoca<strong>do</strong> pela ocupação humana, a cobertura vegetal natural vem sen<strong>do</strong> convertida<br />

em pasto ou campo agrícola. Esse processo já foi <strong>de</strong>vidamente registra<strong>do</strong> na Mata Atlântica e, <strong>de</strong><br />

maneira acelerada, no Cerra<strong>do</strong>, no entorno <strong>do</strong> Pantanal e da Amazônia, sen<strong>do</strong> afetada a propagação<br />

<strong>de</strong> patógenos na fauna silvestre (Alho, 2012).<br />

No setor rural, as culturas po<strong>de</strong>m ser seriamente prejudicadas, não apenas por pragas ou agentes<br />

patogênicos, mas também e, curiosamente, por alguns animais silvestres, que passam então a<br />

serem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s daninhos ou mesmo, fauna-problema.<br />

Nos últimos anos, em várias regiões <strong>do</strong> país, mas particularmente no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, espécies<br />

invasoras exóticas, como os javalis (Sus scroffa) e as lebres, lebrões europeus ou simplesmente<br />

lebrões (Lepus europaeus), têm causa<strong>do</strong> bastante preocupação aos agricultores, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos frequentes<br />

e severos prejuízos às diversas culturas consi<strong>de</strong>radas “econômicas”. Esses animais foram introduzi<strong>do</strong>s<br />

como animais <strong>de</strong> caça no Uruguai e Argentina e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação,<br />

ultrapassaram as fronteiras, a<strong>de</strong>ntraram o Brasil pelo Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, migraram para os Esta<strong>do</strong>s<br />

2


<strong>de</strong> Santa Catarina, Paraná, <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, Minas Gerais e Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, tornan<strong>do</strong>-se um problema<br />

por causa <strong>do</strong>s danos causa<strong>do</strong>s, como redução <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto. Eram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />

pragas quan<strong>do</strong> a caça era regulamentada no Brasil e seu abate era permiti<strong>do</strong> em qualquer<br />

época <strong>do</strong> ano (hAyAshi e sAnctis, 2010).<br />

A partir <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1998 foi sancionada a Lei Fe<strong>de</strong>ral n.º 9.605 – Lei <strong>de</strong> Crimes<br />

Ambientais, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> condutas e ativida<strong>de</strong>s<br />

lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”. Em seu artigo 29, são relaciona<strong>do</strong>s como<br />

crimes contra a fauna: “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos<br />

ou em rota migratória, sem a <strong>de</strong>vida permissão, licença ou autorização da autorida<strong>de</strong> competente,<br />

ou em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com a obtida”, e para os quais se aplica pena <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> seis meses a um ano,<br />

além <strong>de</strong> multa. Em seu artigo 37, o abate <strong>de</strong> animal não é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> crime quan<strong>do</strong> “for realiza<strong>do</strong><br />

em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, para saciar a fome <strong>do</strong> agente ou <strong>de</strong> sua família; para proteger lavouras,<br />

pomares e rebanhos da ação predatória ou <strong>de</strong>strui<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> animais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que legal e expressamente<br />

autoriza<strong>do</strong> pela autorida<strong>de</strong> competente; por ser nocivo o animal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que assim caracteriza<strong>do</strong> pelo<br />

órgão competente”. Ainda, em seu artigo 61 prevê punição para quem “disseminar <strong>do</strong>ença ou praga<br />

ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas”.<br />

(Presi<strong>de</strong>nciA..., 1998).<br />

Com a proibição da caça, to<strong>do</strong>s os animais passaram a ser protegi<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong>se<br />

o cachorro-<strong>do</strong>-mato (Cer<strong>do</strong>cyon thous), os gambás (Di<strong>de</strong>lphis marsupialis), inúmeras espécies <strong>de</strong><br />

aves e alguns mamíferos como os catetos (Tayassu tajacu) e as capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris),<br />

<strong>de</strong>ntre outros. A população <strong>do</strong> lebrão, que era controlada pela caça esportiva somente no Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, também foi proibida. Por sua vez, o incentivo à criação <strong>do</strong> javali para consumo por<br />

alguns cria<strong>do</strong>res <strong>de</strong> suínos <strong>de</strong> outras regiões <strong>do</strong> país <strong>de</strong>corre da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua carne. Entretanto,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu vigor e robustez e por não ser animal <strong>de</strong> fácil <strong>do</strong>mesticação, houve escape <strong>de</strong> indivíduos<br />

<strong>do</strong> cativeiro, segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong>scontrolada nos esta<strong>do</strong>s menciona<strong>do</strong>s anteriormente e com<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcha migratória rumo ao norte <strong>do</strong> país (hAyAshi e sAnctis, 2010).<br />

Por sua vez, em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> <strong>de</strong>smatamento não controla<strong>do</strong> e cada vez mais crescente,<br />

foi bastante favoreci<strong>do</strong> o crescimento populacional <strong>de</strong> espécies silvestres que, inclusive, estão se<br />

adaptan<strong>do</strong> bem tanto ao ambiente rural como, particularmente, ao urbano. Esse fato também acarreta<br />

problemas <strong>de</strong> competência da saú<strong>de</strong> pública, como comprova<strong>do</strong> pelo aumento <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> sua ocorrência,<br />

frequentemente divulga<strong>do</strong>s na mídia, em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> médio e gran<strong>de</strong> porte (Alho, 2012).<br />

Na agricultura, houve aumento <strong>do</strong>s problemas nos últimos anos em função <strong>de</strong>ssa ocorrência bastante<br />

distribuída e em abundância <strong>do</strong>s animais silvestres, exóticos ou não, pois o alimento é farto nas áreas<br />

rurais cultivadas. Nessa situação, os danos constata<strong>do</strong>s são frequentes, relevantes e difíceis <strong>de</strong> serem<br />

mensura<strong>do</strong>s.<br />

Diante disso, é fundamental o estabelecimento <strong>de</strong> medidas para o controle populacional <strong>de</strong><br />

animais silvestres e <strong>do</strong>s consequentes danos, motiva<strong>do</strong>s, principalmente, pela expansão das ativida<strong>de</strong>s<br />

humanas e pela intensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso da terra (<strong>do</strong>lbber et al., 1996), com influência direta e indireta<br />

no padrão <strong>de</strong> distribuição e na abundância das espécies <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao processo <strong>de</strong> alteração da paisagem<br />

original (Wiens, 1996). Mudanças em atitu<strong>de</strong>s humanas em relação à vida silvestre também po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>radas uma alternativa viável (MAtschke et al., 1984; WAgner et al., 1997).<br />

3<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Neste trabalho são apresenta<strong>do</strong>s alguns relatos mais recentes sobre a ocorrência crescente<br />

e preocupante <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), javali (Sus scroffa), lebrão (Lepus europaeus),<br />

maritaca (Aratinga leucophthalma) e pomba-amargosa (Zenaida auriculata), causan<strong>do</strong> prejuízos<br />

e inviabilizan<strong>do</strong> a produtivida<strong>de</strong> em lavouras <strong>de</strong> cereais, frutíferas, hortaliças, oleaginosas e <strong>de</strong><br />

leguminosas adubos-ver<strong>de</strong>s em algumas regiões no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, particularmente nos últimos<br />

cinco anos. Ainda, preten<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>stacar a importância econômica <strong>de</strong>ssa ocorrência na agricultura<br />

para suscitar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão conjunta objetivan<strong>do</strong> tanto a conscientização <strong>do</strong>s produtores<br />

quanto o estabelecimento <strong>de</strong> procedimentos ambientais responsáveis e a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ao manejo <strong>de</strong>ssa<br />

fauna que se tornou “daninha” para muitas lavouras e para a sustentabilida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> agrícola.<br />

2.1. Capivara (Hydrochoerus hydrochoeris)<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

2. RELATOS DOS CASOS<br />

A capivara (Figura 1), consi<strong>de</strong>rada o maior roe<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, é um animal nativo das Américas<br />

Central e <strong>do</strong> Sul, incluin<strong>do</strong>-se o Brasil, e que está dissemina<strong>do</strong> em vários tipos <strong>de</strong> ambientes por<br />

toda a América Tropical (ojAsti, 1973; AzAcArAte, 1980; eMMons, 1990).<br />

Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 1. Capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) pastejan<strong>do</strong> em área pública <strong>de</strong> lazer <strong>do</strong> Parque<br />

Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, em Campinas, SP, outubro <strong>de</strong> 2012.<br />

Em geral, seu habitat é constituí<strong>do</strong> por uma pequena área <strong>de</strong> floresta sempre próxima a uma<br />

fonte <strong>de</strong> água permanente, como pequenos cursos <strong>de</strong> rios ou estuários, utiliza<strong>do</strong>s para pastejo/alimentação,<br />

<strong>de</strong>scanso, abrigo, acasalamento, gestação e refúgio contra preda<strong>do</strong>res. Vivem sozinhos ou em<br />

grupos e são diurnos ou noturnos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> habitat, da pressão <strong>de</strong> caça ou da estação <strong>do</strong> ano<br />

(ojAsti, 1973; AzcArAte, 1980; MAc<strong>do</strong>nAld, 1981; eisenberg; redford 1999).<br />

Por ser animal herbívoro, alimenta-se <strong>de</strong> gramíneas ou <strong>de</strong> plantas aquáticas (ojAsti, 1973),<br />

entretanto, tem gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação aos agroecossistemas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua elevada plasticida<strong>de</strong><br />

alimentar. Esse padrão <strong>de</strong> alimentação, possivelmente associa<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> seus<br />

preda<strong>do</strong>res naturais, tem transforma<strong>do</strong> a capivara em um animal daninho à agricultura em <strong>de</strong>terminadas<br />

regiões.<br />

4


A proliferação indiscriminada <strong>de</strong>sses roe<strong>do</strong>res também foi constatada após o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> leis ambientais nacionais, regularizan<strong>do</strong>-se a preservação da mata ciliar e <strong>do</strong>s animais, sem quaisquer<br />

orientações para seu manejo populacional.<br />

Esse fato é preocupante quan<strong>do</strong> concomitantemente se constatam <strong>do</strong>enças novas advindas da<br />

relação entre animais silvestres e o homem, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se surtos <strong>de</strong> febre-maculosa, conhecida como<br />

febre-<strong>do</strong>-carrapato, causada por bactérias <strong>do</strong> gênero Rickettsia, transmitidas por carrapatos <strong>do</strong> gênero<br />

