Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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ENTREVISTA COM DANIEL AARÃO REIS Fº<br />
Argel, vieram os cubanos, e quando a mídia internacional<br />
quis nos ouvir, muito naturalmente indicamos o<br />
Gabeira como representante <strong>da</strong> organização para o contato<br />
com a mídia — e ele não gostou disso. Dizia que<br />
nós estávamos querendo confiná-lo a uma condição de<br />
jornalista, enquanto ele era um revolu-cionário, não era<br />
mais um jornalista. Posteriormente, quando os cubanos<br />
vieram nos encontrar (porque depois nós fomos todos<br />
para Cuba, ou pelo menos quase todos), o homem lá<br />
do aparelho de Estado cubano se comprazia sadicamente<br />
de chamá-lo de periodista (jornalista em castelhano) e<br />
ele se revoltava contra isso, ficava indignado, dizia que<br />
era provocação: “Eu sou um revolucionário, não sou<br />
um jornalista.” Mais adiante, com a derrota <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>,<br />
o Gabeira foi recuperar a sua visão crítica de intelectual<br />
refinado — que ele era quando aderiu à luta<br />
arma<strong>da</strong> —, e isso de certo modo o ajudou a percorrer a<br />
trajetória <strong>da</strong> autocrítica. Agora, to<strong>da</strong> essa visão crítica<br />
que aparece em O que é isso, companheiro? ele efetivamente<br />
não tinha. O que não significa que ele não era,<br />
então, uma pessoa já irônica, o que o distinguia de militantes<br />
mais sectários, mais truculentos. Realmente, no<br />
caso do Gabeira, apesar de to<strong>da</strong> a renúncia à condição<br />
de intelectual, seria uma falta de nuance muito grande<br />
não reconhecer que ele se distinguia naquele conjunto<br />
como uma pessoa mais irônica em relação aos nossos<br />
delírios, fraquezas, que ele compartilhava também,<br />
porque se não compartilhasse, não entrava na aventura.<br />
A aventura exigia uma completa adesão às concepções<br />
catastróficas que eram as nossas, a crença sem<br />
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