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Conversas com quibungos Escritos sobre quibungos 50 Lobishome e a menina 51 A aranha caranguejeira e o quibungo 55 O Quibungo e a cachorra 56 A filha que ficou com o seu pai 59 A minina que ficô morano mais o pai 63 Quibungo 69 A terrível parábola: as versões de um poema de João Guimarães Rosa 86 Uma vez um quibungo 107 Para quem não sabe... 109 Quibungos, bichos-papões e outras monstruosidades 111 Um pouco mais das narrativas 115 Eles que me contaram... 120 Os caçadores de quibungo Apresento a vocês os Quibungos O quibungo é, na tradição oral, o monstro devorador de crianças, tema de assombrações e de ameaças para disciplinar as desobediências infantis. Malvado, bruto e perverso, ele é considerado por muitos, como os bantos, um lobo, o que o aproxima de um lobisomem, um monstro metade gente, metade bicho, com seu corpo peludo e suas grandes garras. No Brasil, uma de suas facetas é o bicho-papão, monstro com quem possui grandes semelhanças, entre elas a “boca-bolsa-papo”, que se abre ao abaixar a cabeça engolindo suas vítimas sem mastigar. Esse monstro pode ser visto como a criatura de Ogum, a inevitável mutação do negro velho, o empenho da madrasta em assustar e controlar a sua afilhada por meio da ameaça, o eco do medo que os pequenos têm ao ficarem a sós, ou ainda o Cabunda, bando africano conhecido como invasor, assaltante e destruidor das tribos africanas. Nas narrativas, a sua aparição é marcada por finais trágicos ou não, tendo a noite na mata, um local genérico e nebuloso, como palco de suas ações. Além disso, há também os diálogos cantarolados, que são uma presente influência dos alôs, histórias cantadas ou recitadas oriundas do continente africano. Enquanto monstruosidade, o quibungo é um monstro cultural e pedagógico, na medida em que simboliza a interdição de um comportamento, agindo sempre quando há a quebra deste: deixar uma porta aberta ou permanecer na mata à noite. Ele também possui um caráter de invasor, é aquele que tem a sua existência desconhecida pelas pessoas e vem não se
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Conversas<br />
com quibungos<br />
Escritos<br />
sobre quibungos<br />
50 Lobishome e a menina<br />
51 A aranha caranguejeira e o quibungo<br />
55 O Quibungo e a cachorra<br />
56 A filha que ficou com o seu pai<br />
59 A minina que ficô morano mais o pai<br />
63 Quibungo<br />
69 A terrível parábola: as versões<br />
de um poema de João Guimarães Rosa<br />
86 Uma vez um quibungo<br />
107 Para quem não sabe...<br />
109 Quibungos,<br />
bichos-papões e outras monstruosidades<br />
111 Um pouco mais das narrativas<br />
115 Eles que me contaram...<br />
120 Os caçadores de quibungo<br />
Apresento a vocês os Quibungos<br />
O quibungo é, na tradição oral, o monstro devorador de crianças, tema de<br />
assombrações e de ameaças para disciplinar as desobediências infantis.<br />
Malvado, bruto e perverso, ele é considerado por muitos, como os bantos,<br />
um lobo, o que o aproxima de um lobisomem, um monstro metade gente,<br />
metade bicho, com seu corpo peludo e suas grandes garras. No Brasil,<br />
uma de suas facetas é o bicho-papão, monstro com quem possui grandes<br />
semelhanças, entre elas a “boca-bolsa-papo”, que se abre ao abaixar a<br />
cabeça engolindo suas vítimas sem mastigar.<br />
Esse monstro pode ser visto como a criatura de Ogum, a inevitável<br />
mutação do negro velho, o empenho da madrasta em assustar e controlar<br />
a sua afilhada por meio da ameaça, o eco do medo que os pequenos têm<br />
ao ficarem a sós, ou ainda o Cabunda, bando africano conhecido como<br />
invasor, assaltante e destruidor das tribos africanas.<br />
Nas narrativas, a sua aparição é marcada por finais trágicos ou não,<br />
tendo a noite na mata, um local genérico e nebuloso, como palco de suas<br />
ações. Além disso, há também os diálogos cantarolados, que são uma<br />
presente influência dos alôs, histórias cantadas ou recitadas oriundas do<br />
continente africano.<br />
Enquanto monstruosidade, o quibungo é um monstro cultural e pedagógico,<br />
na medida em que simboliza a interdição de um comportamento,<br />
agindo sempre quando há a quebra deste: deixar uma porta aberta ou<br />
permanecer na mata à noite. Ele também possui um caráter de invasor, é<br />
aquele que tem a sua existência desconhecida pelas pessoas e vem não se