Amblyomma, ectoparasitos <strong>de</strong> capivaras e introduzi<strong>do</strong>s nas cida<strong>de</strong>s por esses roe<strong>do</strong>res, quan<strong>do</strong> acessam<br />

os rios ou outros mananciais <strong>de</strong> água próximos ou localiza<strong>do</strong>s em áreas <strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s (bArci e<br />

nogueirA, 2006).<br />

As capivaras são ainda suscetíveis à febre aftosa, uma enfermida<strong>de</strong> causada por um <strong>do</strong>s menores<br />

vírus <strong>de</strong> estrutura complexa e virulência para os animais e o homem, <strong>de</strong> divulgação mundial,<br />

muito contagiosa, <strong>de</strong> evolução aguda e transmitida <strong>de</strong> animais <strong>do</strong>entes para humanos, por exposições<br />

das vias hematógenas (sangue circulante), po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ocorrer em situações muito especiais (AndrA<strong>de</strong><br />

junior et al., 2008).<br />

Na área rural, uma das relevantes consequências para a ativida<strong>de</strong> agrícola são os constantes<br />

prejuízos verifica<strong>do</strong>s nas diversas lavouras.<br />

No Polo Regional em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP) têm si<strong>do</strong> verifica<strong>do</strong>s danos frequentes às<br />

culturas <strong>de</strong> hortaliças diversas, como: alface (Lactuca sativa L.), cenoura (Daucus carota L.), repolho<br />

(Brassica oleracea varieda<strong>de</strong> capitata L.) e couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis L.); <strong>de</strong><br />

cereais, como: arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays L.) e trigo (Triticum aestivum L.) e <strong>de</strong> mandioca<br />

(Manihot esculenta Crantz).<br />

No Centro <strong>de</strong> Frutas - <strong>IAC</strong>, em Jundiaí (SP), no outono-inverno <strong>de</strong> 2000 a 2002, foram verifica<strong>do</strong>s<br />

animais <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong>scansan<strong>do</strong> e amassan<strong>do</strong> plantas <strong>de</strong> chícharo (Lathyrus sativus L.),<br />

tremoço-branco (Lupinus albus L.) e aveia-preta (Avena strigosa) em experimento <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> nas<br />

ruas da vi<strong>de</strong>ira (Vitis vinifera L.) ‘Niagara Rosada’, com prejuízos tanto ao pleno <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das plantas <strong>do</strong>s adubos-ver<strong>de</strong>s quanto aos resulta<strong>do</strong>s da experimentação em curso.<br />

Em estu<strong>do</strong> com amostragem sistemática em campo <strong>de</strong> milho, em Piracicaba (SP), foram constata<strong>do</strong>s<br />

danos causa<strong>do</strong>s por capivaras em 26% da área plantada. A maior porcentagem <strong>de</strong>les ficou<br />

localizada nas bordas da cultura, sen<strong>do</strong> aqueles <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s nas áreas adjacentes ao fragmento <strong>de</strong><br />

mata significativamente maiores <strong>do</strong> que no restante <strong>do</strong> terreno. Diante <strong>de</strong>sse fato, ficou sugerida uma<br />

relação entre a estratégia <strong>de</strong> utilização da área <strong>de</strong> alimentação pela capivara e a proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recursos<br />

“floresta” e “água” (ferrAz et al., 2003).<br />

No Polo Regional <strong>do</strong> Centro-Sul, em Piracicaba (SP), sua ocorrência foi relatada em 2010 e<br />

2011, também e, respectivamente, em campos experimentais com milho e milho-ver<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>itarem, amassan<strong>do</strong> as plantas, os animais também se alimentaram <strong>do</strong>s colmos <strong>de</strong> milho prejudican<strong>do</strong><br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das plantas e infestan<strong>do</strong> a área com carrapatos (Figura 2).<br />

5<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Fabrício Rossi<br />

Figura 2. Danos <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochoeris) em plantas <strong>de</strong> milho (Zea mays L.). Piracicaba,<br />

SP, 2010.<br />

Em 2012, em Campinas (SP), foram constatadas capivaras em área experimental cultivada<br />

com materiais <strong>do</strong> banco <strong>de</strong> germoplasma <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.) <strong>do</strong> Instituto Agronômico<br />

- <strong>IAC</strong>. Os animais se <strong>de</strong>itaram, amassan<strong>do</strong> as plantas, roeram os colmos e assim comprometeram o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento vegetativo (Figura 3), <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> pegadas e fezes como evidências <strong>de</strong> sua ocorrência<br />

na área (Figura 4).<br />

Foto: Ama<strong>de</strong>u Regitano Neto<br />

Figura 3. Danos <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochoeris) em plantas <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus<br />

L.). Campinas, SP, 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

6


7<br />

Foto: Ama<strong>de</strong>u Regitano Neto<br />

Figura 4. Pegadas (a) e fezes (b) <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) em área experimental <strong>de</strong><br />

girassol (Helianthus annuus L.). Campinas, SP, 2012.<br />

Em registro recente, data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012, na Fazenda Cachoeirinha, município <strong>de</strong><br />

Santo Antonio <strong>do</strong> Aracanguá (SP), o engenheiro-agrônomo Júlio César Zambão, analista ambiental<br />

<strong>do</strong> IBAMA, constatou ataque <strong>de</strong> capivaras por ocasião da rebrota em lavoura <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong> açúcar, sen<strong>do</strong><br />

mais intenso na região próxima <strong>do</strong> abrigo <strong>do</strong>s animais, que é uma área <strong>de</strong> preservação permanente<br />

<strong>do</strong> córrego (Figura 5).<br />

Foto: Júlio César Zambão<br />

(a) (b)<br />

Figura 5. À direita na foto, vestígios <strong>de</strong> ataque mais intenso <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochaeris)<br />

na rebrota <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar (Saccharum officinarum L.). Fazenda Cachoeirinha, Santo Antônio<br />

<strong>do</strong> Aracanguá, SP, 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

No Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina, no município <strong>de</strong> Ponte Alta, as capivaras inva<strong>de</strong>m as lavouras<br />

<strong>de</strong> milho e comem as canas das plantas antes mesmo da formação <strong>de</strong> espigas. No município <strong>de</strong><br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Cerra<strong>do</strong>, também nesse mesmo Esta<strong>do</strong>, as capivaras inva<strong>de</strong>m a plantação em ban<strong>do</strong>s <strong>de</strong> até mais <strong>de</strong><br />

vinte animais, <strong>de</strong>struin<strong>do</strong>-a completamente, pois roem a base da planta <strong>de</strong> milho (jornAl nossA terrA,<br />

2012).<br />

2.2. Javali (Sus scroffa)<br />

O javali (Figura 6) é <strong>de</strong> origem européia e asiática, sen<strong>do</strong> o ancestral <strong>do</strong>s porcos <strong>do</strong>mésticos<br />

atuais, com o mesmo nome científico: Sus scroffa. Como seu parentesco é muito próximo ao <strong>do</strong> porco<br />

<strong>do</strong>méstico, acasalam-se com gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> gera<strong>do</strong>s animais férteis, muito maiores e com<br />

taxa reprodutiva muito maior que a <strong>do</strong> javali puro, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s javaporcos ou mesmo javalis asselvaja<strong>do</strong>s,<br />

causa<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s prejuízos (<strong>de</strong>berdt, 2006; hAyAshi e sAnctis, 2010).<br />

Foto: Júlio César Zambão<br />

Figura 6. Javali (Sus scroffa) adulto, <strong>de</strong> pequeno porte, com peito pequeno e afila<strong>do</strong>, manti<strong>do</strong> em<br />

criatório. Car<strong>do</strong>so, SP, 2009.<br />

Segun<strong>do</strong> o engenheiro-agrônomo Júlio César Zambão, <strong>do</strong> IBAMA, praticamente não há javalis<br />

soltos, mas java-porcos, estes muito mais agressivos, vorazes e viven<strong>do</strong> em ban<strong>do</strong>s. Gran<strong>de</strong> parte<br />

<strong>de</strong>sses animais teria escapa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criatórios existentes há 10 -15 anos ou si<strong>do</strong> irresponsavelmente<br />

libertada por cria<strong>do</strong>res que <strong>de</strong>sistiram <strong>de</strong> sua criação; na jurisdição <strong>do</strong> IBAMA <strong>de</strong> Araçatuba foram<br />

fecha<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os 18 criatórios existentes. Com a expansão da cultura da cana-<strong>de</strong>-açúcar naquela<br />

região, menciona-se o favorecimento da criação <strong>de</strong> abrigos aos ban<strong>do</strong>s <strong>de</strong> java-porcos, especialmente<br />

nas áreas <strong>de</strong> cana mais velha e também relatos <strong>de</strong> sua ocorrência nos mais diferentes pontos da<br />

Região Oeste <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. Além <strong>do</strong>s muitos danos nas culturas <strong>de</strong> banana (Musa spp.),<br />

batata-<strong>do</strong>ce [Ipomoea batatas (L.) Lam.], mandioca, milho e outras, são constata<strong>do</strong>s severos prejuízos<br />

ambientais <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> enchafurdamento <strong>do</strong>s animais nas áreas <strong>de</strong> preservação permanente<br />

<strong>do</strong>s córregos e da <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> mudas em processo <strong>de</strong> regeneração das matas ciliares.<br />

Por ser um animal onívoro, o javali se alimenta em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, como pastagens<br />

<strong>de</strong> gramíneas, frutas, grãos – preferencialmente <strong>de</strong> milho, batata (Solanum tuberosum L.) e<br />

mandioca, brotos, raízes, bulbos e também invertebra<strong>do</strong>s, como minhocas e cobras, e provavelmente<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

