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Untitled - FALE - UFMG

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– Quibungo, esta nação é sua. Defenda ela.<br />

– Ah, meu senhor, nem lhe conto.<br />

O “cachorrão” levantou a cabeça pra ver os grupos de inimigos<br />

que já vinham à beira do rio. Aí chupou o vento com as ventas e todas as<br />

pedras, grandes e pequenas, foram se juntando em roda dele.<br />

Quando os inimigos se preparavam para o combate, Quibungo deu<br />

cada latido que até a terra pareceu tremer e, lá vai pedrada. Que nem<br />

chuva de pedra. Depois marchou para os que ainda estavam vivos. Abria<br />

a boca da cara e os que eram sugados para dentro dela tinham que morrer<br />

afogados, pois ele fechava os beiços, e eles, não respirando, morriam<br />

e eram logo postos de banda. Os outros eram levantados do chão como<br />

poeira e iam entrando para a boca das costas sem saberem como. Tudo<br />

isso numa ligeireza de relâmpago. Não ficou um só pra contar história.<br />

O povo ficou muito contente e fez muita festa a Quibungo, mas o rei<br />

nem se abalou do lugar. Então o povo foi buscá-lo. No caminho só se viu<br />

foi aquela fumaceira: era o palácio real que estava tocando fogo. Ninguém<br />

se salvou dos que estavam com o rei. Nem ele.<br />

Quando menos se esperou, saiu de dentro das labaredas o negrinho<br />

encantado todo vestido de fogo e de fumaça. Quibungo abaixou a<br />

cabeça e foi coroado rei daquela nação. No mesmo instante o encantado<br />

desapareceu.<br />

14 A vida dos quibungos<br />

O quibungo e o filho Janjão<br />

Era uma vez um quibungo que casou com uma negra, da qual teve uma<br />

porção de filhos. Mas ele comia todos os filhos. O último, que nasceu<br />

a mulher escondeu num buraco, para que o quibungo não o comesse.<br />

Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando<br />

o pai chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa,<br />

que ele não saísse do buraco. Que ela quando o chamava, para lhe<br />

dar comida, sempre falava com a sua voz fina de mulher, que ele bem<br />

conhecia. Ora, um dia, em que o quibungo não achou bicho nenhum<br />

para comer no mato, nem menino para papar na cidade onde também<br />

às vezes andava de noite, voltou muito fraco para casa, onde não havia<br />

outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então, falando com<br />

voz fina, pela fraqueza, cantou:<br />

Toma lá curiá, meu filho!<br />

Toma lá curiá, meu filho!<br />

Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe<br />

trazia a comida de que ele tanto gostava, saiu do buraco e o quibungo<br />

o agarrou, para comê-lo. O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:<br />

Minha mãe sempre me dizia<br />

Que o quibungo me comeria...<br />

Minha mãe sempre me dizia<br />

Que o quibungo me comeria...<br />

E o quibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto.<br />

É por isso que o quibungo não tem mais mulher e nem filhos.

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