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Freio de Ouro - ABCCC

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Inimigo invisível, bactéria<br />

representa alto risco<br />

Luísa Roig Martins<br />

Os cavalos que habitam as áreas<br />

alagadiças são os mais suscetíveis<br />

à ação <strong>de</strong> um inimigo<br />

invisível, porém, perigoso: a bactéria<br />

Neorickettsia (Ehrlichia) risticii,<br />

causadora <strong>de</strong> uma síndrome diarreica<br />

chamada Erliquiose Monocítica<br />

Equina (EME). “Segundo levantamento<br />

epi<strong>de</strong>miológico feito em 2000,<br />

na beira da lagoa Mirim, os produtores<br />

relataram duas causas pra morte<br />

<strong>de</strong> cavalos: ou velhice ou churrio”,<br />

aponta Luiz Filipe Damé Schuch,<br />

docente <strong>de</strong> Doenças Infecciosas na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Veterinária da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas. O Jornal<br />

do Cavalo Crioulo conversou com o<br />

professor sobre o assunto. Confira, a<br />

seguir.<br />

JCC - Em que regiões po<strong>de</strong>mos<br />

encontrar ocorrências da EME?<br />

Luiz Filipe Schuch - A distribuição<br />

da doença é muito clara nas áreas<br />

alagadiças do sul do Brasil, na margem<br />

das lagoas, até o Uruguai. Há um<br />

caso isolado na Argentina e relatos<br />

em pântanos dos Estados Unidos e na<br />

Venezuela.<br />

46<br />

Geral<br />

Síndrome chamada Erliquiose Monocítica Equina (EME) ameaça, principalmente, animais que habitam áreas alagadiças<br />

Cavalo Crioulo | Março, 2013<br />

JCC - Como acontece a infecção?<br />

LFS - É um ciclo oral com vetores <strong>de</strong><br />

ambiente aquático. A bactéria causadora<br />

da doença habita um parasita que<br />

se <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong>ntro das espécies <strong>de</strong><br />

caramujos. Quando o cavalo apreen<strong>de</strong><br />

o pasto úmido e ingere o caramujo e o<br />

parasita, a bactéria se instala, ocasionando<br />

a infecção. É importante ressaltar<br />

que existe outro tipo <strong>de</strong> erliquiose,<br />

<strong>de</strong> distribuição mundial, transmitida<br />

pela bactéria Erlichia equi através <strong>de</strong><br />

carrapatos, causando babesiose e outras<br />

enfermida<strong>de</strong>s. Mas a EME é mais grave<br />

e mais significativa na região sul.<br />

JCC - Quais as principais características<br />

da doença?<br />

LFS - Conhecida como churrio, é uma<br />

doença <strong>de</strong> alta letalida<strong>de</strong> caracterizada<br />

por diarreia forte e rápida, escura e<br />

geralmente sem sangue, capaz <strong>de</strong> matar<br />

por <strong>de</strong>sidratação em um período entre<br />

12 e 24 horas. Em geral, nota-se um<br />

quadro <strong>de</strong> febre no início da infecção.<br />

JCC - Nos animais que não morrem,<br />

quais as consequências?<br />

LFS - Os cavalos po<strong>de</strong>m apresentar<br />

laminite (inflamação das lâminas do<br />

casco) e, nas fêmeas é comum ocorrer<br />

aborto com pouca diarreia não clínica.<br />

JCC - Como é feito o tratamento para<br />

a EME?<br />

LFS - O tratamento é feito com tetraciclina,<br />

um antibiótico que <strong>de</strong>ve ser<br />

administrado na veia, <strong>de</strong>vido à maior<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação. Mas o que se <strong>de</strong>ve<br />

enfatizar no tratamento é a hidratação,<br />

que também diminui a laminite. Em<br />

casos extremos, po<strong>de</strong>m ser utilizados<br />

até sete litros <strong>de</strong> soro por dia. É preciso<br />

uma observação cuidadosa. Se não há<br />

acompanhamento, quando o criador<br />

nota, o animal já está muito <strong>de</strong>bilitado.<br />

JCC - Quais são os animais mais<br />

sensíveis à bactéria?<br />

LFS - A doença atinge mais, mas<br />

não exclusivamente, animais soltos. O<br />

cavalo introduzido é muito mais sensível.<br />

Há uma ocorrência significativa <strong>de</strong><br />

gente que parou <strong>de</strong> criar equinos por<br />

esse motivo.<br />

Fotos Felipe Ulbrich<br />

JCC - Há alguma estação do ano que<br />

favoreça a infecção?<br />

LFS - No verão, além <strong>de</strong> os animais<br />

terem mais acesso ao pasto perto da<br />

água, o ciclo da bactéria é favorecido,<br />

pois há mais caramujos e mais tremató<strong>de</strong>os<br />

(parasitas) circulando na água<br />

amena. O caramujo é bem pequeno e<br />

po<strong>de</strong> se confundir com a areia: o adulto<br />

tem, no máximo, seis milímetros e está<br />

relacionado aos aguapés. Isso facilita as<br />

pesquisas, pois há cerca <strong>de</strong> quatro mil<br />

indivíduos por raiz.<br />

JCC - Qual é, em média, a taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> por EME?<br />

LFS - Por rebanho, em média, 5%<br />

a 20% por ano. O grau <strong>de</strong> infecção<br />

é bem gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições<br />

climáticas do lugar e do nível<br />

da lagoa.<br />

JCC - Existem outras formas <strong>de</strong><br />

infecção?<br />

LFS - A bactéria se aloja também em<br />

larvas <strong>de</strong> libélula. Se o cavalo aci<strong>de</strong>ntalmente<br />

ingeri-las, po<strong>de</strong> se infectar. Mas<br />

isto é raro, assim como é rara a infecção<br />

por transfusão sanguínea.

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