8


outros pequenos animais, <strong>de</strong>struin<strong>do</strong> lavouras em qualquer lugar, diferentemente da capivara. Devi<strong>do</strong><br />

ao seu hábito <strong>de</strong> revolver a terra, po<strong>de</strong> gerar problemas em pequenos mananciais e nascentes <strong>de</strong> água<br />

pelo assoreamento, turbi<strong>de</strong>z da água e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> sua vegetação nativa protetora. Em consequência,<br />

po<strong>de</strong>-se ter até tombamento <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong> médio porte pela <strong>de</strong>struição das raízes em sua procura<br />

por vermes e larvas. Na lavoura <strong>de</strong> milho, seu alimento favorito, as reduções <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m<br />

ser superiores a 50% e, nas <strong>de</strong> batata, o prejuízo é verifica<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> plantio, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao arranquio<br />

das batatas-sementes e revolvimento <strong>do</strong>s sulcos e, ainda, durante o ciclo vegetativo, danos às<br />

ramas e aos tubérculos novos (hAyAshi e sAnctis, 2010; re<strong>de</strong> Pró-fAunA, 2012).<br />

O crescimento populacional <strong>do</strong>s javalis asselvaja<strong>do</strong>s é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez <strong>de</strong> preda<strong>do</strong>res naturais<br />

e à gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos nas culturas agrícolas e no ambiente natural; esses<br />

animais também são preda<strong>do</strong>res <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> criação como aves <strong>do</strong>mésticas e cor<strong>de</strong>iros (<strong>de</strong>berdt,<br />

2006).<br />

Além <strong>do</strong>s danos diretos, outro risco é que o javali asselvaja<strong>do</strong> é um animal bastante resistente<br />

às diversas moléstias, o que faz <strong>de</strong>le um possível reservatório ou vetor para uma série <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças,<br />

como a febre aftosa, <strong>do</strong>ença muito contagiosa aos animais causada pelo vírus da família Picornaviridae;<br />

a leptospirose; as <strong>do</strong>enças <strong>do</strong>s cascos e da boca; a teníase; a cisticercose e a raiva suína, transmitida<br />

ao homem e aos animais pela inoculação <strong>do</strong> Lyssavirus, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> cruzar com porcos cria<strong>do</strong>s nos<br />

quintais das áreas rurais e atacar pessoas (<strong>de</strong>berdt, 2006; hAyAshi e sAnctis, 2010).<br />

No Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, os danos causa<strong>do</strong>s por esses animais têm si<strong>do</strong> significativos em uma<br />

extensa área <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Amparo, Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba, Monte Alegre <strong>do</strong> Sul,<br />

Morungaba, Pedra Bela, Pinhalzinho e Tuiuti e, ao que tu<strong>do</strong> indica, estão confina<strong>do</strong>s, nessa região,<br />

entre os rios Jaguari e Camanducaia.<br />

Em 2004, fez-se a primeira constatação <strong>de</strong> javalis em áreas experimentais situadas em maiores<br />

altitu<strong>de</strong>s no Polo Regional <strong>do</strong> Leste Paulista, em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP), na cultura <strong>do</strong> milho<br />

(Figuras 7 e 8).<br />

Em 2009, em comunica<strong>do</strong> informal ao agrônomo Júlio César Zambão, <strong>do</strong> IBAMA, foi relatada<br />

a ocorrência <strong>de</strong> javalis em plantação <strong>de</strong> batata-<strong>do</strong>ce em Dracena (SP). Como os tubérculos haviam<br />

si<strong>do</strong> planta<strong>do</strong>s em leiras, à semelhança <strong>de</strong> curva <strong>de</strong> nível, os animais não se alimentavam diretamente<br />

das plantas, mas das batatas, após esburacarem o barranco. Devi<strong>do</strong> à distância percorrida até essa<br />

plantação, o rastro <strong>de</strong>sse ban<strong>do</strong> foi segui<strong>do</strong>, a cavalo, após uma noite <strong>de</strong> chuva, em torno <strong>de</strong> 15 km,<br />

passan<strong>do</strong> por pastos, brejos e por algumas matas ciliares, até um canavial aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> em uma usina<br />

e localiza<strong>do</strong> em grotão <strong>de</strong> difícil acesso. Pelos rastros no local, estimou-se um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> pelo menos<br />

sessenta animais, sen<strong>do</strong> muitos <strong>de</strong>les <strong>de</strong> porcas paridas e um gran<strong>de</strong> e bastante afunda<strong>do</strong> na terra molhada,<br />

provavelmente <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r.<br />

Mais recentemente, em 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012, foi observa<strong>do</strong> um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses animais se alimentan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> resíduos da cultura <strong>de</strong> milho, após a gradagem <strong>do</strong> solo (Figura 9), no Polo Regional em<br />

Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP). Nesse local, os animais têm causa<strong>do</strong> prejuízos <strong>do</strong> plantio à colheita também<br />

às culturas da cana-<strong>de</strong>-açúcar (Saccharum officinarum L.), sorgo (Sorghum bicolor L. Moench)<br />

e mandioca. Na <strong>de</strong> abóbora (Cucurbita moschata), inicialmente, eles não se alimentavam <strong>do</strong>s frutos,<br />

9<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


mas, em 2012, causaram prejuízos naqueles ainda imaturos e no fim <strong>do</strong> ciclo das plantas. Ainda nesse<br />

mesmo ano, enquanto apenas esburacaram canteiros cultiva<strong>do</strong>s com cúrcuma (Curcuma aromatica<br />

Salisb.) (Figura 10), consumiram totalmente as plantas <strong>de</strong> experimentos <strong>de</strong> mangarito (Xanthosoma<br />

sagittifoliun), mesmo em área cercada por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca, restan<strong>do</strong> apenas as<br />

estacas <strong>de</strong>marcatórias <strong>do</strong>s canteiros (Figura 11). Ainda, reviraram o solo em local úmi<strong>do</strong>, em busca<br />

por minhocas, em culturas <strong>de</strong> café (Coffea arabica L.) e <strong>de</strong> chuchu [Sechium edule (Jacq.) Swartz] e<br />

em matas e nascentes <strong>de</strong> água.<br />

Foto: Luiz Henrique Chorfi Berton<br />

Figura 7. Pegadas (a) e fezes (b) <strong>de</strong> javali (Sus scroffa). Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2005.<br />

Foto: Luiz Henrique Chorfi Berton<br />

(a) (b)<br />

Figura 8. Vestígios <strong>de</strong> ocorrência e danos <strong>de</strong> javali (Sus scroffa) em cultura <strong>de</strong> milho (Zea Mays l.).<br />

Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2005.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

10


11<br />

Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 9. Ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> javalis (Sus scroffa) se alimentan<strong>do</strong> <strong>de</strong> resíduos da cultura <strong>de</strong> milho após gradagem<br />

<strong>do</strong> solo. Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2012.<br />

Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 10. Área experimental cultivada com cúrcuma longa (Curcuma aromatica Salisb.) e esburacada<br />

por javalis (Sus scroffa), mesmo com proteção <strong>de</strong> tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca. Monte<br />

Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 11. Cultura experimental <strong>de</strong> mangarito (Xanthosoma sagittifoliun) antes (a) e totalmente consumida<br />

(b), após a ocorrência <strong>de</strong> javalis (Sus scroffa), mesmo com proteção <strong>de</strong> tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

branca. Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2012.<br />

2.3. Lebrão ou lebre-européia (Lepus europaeus)<br />

O lebrão (Figura 12) é um animal <strong>de</strong> hábito noturno, voraz, não pertencente à fauna brasileira<br />

e mesmo assim é protegi<strong>do</strong> pela legislação ambiental (toMAzelA, 2011).<br />

Foto: <strong>Paulo</strong> César Reco<br />

(a)<br />

Figura 12. Lebrão ou lebre européia (Lepus europaeus) em Campinas, SP, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012.<br />

Em julho <strong>de</strong> 2010, na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento - UPD, <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Insumos<br />

Estratégicos e Serviços Especializa<strong>do</strong>s, em <strong>São</strong> Roque (SP), foram constata<strong>do</strong>s os primeiros <strong>do</strong>is ou<br />

três exemplares <strong>de</strong>sse animal e sua população foi consi<strong>de</strong>ravelmente aumentada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Foram<br />

<strong>de</strong>struídas lavouras experimentais <strong>de</strong> hortaliças, como alface, brócoli (Brassica oleracea var. itálica),<br />

couve-flor e repolho, bem como <strong>do</strong>s adubos ver<strong>de</strong>s C. spectabilis e C. juncea nessa Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

(b<br />

)<br />

12


Em 2011, foi divulga<strong>do</strong> um relato sobre a preocupante <strong>de</strong>vastação <strong>de</strong> lavouras no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> pelo lebrão que se tornou problema tanto para os agricultores quanto para os órgãos <strong>de</strong> pesquisa<br />

agrícola, <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> aumento populacional constata<strong>do</strong> a cada ano e <strong>do</strong>s prejuízos causa<strong>do</strong>s<br />

por sua voracida<strong>de</strong>, relata<strong>do</strong>s em todas as regiões <strong>de</strong>sse Esta<strong>do</strong>, à exceção <strong>do</strong>s Vales <strong>do</strong> Ribeira e <strong>do</strong><br />

Paraíba, por enquanto. A situação se tornou tão grave que foram solicitadas informações à Secretaria<br />

<strong>do</strong> Meio Ambiente pela Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento Paulista para a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas<br />

<strong>de</strong> controle <strong>de</strong>sse animal (toMAzelA, 2011).<br />

No caso específico das leguminosas, há tempos se conhece a preferência alimentar <strong>do</strong> lebrão<br />

pela soja [Glycine max (L.) Merr.] (Figura 13) e feijão (Phaseolus vulgaris L.) e, <strong>de</strong>ntre aquelas utilizadas<br />

como adubos ver<strong>de</strong>s, pela C. juncea L. (Figura 14), <strong>de</strong>stacadamente.<br />

