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Untitled - FALE - UFMG

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– Ei! Minha gente é o quibungo!<br />

– Eu bem que dizia que aqui tem quibungo!<br />

– O que há de ser agora?<br />

– Daqui que a gente chegue em casa está tudo perdido: o quibungo<br />

nos come!<br />

Quando quiseram correr, o menino disse:<br />

– Minha gente, esperem aí. Ninguém corra, não. Fiquem quietos.<br />

Sosseguem. Cada um vá segurando bem o seu peixe.<br />

Dito isso, mandou que ficassem todos em fila, um atrás do outro, e<br />

foi entregando a cada um uma pena de asa e outra de rabo de passarinho,<br />

recomendando:<br />

– Prendam a pena de asa nos dentes e a de rabo debaixo do braço.<br />

Quando acabou de distribuir as penas por todos, sacudiu o saco de<br />

boca para baixo e as duas últimas que caíram foram para ele. Em seguida,<br />

ficou no último lugar da fila. Foi quando eles viram aquele quibungo enorme,<br />

roncando e quebrando mato. Logo que foi chegando junto do primeiro<br />

da fila, foi estendendo as unhas para agarrá-lo. Aí, o menino cantou:<br />

Esse é meu pai,<br />

Auê,<br />

Gangaruê, tu cai,<br />

Não cai.<br />

O quibungo deu um urro – exe! – e encolheu a mão, dirigindo-se<br />

ao segundo da fila. O rapazinho cantou:<br />

Essa é minha mãe,<br />

Auê,<br />

Gangaruê, tu cai,<br />

Não cai.<br />

Assim, o quibungo passou por todos os parentes do menino, sem<br />

poder pegar nem um deles, porque, quando ia estendendo as unhas para<br />

agarrá-los, ele cantava daquele jeito.<br />

À medida que o quibungo ia avançando, iam nascendo asas aos que<br />

deixava atrás. Quando foi chegando junto do menino, este prendeu as penas<br />

do modo que recomendara aos outros, e também lhe nasceram asas.<br />

Então eles todos fizeram – rrrúuu... – voando por ali afora em casa. Foram<br />

chegando e sentando-se no terreiro para descansar. Alguns disseram:<br />

40 Fugas e ataques<br />

– Agora o quibungo não vem mais. Vamos tratar os peixes.<br />

Respondeu o menino:<br />

– O quibungo vem.<br />

Ficaram então pensando como havia de ser para eles darem cabo<br />

do maldito quibungo. O menino foi e lembrou, o seguinte:<br />

– Vamos cavar um buraco bem fundo aqui em frente da porta e depois<br />

enfincamos uns estrepes dentro. Na beira do buraco se faz uma figura<br />

parecendo gente. Quando o quibungo vier para pegar a figura, enganado,<br />

cai dentro do buraco e se estrepa todo. Aí, a gente acaba de matar ele.<br />

Foi dito e feito. Cavado o buraco e fincados os estrepes, taparam-lhe<br />

a boca com umas varas e folhas de bananeira, botando uma camadinha<br />

de terra por cima. Acabado esse serviço, armaram a figura na porta da<br />

casa com duas varas em cruz, enfiando nelas uma calça e uma camisa, e<br />

pondo um chapéu ao alto. Quando ficou tudo pronto, foram se esconder.<br />

Daí a pouco ouviram o quibungo roncar. Assim que ele foi chegando,<br />

foi vendo a figura na porta e dando um pulo para agarrá-la; mas<br />

caiu dentro do buraco e estrepou-se. Já sabe. O pessoal acudiu todo, e,<br />

homens, mulheres e meninos, uns de cacete, outros de facão, outros de<br />

foice, voaram em cima dele, liquidando-o num abrir e fechar d’olhos.<br />

Foi uma pagodeira em casa, porque finalmente estavam livres daquele<br />

quibungo terrível e podiam ir pescar, quando quisessem, sem medo<br />

nenhum, ficando todos muito satisfeitos com o menino que tinha feito com<br />

que eles não caíssem nas unhas do bicho e, por fim, ensinado o meio de<br />

darem cabo do mesmo.<br />

O quibungo e o menino do saco de penas 41

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