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Untitled - FALE - UFMG

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sabe de onde nem quando, trazendo consigo a instabilidade, a destruição<br />

e a violação e, por esses motivos, deve ser temido e dele se proteger. Para<br />

aquele que não segue os conselhos alheios, resta o castigo, o “destino”<br />

de ser presa e a esperança de ser salvo por alguém.<br />

De quibungos e meninos busca, então, apresentar narrativas “brasileiras”<br />

e chegadas da África sobre esse monstro, tendo como ponto de<br />

partida o fragmento “Nenhum dos mortos era jovem demais para assaltar<br />

bebês mortos marchando para a cidade dos mortos”, do livro O bebedor<br />

de vinho de palmeira, do escritor nigeriano Amos Tutuola. Esse fragmento<br />

narra a fuga do narrador-personagem “Pai de todos os deuses” de um<br />

monstro cujas características nos remete ao quibungo.<br />

A partir disso, as narrativas selecionadas são consideradas como<br />

transcriações da tradição oral. A transcriação, nesse caso, não se resume<br />

a um processo tradutório, ou seja, apenas linguístico-cultural, mas<br />

também é um fenômeno sociocultural. Trata-se da assimilação de uma<br />

personagem no nosso imaginário de pavores por meio dos contadores<br />

de histórias que pertenciam a outras culturas e aqui disseminavam suas<br />

crenças e temores, além daqueles que nelas acreditavam e repassavamna<br />

para frente. Assim, tais narrativas possuem uma herança em comum,<br />

como aponta Antonio Risério, 1 não podendo ser consideradas a “origem”,<br />

mas aproximando-se dela.<br />

Essa ideia de aproximação, comum às transcrições de narrativas<br />

orais e as criações que se apropriam dessas histórias, contribuíram para<br />

a escolha em divulgar a autoria dos textos selecionados apenas na bibliografia,<br />

denominada aqui, “Eles que me contaram”. Dessa maneira, a<br />

própria noção de autoria não é priorizada, considerando-os transcriadores<br />

e transcritores, “porta-vozes” desse imaginário afro-brasileiro.<br />

Ainda com relação aos textos, é importante destacarmos as nossas<br />

escolhas editoriais. Como muitas dessas transcrições foram publicadas na<br />

primeira metade do século XX, elas possuem alguns “arcaísmos” no que<br />

se refere à ortografia, ao léxico e, em raros casos, à sintaxe. Optamos,<br />

então, por trocar palavras, como excogitar por matutar ou pensar; alterar<br />

a grafia da ênclise, de matal-a para matá-la; retirar os acentos circunflexos<br />

de algumas palavras, como preto; modificar, em alguns casos, a<br />

1 RISÉRIO. Oriki, Orixá, p. 79-108.<br />

6 De Quibungos e meninos<br />

pontuação, e interferir na sintaxe, esclarecendo trechos que poderiam ser<br />

de difícil compreensão.<br />

Esta segunda edição conta ainda com os artigos “Uma vez um quibungo”,<br />

de Josiley Souza, e “A terrível parábola: as versões de um poema<br />

de João Guimarães Rosa”, de Luiz Claúdio Vireira de Oliveira, além de<br />

“Quibungo”, de Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos do folclore<br />

brasileiro; um glossário de palavras de origem africana contidas nas histórias,<br />

com exceção dos cantos (pois, para isso, seria necessário um longo<br />

estudo dos dialetos e variações em que eles estão transcritos); as anotações<br />

feitas pelos estudiosos que transcreveram algumas das narrativas;<br />

uma seção dedicada às outras monstruosidades brasileiras e indicações<br />

bibliográficas de quibungos e monstros.<br />

Mariana Pithon<br />

Apresento a vocês os Quibungos 7

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