13<br />

Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 13. Plantas <strong>de</strong> soja [Glycine max (L.) Merrill.] cortadas e consumidas pelo lebrão (Lepus europaeus),<br />

em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP.<br />

Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 14. Plantas <strong>de</strong> Crotalaria juncea L., cv <strong>IAC</strong>-1, com sete dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, cortadas e consumidas<br />

pelo lebrão (Lepus europaeus), em Campinas, SP, março <strong>de</strong> 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


No Polo Regional em Piracicaba (SP), constatou-se a presença danosa <strong>do</strong>s lebrões já no primeiro<br />

cultivo <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> leguminosas adubos-ver<strong>de</strong>s em 1999. A principio, alimentavam-se<br />

principalmente <strong>de</strong> plântulas <strong>de</strong> crotalária júncea, mas, posteriormente, também das <strong>de</strong> soja. Des<strong>de</strong><br />

então, a ação <strong>de</strong>sses animais só aumentou e eles chegam a consumir completamente os canteiros cultiva<strong>do</strong>s<br />

com ambas as espécies, que parecem ser <strong>de</strong> sua preferência alimentícia.<br />

Mais recentemente, no início <strong>de</strong> 2012, também foram verifica<strong>do</strong>s danos, porém em menor<br />

intensida<strong>de</strong>, em plantas novas da leguminosa mucuna-anã [Mucuna <strong>de</strong>eringiana (Bort.) Merr.], cultivada<br />

como adubo-ver<strong>de</strong> (Figura 15), em área experimental <strong>do</strong> Instituto Agronômico - <strong>IAC</strong>, em<br />

Campinas (SP).<br />

Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 15. Plantas <strong>de</strong> mucuna-anã (Mucuna <strong>de</strong>eringiana) com 20 dias, cortadas e consumidas por<br />

lebrão (Lepus europaeus), em Campinas, SP, março <strong>de</strong> 2012.<br />

Em 2007, verificou-se população reduzida <strong>do</strong> lebrão nas áreas experimentais <strong>do</strong> Polo Regional<br />

em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP), com alguns poucos prejuízos em culturas <strong>de</strong> hortaliças diversas<br />

e <strong>de</strong> soja. Nesse mesmo ano, entretanto, o problema foi sério em diversas cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />

<strong>Paulo</strong>, como Bragança Paulista, Itatiba, Rio Claro e <strong>São</strong> Carlos, em lavouras <strong>de</strong> brócolis e couve-flor,<br />

cujas plantas foram totalmente consumidas por esse animal quan<strong>do</strong> novas.<br />

Em <strong>São</strong> Carlos (SP), um produtor <strong>de</strong> hortaliças folhosas relatou a preferência <strong>do</strong> lebrão por<br />

plantas da família Brassicaceae, especialmente o brócolis <strong>de</strong> cabeça única, bem como pela alface <strong>do</strong><br />

tipo americana. Produtores <strong>de</strong> outras regiões, como Bragança Paulista e Itatiba (SP), também confirmaram<br />

a preferência <strong>do</strong> lebrão por estas espécies. O lebrão muitas vezes não se alimenta da planta<br />

toda, porém, no caso <strong>de</strong> brócolis e couve-flor, <strong>de</strong>strói a gema apical da planta logo após o transplante<br />

das mudas ou quan<strong>do</strong> a planta ainda está pequena, inviabilizan<strong>do</strong> a produção. Em Rio Claro (SP),<br />

relataram-se 30% <strong>de</strong> perdas em cultivo <strong>de</strong> brócolis, logo após o transplante das mudas.<br />

Com base em relatos <strong>de</strong> produtores <strong>de</strong> outras unida<strong>de</strong>s da Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento,<br />

verificou-se a disseminação <strong>de</strong>sse lebrão por gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> com<br />

consequentes e severos prejuízos.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

14


Em Anhembi, distrito <strong>de</strong> Piracicaba, Sarapuí e Capela <strong>do</strong> Alto (SP), houve relatos <strong>de</strong> danos em<br />

melancia [Citrullus lanatus (Thunb.) MAtsuM. & nAkAi], e alguns produtores estão até <strong>de</strong>sistin<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

seu cultivo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos danos às plantas, aos frutos novos e no ponto <strong>de</strong> colheita (Figura 16). Também<br />

no Polo Regional <strong>do</strong> Centro Leste, em Ribeirão Preto (SP), foram constata<strong>do</strong>s danos em frutos <strong>de</strong><br />

melancia, mesmo naqueles imaturos, com reduções <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> até 15% (Figura 17).<br />

15<br />

Fotos: Roberto Hiroto Anbo<br />

(a) (b)<br />

(c) (d)<br />

Figura 16. Danos <strong>do</strong> lebrão (Lepus europaeus) em plântula (a), em planta (b) e em frutos jovem (c)<br />

e adulto (d) <strong>de</strong> melancia (Citrullus lanatus). Anhembi (distrito <strong>de</strong> Piracicaba), SP, 2011.<br />

Foto: Roberto Botelho Ferraz Branco<br />

Figura 17. Fruto <strong>de</strong> melancia (Citrullus lanatus) com evidência <strong>de</strong> dano por lebrão (Lepus<br />

europaeus). Ribeirão Preto, SP.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Em <strong>São</strong> Manoel (SP), um paulistano <strong>de</strong>sistiu <strong>do</strong> cultivo <strong>de</strong> maracujá (Passiflora sp.), retornan<strong>do</strong><br />

à capital e, em Itápolis (SP), os lebrões <strong>de</strong>voraram até as mudas <strong>de</strong> laranja (Citrus sinensis L.<br />

Osbeck.), sen<strong>do</strong> necessário o replantio <strong>de</strong> 40% da área em alguns pomares novos. A maior concentração<br />

<strong>de</strong>sses animais foi constatada nos municípios <strong>de</strong> Pieda<strong>de</strong>, Pilar <strong>do</strong> Sul e <strong>São</strong> Miguel Arcanjo, na<br />

região <strong>de</strong> Sorocaba (SP), com tradição no cultivo <strong>de</strong> hortaliças e legumes, e no Pontal <strong>do</strong> Paranapanema<br />

(SP), on<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> abóbora foram dizimadas, como relata<strong>do</strong> por toMAzellA (2011).<br />

Em Indaiatuba (SP), um produtor relatou lebres roen<strong>do</strong> a casca <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> maracujá, que<br />

acabaram sen<strong>do</strong> totalmente dizimadas.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 2012, um grupo <strong>de</strong> trabalho da Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong> e Recursos<br />

Naturais da Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente visitou produtores nos municípios <strong>de</strong> Alumínio e Ibiúna<br />

(SP). Para um produtor <strong>de</strong> maracujá <strong>de</strong> Alumínio, o dano econômico estima<strong>do</strong> foi da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$<br />

25.000,00.<br />

Em Ibiúna, foram constata<strong>do</strong>s danos <strong>do</strong> lebrão em repolho-roxo, sen<strong>do</strong> difícil para o produtor<br />

estimar as perdas e o consequente dano econômico na lavoura. Diferentemente <strong>do</strong> verifica<strong>do</strong> na<br />

cultura <strong>do</strong> maracujá, cujas plantas são totalmente dizimadas, na <strong>do</strong> repolho roxo, o grupo <strong>de</strong> trabalho<br />

constatou consumo médio <strong>de</strong> cinco a sete folhas por planta pelo lebrão, o que implicará colheita <strong>de</strong><br />

cabeças menores da hortaliça, mas sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quantificação <strong>de</strong>ssa redução <strong>de</strong> tamanho (Figura<br />

18).<br />

Foto: Sebastião Wilson Tivelli<br />

Figura 18. Plantas <strong>de</strong> repolho-roxo danificadas pelo lebrão (Lepus europaeus), com redução <strong>do</strong> tamanho<br />

da cabeça da hortaliça. Ibiúna, SP, agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

Mais recentemente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 2012, têm si<strong>do</strong> registradas infestações muito prejudiciais<br />

<strong>de</strong>ssas lebres em áreas experimentais e em campos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> C. juncea L., tanto no<br />

<strong>IAC</strong>, em Campinas, quanto no Polo Regional em Mococa (SP). As plantas <strong>de</strong> C. juncea parecem ser<br />

particularmente palatáveis ao animal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a emergência até pelo menos 30 dias <strong>do</strong> ciclo. Nessa fase<br />

inicial, os prejuízos são quase que totais porque as plantas são cortadas, sem chances <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento, verifican<strong>do</strong>-se reduções drásticas <strong>do</strong> estan<strong>de</strong> (Figura 19) e da fitomassa<br />

estabelecida para a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cobertura <strong>do</strong> solo. De fevereiro a agosto <strong>de</strong> 2012, curiosamente<br />

não foram verifica<strong>do</strong>s danos <strong>de</strong>sses animais em outras espécies <strong>de</strong> Crotalaria, como C.breviflora, C.<br />

spectabilis, C. paulina, C. mucronata e C. ochroleuca, cultivadas la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, em área experimental<br />

<strong>do</strong> <strong>IAC</strong> em Campinas (SP).<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

16


17<br />

Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 19. Danos <strong>do</strong> lebrão (Lepus europaeus) em plântulas <strong>de</strong> Crotalaria juncea L.: redução <strong>do</strong><br />

estan<strong>de</strong> (a) e corte das extremida<strong>de</strong>s superiores (b). Campinas, SP, março <strong>de</strong> 2012.<br />

Em 2012, constatou-se a ocorrência <strong>do</strong> lebrão também em área experimental cultivada com<br />

materiais genéticos <strong>de</strong> gergelim (Sesamum indicum L.) <strong>do</strong> Banco <strong>de</strong> Germoplasma <strong>de</strong>ssa oleaginosa<br />

no <strong>IAC</strong>, em Campinas (SP) (Figura 20).<br />

Foto: Ama<strong>de</strong>u Regitano Neto<br />

(a) (b)<br />

Figura 20. Pegadas <strong>de</strong> lebrão (Lepus europaeus). Campinas, SP, 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


