Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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CINEMA NA ERA DO MARKETING<br />
recém-empossa<strong>da</strong> sob contestação de todos os lados, sabia<br />
não ter controle total sobre a tropa.<br />
Esse foi um dos momentos dramáticos do episódio<br />
que estamos todos revendo nas telas, em O que é isso,<br />
companheiro?, de Bruno Barreto. Um prato feito para<br />
profissionais do suspense, gente dota<strong>da</strong> de olhar arguto<br />
sobre paixões e sentimentos humanos, roteiristas hábeis<br />
em reconstruir contextos ou desven<strong>da</strong>r, às vezes por<br />
meio de detalhes, a lógica de funcionamento de mecanismos<br />
decisórios em situações de tensão. Principalmente<br />
se todos têm a seu favor a liber<strong>da</strong>de que a recriação<br />
ficcional propicia. Recordemos a narrativa do filme:<br />
o agente <strong>da</strong> Marinha está a um passo de confirmar<br />
a informação mais cobiça<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele momento. Dificilmente<br />
teria outra chance como essa em sua carreira.<br />
Disfarça-se de trabalhador telefônico, sobe num poste<br />
a poucos metros <strong>da</strong> casa (passando de vigia a vigiado),<br />
instala as engenhocas de escuta. Uma vez lá em cima, o<br />
que faz? Liga para a namora<strong>da</strong>, é claro. Desce, tira o<br />
macacão e toca a campainha <strong>da</strong> casa, travestido de outra<br />
coisa qualquer. Só não mu<strong>da</strong> o próprio rosto, visível<br />
para os guerrilheiros, um pouco antes, no alto do poste.<br />
Segue-se curto diálogo. Seqüestradores e agentes farejam-se<br />
uns aos outros. Estes últimos se retiram, sendo<br />
seguidos numa rua deserta, a um metro e meio de<br />
distância, pelo saltitante guerrilheiro Paulo. Agachado<br />
atrás de um muro, nosso herói espicha o<br />
pescoço e ouve a comunicação dos militares com sua<br />
central. A base dos especialistas em segurança, como<br />
se vê, não tinha segurança nenhuma.<br />
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