2.4. Maritaca (Aratinga leucophthalma)<br />

A maritaca, também conhecida como periquitão-maracanã ou maricatã (Figura 21) é uma ave<br />

da família <strong>do</strong>s Psitací<strong>de</strong>os, que também abrange as araras e papagaios, e ocorre <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (sul <strong>do</strong><br />

Piauí, Pernambuco, Alagoas) e Leste até o Sul <strong>do</strong> Brasil, Goiás e Mato Grosso, além da Bolívia, Paraguai<br />

e Argentina. Vive na mata alta, em pinheirais e matas ciliares e procura seu alimento, geralmente<br />

frutos, nas copas das árvores mais altas e em certos arbustos.<br />

Fotos: Elaine Bahia Wutke e (a)<br />

Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo (b)<br />

Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo (b)<br />

Figura 21. Maritacas (Aratinga leucophthalma) pousadas em tronco seco <strong>de</strong> palmeira (a) e em planta<br />

<strong>de</strong> sorgo (Sorghum sp.) (b). Campinas, SP, 2012.<br />

Essas aves apreciam mais as sementes <strong>do</strong> que a polpa das frutas, sen<strong>do</strong> atraídas por árvores<br />

frutíferas como goiabeiras (Psidium guajava L.), jabuticabeira (Myrcia cauliflora Berg), laranjeiras<br />

(Citrus sp.), mamoeiros (Carica papaya L.) e mangueiras (Mangifera indica L.). Comem brotos, flores<br />

e folhas tenras, inclusive as <strong>do</strong> eucalipto (Eucalyptus sp.); os cocos <strong>de</strong> muitas palmeiras são sua<br />

alimentação predileta (MAritAcAs, 2010).<br />

No Polo Regional em Piracicaba (SP), os prejuízos têm si<strong>do</strong> mais frequentes na cultura <strong>do</strong><br />

girassol. A partir <strong>de</strong> 2000, inclusive e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os trabalhos em agricultura orgânica foram intensifica<strong>do</strong>s<br />

e que essa oleaginosa foi incluída tanto na coleção <strong>de</strong> adubos ver<strong>de</strong>s quanto nos experimentos<br />

<strong>de</strong> rotação com cana-<strong>de</strong>-açúcar, constatou-se aumento da ocorrência <strong>de</strong>ssas aves, também verificadas<br />

na cultura <strong>do</strong> milho.<br />

Também em 2000, foram verificadas maritacas sobre plantas <strong>de</strong> girassol cultivadas em campos<br />

<strong>de</strong>monstrativos da oleaginosa na Feira Internacional <strong>de</strong> Tecnologia Agricola - Agrishow, realizada<br />

no Polo Regional em Ribeirão Preto (SP) (Figura 22).<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

18


19<br />

Foto: <strong>Paulo</strong> César Reco<br />

Figura 22. Maritacas (Aratinga sp.) sobre plantas <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.).<br />

Ribeirão Preto, SP, 2000.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 2006 e em fevereiro <strong>de</strong> 2007, essas aves foram constatadas, respectivamente,<br />

em plantas <strong>de</strong> trigo e girassol no Polo Regional, em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP) e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006, também<br />

em plantas <strong>de</strong> girassol (Figura 23) <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> melhoramento genético <strong>de</strong>ssa oleaginosa no <strong>IAC</strong>,<br />

além <strong>do</strong> sorgo (Figura 24), em Campinas (SP).<br />

Foto: Ama<strong>de</strong>u Regitano Neto<br />

Figura 23. Capítulos <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.) danifica<strong>do</strong>s por maritacas (Aratinga leucophthalma).<br />

Campinas, SP, 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Figura 24. Maritacas (Aratinga leucophthalma) se alimentan<strong>do</strong> em plantas <strong>de</strong> sorgo (Sorghum sp.).<br />

Campinas, SP, 2012.<br />

Os produtores <strong>de</strong> uva da região <strong>de</strong> Jundiaí (SP), também estão preocupa<strong>do</strong>s com o aumento<br />

anual crescente da população das maritacas e com os frequentes e recentes prejuízos verifica<strong>do</strong>s na<br />

safra 2011/2012, sobretu<strong>do</strong> à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s frutos.<br />

2.5. Pomba-amargosa (Zenaida auriculata)<br />

A pomba-amargosa, nome comum atribuí<strong>do</strong> ao sabor levemente amargo <strong>de</strong> sua carne, é também<br />

conhecida como pomba-<strong>de</strong>-ban<strong>do</strong>, amargosinha ou avoante, este na Região Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> país<br />

(Figura 25).<br />

Foto: Ronald Dennis Paul Kenneth Clive Ranvaud<br />

Foto: Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo<br />

Figura 25. Pombas-amargosas (Zenaida auriculata). Assis, SP, 2002.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

20


É uma ave originalmente campestre, nativa da América <strong>do</strong> Sul, <strong>de</strong> ocorrência natural e abundante<br />

em campos abertos <strong>de</strong> ambientes ári<strong>do</strong>s e semiári<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> fácil adaptação aos ambientes altera<strong>do</strong>s<br />

com vegetação baixa, áreas agrícolas e urbanas. Devi<strong>do</strong> a essas características, sua distribuição<br />

geográfica é abrangente, incluin<strong>do</strong>-se a Caatinga, os Pampas, o Cerra<strong>do</strong> e o Chaco, sen<strong>do</strong> limitada<br />

pelas Florestas Tropicais Amazônica e Atlântica, já que essa ave evita áreas com florestas <strong>de</strong>nsas.<br />

Devi<strong>do</strong> ao frequente <strong>de</strong>smatamento e à crescente expansão das fronteiras agrícolas e das áreas<br />

<strong>de</strong> pecuária extensiva, entretanto, tem si<strong>do</strong> verifica<strong>do</strong> aumento crescente das áreas habitáveis por essa<br />

espécie, tanto no ambiente rural quanto no urbano, em cida<strong>de</strong>s tanto <strong>de</strong> médio quanto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte,<br />

com reflexos na agricultura e na saú<strong>de</strong> pública. Ainda, essas aves convivem em grupos relativamente<br />

gran<strong>de</strong>s (Figura 26) e suas colônias reprodutivas são essenciais na busca <strong>do</strong> alimento, pois funcionam<br />

como centros <strong>de</strong> informação (MAkutA, 2009).<br />

21<br />

Foto: Hugo <strong>de</strong> Souza Dias<br />

Figura 26. Ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> pombas-amargosas (Zenaida auriculata) sobrevoan<strong>do</strong> campo <strong>de</strong> trigo (Triticum<br />

aestivum L.). Fazenda Canaã, Tarumã, SP, 1996.<br />

A dieta <strong>de</strong>ssa ave é constituída basicamente <strong>de</strong> grãos, sen<strong>do</strong>, há mais <strong>de</strong> três décadas, uma<br />

preocupação constante <strong>do</strong>s produtores <strong>de</strong> grãos na Região Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> País e nas regiões <strong>de</strong> Assis,<br />

Campinas, Colina e Mococa, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, como também em todas as muitas outras on<strong>de</strong><br />

se cultiva particularmente a soja nesse Esta<strong>do</strong> e, ainda, arroz, girassol, milho, sorgo e trigo. Sua ocorrência<br />

po<strong>de</strong> ser verificada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da implantação das lavouras, na germinação das sementes,<br />

até a colheita e o transporte, quan<strong>do</strong> se constatam perdas <strong>de</strong> grãos em quantida<strong>de</strong>s variáveis, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

à regulagem incorreta das máquinas colhe<strong>do</strong>ras ou transporta<strong>do</strong>ras (Figura 27).<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Hugo <strong>de</strong> Souza Dias<br />

Figura 27. Ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> pombas-amargosas (Zenaida auriculata) se alimentan<strong>do</strong> <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> grãos<br />

em cultura recém-colhida <strong>de</strong> milho safrinha (Zea mays L.). Cândi<strong>do</strong> Mota, SP, 2001.<br />

No Vale <strong>do</strong> Médio <strong>do</strong> Paranapanema (SP), <strong>de</strong> 1940 a 1960, essa espécie fazia seus ninhos em<br />

pés <strong>de</strong> café e não era consi<strong>de</strong>rada uma praga agrícola séria, sen<strong>do</strong> sua ocorrência <strong>do</strong>cumentada em<br />

informações e entrevistas com antigos mora<strong>do</strong>res da zona rural <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Assis, Echaporã e<br />

Cândi<strong>do</strong> Mota (brAnnstroM, 2003).<br />

Nessa mesma região, nos anos oitentas <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, com os incentivos <strong>do</strong> Programa<br />

Pró-Álcool houve aumento consi<strong>de</strong>rável na área cultivada com a cultura da cana-<strong>de</strong>-açúcar, com<br />

consequentes alterações no agroecossistema regional. Em consequência, foi favoreci<strong>do</strong> um aumento<br />

explosivo na população da pomba-amargosa, redundan<strong>do</strong> na presença <strong>de</strong> ban<strong>do</strong>s muito populosos<br />

<strong>de</strong>stas aves, que se alimentavam <strong>de</strong> várias culturas economicamente importantes na região, principalmente<br />

o arroz, a soja e o trigo, e também o girassol e sorgo (okAWA et al., 2001).<br />

Em estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> rAnvAud et al. (2001), na região <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Tarumã (SP), constatou-se<br />

a reprodução <strong>de</strong>ssas aves em uma colônia situada em um canavial. Sua dieta era composta, em 70%<br />

<strong>do</strong> peso seco, por quatro grãos cultiva<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> eles, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância, milho, trigo, arroz e<br />

soja; as sementes <strong>de</strong> três espécies <strong>de</strong> infestantes, Euphorbia heterophylla, Brachiaria plantaginea e<br />

Commelina benghalensis também foram importantes constituintes <strong>de</strong>ssa dieta. Essas informações foram<br />

indicativas da ampla adaptação das pombas à paisagem gerada pelas práticas agrícolas regionais.<br />

Em 2003, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma gran<strong>de</strong> colônia reprodutiva, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> quatro milhões <strong>de</strong> aves, em<br />

campos cultiva<strong>do</strong>s com a cultura <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar (Figura 28), foi gera<strong>do</strong> um grave conflito entre<br />

técnicos ambientais e agricultores na região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Médio <strong>do</strong> Paranapanema SP) (brAnnstroM,<br />

2003). Este caso tornou-se emblemático porque se verificou aumento da população da espécie apesar<br />

<strong>do</strong> controle realiza<strong>do</strong> pelos agricultores, que consistiu da captura <strong>de</strong> ovos nos canaviais para posterior<br />

<strong>de</strong>struição. Como não se fez o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da espécie, ao contrário <strong>do</strong> espera<strong>do</strong>, as pombas geraram<br />

mais ovos quanto mais <strong>de</strong>les foram coleta<strong>do</strong>s pelos agricultores.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

22


23<br />

Foto: Ronald Dennis Paul Kenneth Clive Ranvaud<br />

Figura 28. Ninhos com ovos (a) e filhotes recém-nasci<strong>do</strong>s (b) <strong>de</strong> pombas-amargosas (Zenaida auriculata)<br />

após a queima e corte da cana-<strong>de</strong>-açúcar. Tarumã, SP, 2002.<br />

Na cultura da soja, os principais danos ocorrem em seus cotilé<strong>do</strong>nes (Figura 29) e, em consequência,<br />

verifica-se prejuízo ao estan<strong>de</strong>, ao a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> estabelecimento da cultura e à sua produtivida<strong>de</strong>,<br />

tanto nas áreas experimentais quanto naquelas particulares, para produção <strong>de</strong> grãos.<br />

Foto: <strong>Paulo</strong> César Reco<br />

(a)<br />

(a) (b)<br />

Figura 29. Plântulas <strong>de</strong> soja (Glycine max L.) com apenas um (a) ou sem os <strong>do</strong>is cotilé<strong>do</strong>nes (b) comi<strong>do</strong>s<br />

por pombas-amargosas. Assis, SP, 2012.<br />

É muito difícil, entretanto, estabelecer uma estimativa confiável das perdas nas colheitas causadas<br />

diretamente pelas pombas. Em avaliações pontuais, rAnvAud (1999) <strong>de</strong>terminou danos em até<br />

mais <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> plântulas <strong>de</strong> soja, com prejuízo comparável ao causa<strong>do</strong> por outras pragas <strong>de</strong> importância,<br />

combatidas com a aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos.<br />

(b)<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

3. MEDIDAS DE CONTROLE<br />

Como alternativas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>sses animais silvestres que, eventualmente, passam a causar<br />

danos na agricultura, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas tanto as mudanças em práticas ou atitu<strong>de</strong>s humanas,<br />

como o estabelecimento <strong>de</strong> programas compensatórios <strong>de</strong> perdas econômicas para aumentar a tolerância<br />

humana aos danos causa<strong>do</strong>s por essa fauna-problema (MAtschke et al., 1984; WAgner et al.,<br />

1997). De acor<strong>do</strong> com <strong>do</strong>lbber et al. (1996), o fator-chave para qualquer programa <strong>de</strong> manejo seriam<br />

locais alternativos, com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção da vida silvestre próxima à <strong>do</strong>s humanos. Dessa<br />

maneira, as ações <strong>de</strong> manejo seriam baseadas não apenas em princípios ecológicos, mas também<br />

naqueles <strong>de</strong> natureza socioeconômica.<br />

Uma alternativa para redução <strong>do</strong> impacto da influência da fauna silvestre seria o manejo <strong>do</strong>s<br />

animais em seu próprio habitat, com o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> controle da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional por meio da exploração<br />

periódica <strong>do</strong>s indivíduos (ojAsti 1973; MAtschke et al., 1984; Mcnulty et al., 1997; sheA et<br />

al., 1998).<br />

Outra possibilida<strong>de</strong> seria o estabelecimento <strong>de</strong> área adicional da mesma cultura comercial ou<br />

mesmo <strong>de</strong> culturas mais atrativas para atendimento das necessida<strong>de</strong>s básicas alimentares <strong>do</strong>s animais<br />

(MAtschke et al., 1984; ferrAz et al., 2003).<br />

No caso das capivaras, apesar das restrições legais no Brasil, o abate <strong>de</strong>sses animais é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

por muitos uma alternativa racional, já que é uma das espécies sul-americanas com potencial<br />

para o manejo sustentável (MoreirA e MAc<strong>do</strong>nAld, 1997). A redução populacional <strong>de</strong>sse roe<strong>do</strong>r po<strong>de</strong><br />

resultar em diminuição <strong>do</strong>s danos à agricultura nas áreas <strong>de</strong> sua ocorrência.<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento ofereci<strong>do</strong> pelas culturas po<strong>de</strong> aumentar a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos<br />

para uma <strong>de</strong>terminada espécie e, no caso das capivaras, com o aumento da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional,<br />

consequentemente se tem, cada vez mais, aumento <strong>do</strong>s prejuízos às culturas (lAcher et al., 1998;<br />

ferrAz et al., 2003).<br />

Medidas <strong>de</strong> controle como evitar o cultivo <strong>de</strong> milho em áreas adjacentes aos fragmentos florestais<br />

utiliza<strong>do</strong>s por capivaras e, quan<strong>do</strong> possível, a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> controle populacional po<strong>de</strong>m<br />

significar a redução da ocorrência <strong>de</strong> danos causa<strong>do</strong>s aos agroecossistemas (ferrAz et al., 2003).<br />

Como tentativas para se impedir o acesso <strong>de</strong>sses animais às lavouras, em áreas experimentais<br />

<strong>do</strong> Polo Regional <strong>do</strong> Leste Paulista, em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP), culturas <strong>de</strong> milho e mandioca foram<br />

inicialmente cercadas com tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca (Figura 30). Em 2000, instalouse<br />

um alambra<strong>do</strong> com mourões <strong>de</strong> eucalipto, <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> rio Camanducaia, que passa no meio<br />

<strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong>, o que tem ajuda<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, na contenção das capivaras na área <strong>de</strong> mata ciliar<br />

<strong>de</strong>sse Rio; cabe <strong>de</strong>stacar tanto sua eficácia <strong>de</strong> controle quanto sua durabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se faça sua<br />

a<strong>de</strong>quada manutenção (Figura 31). O cultivo da leguminosa adubo-ver<strong>de</strong> lablabe (Dolichos lab lab)<br />

pareceu ser repelente ao animal, mas faltam subsídios científicos para confirmação <strong>de</strong>ssa constatação<br />

pessoal.<br />

24


Fotos: Miguel Francisco <strong>de</strong> Souza Filho (a) e<br />

Figura 30. Áreas experimentais <strong>de</strong> milho (a) e mandioca (b) cercadas por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

branca para evitar danos <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochoeris). Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP,<br />

2011<br />

Figura 31. Áreas <strong>de</strong> estrada (a) e experimentais (b) cercadas por tela <strong>de</strong> arame <strong>do</strong> tipo alambra<strong>do</strong>,<br />

com 1,2 m <strong>de</strong> altura, para evitar danos <strong>de</strong> capivara (Hydrochoerus hydrochoeris). Monte Alegre <strong>do</strong><br />

Sul, SP, 2011.<br />

Quanto aos javalis asselvaja<strong>do</strong>s, seu controle é tarefa difícil, porque se embrenham em matas<br />

fechadas com extrema rapi<strong>de</strong>z, possuem faro muito apura<strong>do</strong>, apren<strong>de</strong>m rapidamente a evitar o homem<br />

e suas armadilhas, têm elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação aos varia<strong>do</strong>s ambientes, possuem taxa<br />

reprodutiva muito superior a qualquer outro animal da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Ungula<strong>do</strong>s e po<strong>de</strong>m atacar pessoas<br />

e animais com violência quan<strong>do</strong> acua<strong>do</strong>s, causan<strong>do</strong> graves ferimentos ou até a morte. À exceção <strong>de</strong><br />

algumas populações isoladas com características genéticas únicas, a União Internacional Para a Conservação<br />

da Natureza - IUCN, por meio <strong>de</strong> seu Grupo <strong>de</strong> Especialistas em Porcos e Pecarí<strong>de</strong>os, recomenda<br />

consi<strong>de</strong>rar todas as populações <strong>de</strong> suí<strong>de</strong>os (Sus scrofa) naturaliza<strong>do</strong>s como uma praga exótica<br />

a ser controlada, reduzida em número ou erradicada da forma mais a<strong>de</strong>quada possível. Atualmente, os<br />

méto<strong>do</strong>s mais eficientes no controle e na mitigação <strong>do</strong>s danos causa<strong>do</strong>s pelos javalis são a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

ações preventivas como a fiscalização e o fechamento <strong>de</strong> cria<strong>do</strong>uros clan<strong>de</strong>stinos e a atuação precoce<br />

a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um foco <strong>de</strong> javalis asselvaja<strong>do</strong>s, pois, ressalte-se, é muito difícil a erradicação<br />

<strong>de</strong> uma população estabelecida <strong>de</strong> javalis (<strong>de</strong>berdt, 2006).<br />

Em área experimental <strong>do</strong> Polo Regional em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul (SP), <strong>de</strong> 2006 a 2011, os javalis,<br />

inicialmente não a<strong>de</strong>ntravam a tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca, impeditiva ao seu acesso<br />

25<br />

Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho (b)<br />

Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

(a) (b)<br />

(a) (b)<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


a um experimento <strong>de</strong> abóboras (Figura 32). Motiva<strong>do</strong>s pela fome, entretanto, conseguiram invadir a<br />

área, alimentan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> quase to<strong>do</strong>s os frutos <strong>de</strong>ssa cucurbitácea (Figura 33). Diante <strong>de</strong>sse fato, em<br />

2012, ao re<strong>do</strong>r da cerca feita com tela plástica, foi necessária a instalação <strong>de</strong> uma cerca elétrica com<br />

três fios, <strong>de</strong> total eficácia <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> acesso <strong>do</strong> animal à área experimental, já que não se aproximam<br />

muito <strong>de</strong>pois da cerca instalada, manten<strong>do</strong> uns 3 m <strong>de</strong> distância <strong>de</strong>la (Figura 34). O custo médio<br />

<strong>de</strong>ssa cerca foi cerca <strong>de</strong> R$ 2,00 o metro, além <strong>de</strong> R$ 1,00 para instalação em 2012. Os valores foram<br />

calcula<strong>do</strong>s em função <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> R$ 170,00 da bateria, em caso <strong>de</strong> interrupção, temporária ou mais<br />

prolongada, <strong>de</strong> energia; <strong>de</strong> R$ 85,00 <strong>do</strong> aparelho <strong>de</strong> choque para eletricida<strong>de</strong> e bateria; <strong>do</strong>s mourões<br />

instala<strong>do</strong>s a cada 10 a 20 m, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o terreno; <strong>de</strong> R$ 1,00 <strong>de</strong> cada isola<strong>do</strong>r no mourão; <strong>de</strong><br />

R$ 8,00 <strong>de</strong> cada estica<strong>do</strong>r mais R$ 2,80 <strong>de</strong> cada isola<strong>do</strong>r nas extremida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> R$ 230,00 para mil<br />

metros <strong>de</strong> arame apropria<strong>do</strong>.<br />

Foto: Miguel Francisco <strong>de</strong> Souza Filho<br />

Figura 32. Área experimental <strong>de</strong> abóbora (Cucurbita moschata) cercada por tela plástica <strong>de</strong><br />

sombreamento branca para evitar danos <strong>de</strong> javali (Sus scroffa). Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP,<br />

2012.<br />

Foto: Miguel Francisco <strong>de</strong> Souza Filho<br />

Figura 33. Frutos <strong>de</strong> abóbora (Cucurbita moschata) consumi<strong>do</strong>s por javali (Sus scroffa) em área experimental<br />

cercada por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca. Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

26


27<br />

Foto: Miguel Francisco <strong>de</strong> Souza Filho<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 34. Cerca elétrica <strong>de</strong> três fios (a) instalada externamente à <strong>de</strong> tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

branca (b), como tentativa <strong>de</strong> impedimento <strong>do</strong> acesso <strong>de</strong> javali (Sus scroffa) a uma área experimental<br />

<strong>de</strong> abóbora (Cucurbita moschata). Monte Alegre <strong>do</strong> Sul, SP, 2012.<br />

Sobre o lebrão, uma das possíveis formas <strong>de</strong> seu controle nas condições <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />

<strong>Paulo</strong>, mas apenas para áreas <strong>de</strong> dimensões muito reduzidas, tem si<strong>do</strong> a utilização <strong>de</strong> cercas com telas<br />

<strong>de</strong> arame ou <strong>de</strong> plástico para impedir o acesso <strong>do</strong>s animais às lavouras <strong>de</strong> plantas mais suscetíveis.<br />

Isso foi constata<strong>do</strong> em áreas experimentais com a leguminosa adubo-ver<strong>de</strong> C. juncea em Campinas<br />

(Figura 35) e Mococa (Figura 36), em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. No caso <strong>de</strong>ssa espécie, se a área for cercada logo<br />

após a constatação <strong>do</strong> roe<strong>do</strong>r, ainda po<strong>de</strong>rá haver rebrota nas hastes jovens cortadas e a retomada <strong>do</strong><br />

crescimento, porém, com algum prejuízo na produção <strong>de</strong> fitomassa e <strong>de</strong> grãos (Figura 37).<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 35. Áreas experimentais com Crotalaria juncea L. cercadas por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

preta (a) e tela <strong>de</strong> arame (b) para impedir o acesso <strong>do</strong> lebrão (Lepus europaeus), em Campinas, SP,<br />

março <strong>de</strong> 2012.<br />

Foto: Jane Maria Carvalho Silveira<br />

(a) (b) (b)<br />

(a) (b)<br />

Figura 36. Parcelas <strong>de</strong> Crotalaria juncea L. cercadas por tela plástica <strong>de</strong> sobreamento branca para<br />

evitar acesso e danos <strong>do</strong> lebrão (Lepus europaeus) às plantas da leguminosa, no início <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

(a) e na floração (b). Mococa, SP, março <strong>de</strong> 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

28


29<br />

Foto: Elaine Bahia Wutke<br />

Figura 37. Rebrota <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> Crotalaria juncea L., com 30 dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, cortadas pelo lebrão<br />

(Lepus europaeus), em Campinas, SP, março <strong>de</strong> 2012.<br />

Em áreas maiores, entretanto, essa prática é inviável <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao eleva<strong>do</strong> custo total <strong>do</strong> material<br />

necessário para fechamento da área. Apenas como exemplo, na UPD <strong>de</strong> <strong>São</strong> Roque (SP), em 2011, foi<br />

orça<strong>do</strong> um custo aproxima<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$3,60 o metro da cerca, com tela <strong>de</strong> galinheiro <strong>de</strong> 1,5 m <strong>de</strong> altura,<br />

mas sem consi<strong>de</strong>rar a mão <strong>de</strong> obra necessária para sua montagem e instalação. Nessa localida<strong>de</strong>, a<br />

partir <strong>de</strong> 2010 e, após a constatação <strong>do</strong>s primeiros exemplares <strong>do</strong> lebrão, fez-se uma tentativa <strong>de</strong> convivência<br />

com os roe<strong>do</strong>res, utilizan<strong>do</strong>-se espantalhos e repelentes à base <strong>de</strong> pimentas e cabelo humano,<br />

mas o efeito foi temporário e não foram evita<strong>do</strong>s os danos econômicos.<br />

A Polícia Ambiental, o IBAMA e a Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> foram<br />

então contata<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s três órgãos <strong>de</strong>sconheciam os danos causa<strong>do</strong>s pelo lebrão, por falta <strong>de</strong><br />

relato <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> problema. Na sequência, a Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong> e Recursos Naturais,<br />

por meio <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Fauna da Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>monstrou interesse<br />

pelo assunto, comprometen<strong>do</strong>-se a estudá-lo com vista ao manejo <strong>do</strong> animal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os danos<br />

econômicos fossem comprova<strong>do</strong>s.<br />

Em 2012, um produtor <strong>de</strong> maracujá <strong>de</strong> Alumínio (SP), tentou impedir o acesso <strong>do</strong>s lebrões<br />

com cerca elétrica (Figura 38), mas essa forma <strong>de</strong> proteção não foi eficaz. Conseguiu algum resulta<strong>do</strong><br />

favorável com a proteção individual das plantas <strong>de</strong> maracujá <strong>do</strong> novo cultivo com sacos <strong>de</strong> ráfia (Figura<br />

39), mas, ainda assim, seu dano econômico foi estima<strong>do</strong> em cerca <strong>de</strong> R$ 25.000,00.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Sebastião Wilson Tivelli<br />

Figura 38. Detalhes <strong>de</strong> cerca elétrica com três fios utilizada como tentativa <strong>de</strong> impedimento <strong>do</strong> acesso<br />

<strong>do</strong> lebrão (Lepus europaeus) em cultura <strong>de</strong> maracujá (Passiflora sp.). Alumínio, SP, maio <strong>de</strong> 2012.<br />

Foto: Sebastião Wilson Tivelli<br />

Figura 39. Plantas <strong>de</strong> maracujá (Passiflora sp.) cercadas individualmente por sacos <strong>de</strong> ráfia plástica<br />

como tentativa <strong>de</strong> proteção contra o lebrão (Lepus europaeus). Alumínio, SP, agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

Quanto às maritacas, no <strong>IAC</strong>, em Campinas e no Polo Regional, em Monte Alegre <strong>do</strong> Sul<br />

(SP), foi impedi<strong>do</strong> o acesso <strong>de</strong>ssas aves, recobrin<strong>do</strong>-se culturas <strong>de</strong> girassol (Figuras 40 e 41) e <strong>de</strong><br />

trigo (Figura 42) com tela plástica <strong>de</strong> sombreamento branca, porém, apenas em pequenas áreas. Assim,<br />

foram evita<strong>do</strong>s prejuízos à produção <strong>de</strong> grãos e, consequentemente, às pesquisas em melhoramento<br />

genético com ambas as espécies. Ainda em Campinas (SP), evitaram-se os danos <strong>de</strong>ssas aves,<br />

recobrin<strong>do</strong>-se individualmente os capítulos <strong>de</strong> girassol (Figura 43) e as panículas <strong>de</strong> sorgo (Figura 44)<br />

com sacos <strong>de</strong> ráfia.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

30


31<br />

Foto: Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo<br />

Figura 40. Campo experimental <strong>de</strong> progênies <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.), ao entar<strong>de</strong>cer,<br />

recoberto por tela plástica <strong>de</strong> sobreamento preta, como proteção contra maritacas (Aratinga leucophthalma).<br />

Campinas (SP), 2012.<br />

Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 41. Campo experimental <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.) coberto por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

branca para evitar danos <strong>de</strong> maritaca (Aratinga leucophthalma) no verão. Monte Alegre<br />

<strong>do</strong> Sul (SP), fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


Foto: Joaquim A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho<br />

Figura 42. Campos experimentais <strong>de</strong> trigo (Triticum aestivum L.) cobertos por tela plástica <strong>de</strong> sombreamento<br />

branca para evitar danos <strong>de</strong> maritaca (Aratinga leucophthalma) no inverno. Monte Alegre<br />

<strong>do</strong> Sul (SP), agosto <strong>de</strong> 2006.<br />

Foto: Ama<strong>de</strong>u Regitano Neto<br />

Figura 43. Capítulos <strong>de</strong> girassol (Helianthus annuus L.) protegi<strong>do</strong>s individualmente por sacos <strong>de</strong><br />

ráfia plástica contra maritacas (Aratinga leucophthalma) e outros pássaros. Campinas (SP), 2012.<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

32


33<br />

Foto: Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo<br />

Figura 44. Plantas <strong>de</strong> sorgo (Sorghum sp.) com algumas panículas protegidas individualmente por<br />

sacos <strong>de</strong> ráfia plástica contra maritacas (Aratinga leucophthalma). Campinas (SP), 2012.<br />

No caso das pombas-amargosas, cabe <strong>de</strong>stacar que a eliminação <strong>de</strong>ssas aves por quaisquer<br />

méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> abate, como iscas envenenadas, envenenamento geral, aplicação <strong>de</strong> inseticidas e mesmo a<br />

caça com arma <strong>de</strong> fogo, além <strong>de</strong> proibida por Lei Ambiental, foi sempre ineficaz (okAWA et al., 2001).<br />

Como tentativa <strong>de</strong> redução populacional <strong>de</strong>ssa ave, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1993 a agosto <strong>de</strong> 1994 foi<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um programa oficial e abrangente <strong>de</strong> manejo, com base na coleta <strong>de</strong> ovos e ninhos, com<br />

a colaboração <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paranapanema – CDVale e das Cooperativas<br />

<strong>do</strong> Vale e a aprovação <strong>do</strong> IBAMA. Nesse perío<strong>do</strong>, foram coleta<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 20 milhões<br />

<strong>de</strong> ovos e filhotes das pombas, porém, sem qualquer eficácia <strong>de</strong> controle. Devi<strong>do</strong> à complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

ecossistema, ficou evi<strong>de</strong>nciada, como uma das soluções, a redução da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento disponível<br />

nas lavouras (rAnvAud, 1999).<br />

O méto<strong>do</strong> mais satisfatório <strong>de</strong> controle e <strong>de</strong> redução <strong>do</strong>s prejuízos econômicos causa<strong>do</strong>s por<br />

essas aves na agricultura ainda é seu afugentamento, fazen<strong>do</strong>-se bastante barulho. Para tal, são utiliza<strong>do</strong>s<br />

méto<strong>do</strong>s tradicionais, consistin<strong>do</strong> <strong>de</strong> tiros <strong>de</strong> rojão, buzinas, motocicletas sem silencia<strong>do</strong>r e<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012


atidas <strong>de</strong> latas. Para áreas inferiores a 25 hectares po<strong>de</strong>-se dispensar as motocicletas, utilizan<strong>do</strong>-se<br />

quatro afugenta<strong>do</strong>res a pé com o uso intensivo <strong>de</strong> rojões. O uso <strong>de</strong> motocicleta, por sua vez, está condiciona<strong>do</strong><br />

às a<strong>de</strong>quadas condições <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo, já que seu <strong>de</strong>slocamento po<strong>de</strong> ser dificulta<strong>do</strong><br />

ou mesmo impedi<strong>do</strong> logo após as chuvas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>slizamento e ao empastamento da roda pelo<br />

barro (okAWA et al., 2001).<br />

Cabe esclarecer que o afugentamento não precisa ser necessariamente uniforme, pois não há<br />

um padrão uniforme para a ocorrência da pomba-amargosa, ou seja, as lavouras não são prejudicadas<br />

na mesma intensida<strong>de</strong>. Em Tarumã (SP), região <strong>do</strong> Médio Vale <strong>do</strong> Paranapanema, safra 1998/1999,<br />

foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s comparativos <strong>de</strong> custos entre méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> afugentamento <strong>de</strong> pombasamargosas.<br />

Na ocasião, foram estima<strong>do</strong>s valores médios <strong>de</strong> R$13,56 e R$36,68 por hectare, respectivamente,<br />

com os méto<strong>do</strong>s tradicionais e com um então méto<strong>do</strong> inova<strong>do</strong>r, constan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sobrevoos<br />

com um aeromo<strong>de</strong>lo teleguia<strong>do</strong>, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> especialmente para o estu<strong>do</strong> (okAWA et al., 2001).<br />

Em tempos mais recentes, o méto<strong>do</strong> mais a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> nas áreas cultivadas sobretu<strong>do</strong> com soja,<br />

ainda tem si<strong>do</strong> o afugentamento por barulho <strong>de</strong> rojões e, eventualmente, por motocicletas. Como a incidência<br />

das aves é proporcionalmente menor nas áreas maiores, os custos <strong>de</strong> afugentamento po<strong>de</strong>m<br />

ser reduzi<strong>do</strong>s com a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> talhões com formas <strong>de</strong> menor relação perímetro/área, como no caso<br />

<strong>de</strong> áreas quadradas em relação àquelas retangulares ou dispostas em faixas compridas (okAWA et al.,<br />

2001).<br />

A estratégia <strong>de</strong> parcelamento das épocas <strong>de</strong> semeadura para favorecimento <strong>do</strong> afugentamento<br />

po<strong>de</strong> ser contraindicada, sen<strong>do</strong> recomendável a semeadura da maior área contínua possível <strong>de</strong> uma<br />

única vez e o incremento da equipe e <strong>do</strong> equipamento <strong>de</strong> afugentamento. Essa estratégia po<strong>de</strong> ser viável<br />

por meio <strong>de</strong> mutirões <strong>de</strong> semeadura e <strong>de</strong> afugentamento entre os agricultores, reduzin<strong>do</strong>-se os custos<br />

por hectare. Como medida complementar, tem-se, ainda, a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas agrícolas favoráveis<br />

à melhoria da uniformida<strong>de</strong> da lavoura e à redução <strong>do</strong> tempo, tanto <strong>de</strong> emergência das plântulas <strong>de</strong><br />

soja quanto daquele <strong>de</strong> mais suscetibilida<strong>de</strong> da cultura às pombas. Tais práticas seriam, por exemplo,<br />

a utilização <strong>de</strong> sementes com qualida<strong>de</strong> fisiológica e sanitária, melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> preparo da<br />

área <strong>de</strong> cultivo ou a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> plantio direto, com controle da profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> semeadura<br />

(okAWA et al., 2001).<br />

Cabe ressaltar que o aumento populacional das pombas nas lavouras é consequência da quantida<strong>de</strong><br />

crescente <strong>de</strong> alimento, disponibilizada nos <strong>de</strong>sperdícios das colheitas e que <strong>de</strong>vem ser obrigatoriamente<br />

reduzi<strong>do</strong>s. Para tal, <strong>de</strong>vem ser otimizadas as operações agrícolas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o preparo <strong>do</strong> solo<br />

até o armazenamento <strong>do</strong>s produtos, além da redução das plantas infestantes na área cultivada (okAWA<br />

et al., 2001).<br />

<strong>Documentos</strong>, <strong>IAC</strong>, Campinas, 110, 2012<br />

4. CONCLUSÃO<br />

Diante <strong>do</strong> exposto, da verificação habitual <strong>de</strong>sses animais silvestres e <strong>do</strong>s consequentes e<br />

severos prejuízos às culturas e aos agricultores no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, inclusive em áreas não<br />

usualmente consi<strong>de</strong>radas seus habitats, constata-se a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s científicos e levantamentos<br />

sistemáticos <strong>de</strong> sua ocorrência, <strong>de</strong> quantificação <strong>do</strong>s danos econômicos e, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecimento <strong>de</strong> alternativas tanto <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> acesso <strong>do</strong>s animais às áreas cultivadas quanto<br />

<strong>de</strong> manejo populacional racional, ecológico e respeitoso às vidas animal e humana, sem <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar<br />

a preservação da biodiversida<strong>de</strong> e a proteção <strong>do</strong>s ecossistemas naturais.<br />

34


No contexto <strong>do</strong> manejo integra<strong>do</strong>, cabe ressaltar a relevância da conscientização e da mudança<br />

<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> produtor rural nos assuntos <strong>de</strong> proteção e das leis <strong>de</strong> crime ambiental, objetivan<strong>do</strong>se<br />

seu efetivo comprometimento na conservação <strong>do</strong>s recursos naturais na proprieda<strong>de</strong> e nas regiões<br />

circunvizinhas e consequente manutenção frequente <strong>do</strong> habitat da fauna silvestre.<br />

Como resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> esforços mais recentes, foram encaminha<strong>do</strong>s relatórios da ocorrência <strong>de</strong><br />

alguns animais silvestres, exóticos em sua quase totalida<strong>de</strong>, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s lebrões, e uma solicitação<br />

<strong>de</strong> providências, tais como o manejo da espécie ou o controle <strong>de</strong> sua reprodução, tanto à Secretaria <strong>do</strong><br />

Meio Ambiente <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> quanto ao Ministério Público Estadual.<br />

Em 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2012, um Grupo <strong>de</strong> Trabalho da Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente/SMA-SP<br />

esteve nos municípios <strong>de</strong> <strong>São</strong> Roque, Alumínio e Ibiúna (SP), para elaborar um levantamento <strong>do</strong> dano<br />

econômico relaciona<strong>do</strong> ao lebrão. Na sequência, foi proposta a criação <strong>de</strong> um Termo <strong>de</strong> Cooperação<br />

entre as Secretarias <strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento/SAA <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />

para estu<strong>do</strong>s sobre o javali e a lebre. Da SAA, será inicialmente <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> um grupo <strong>de</strong> trabalho<br />

a ser constituí<strong>do</strong> por quatro funcionários <strong>de</strong>ssa Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> para discussão <strong>de</strong> assuntos <strong>de</strong><br />

manejo <strong>de</strong> fauna-problema.<br />

35<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem à engenheira-agrícola Jane Maria Carvalho Silveira, aos engenheirosagrônomos<br />

Arlete Marchi Tavares <strong>de</strong> Melo, Fabrício Rossi, Jorge Luís Miguel, Júlio César Zambão,<br />

Hugo <strong>de</strong> Souza Dias, Sergio Minoro Hanai, Roberto Hiroto Anbo, ao físico e professor Ronald Dennis<br />

Paul Kenneth Clive Ranvaud e ao médico-veterinário Vicente Garcia Fregonesi pelos relatos e/ou<br />

imagens ilustrativas, gentilmente libera<strong>do</strong>s e autoriza<strong>do</strong>s para divulgação.<br />

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Instituto Agronômico<br />

Centro <strong>de</strong> Comunicação e Transferência <strong>do</strong> Conhecimento<br />

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