Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ENTREVISTA COM VERA SILVIA MAGALHÃES<br />
ESTADO – Quando e em que circunstâncias você foi presa?<br />
O que lhe aconteceu na prisão, que fez com que você saísse<br />
de cadeira de ro<strong>da</strong>s?<br />
VERA – Fui presa em março de 1970, numa ação de<br />
panfletagem junto com o Zílio, o Daniel Aarão Reis<br />
e a Regina Toscano. O José Roberto Spiegner, que<br />
era meu marido, já tinha morrido num cerco à nossa<br />
casa na Penha. A organização propôs um recuo depois<br />
do <strong>seqüestro</strong>, só fazíamos panfletagem de propagan<strong>da</strong>,<br />
tínhamos ain<strong>da</strong> o dinheiro de um assalto<br />
que havíamos feito à casa de, acho, um candi<strong>da</strong>to a<br />
vereador do MDB. Fomos todos muito torturados. Eu<br />
levei um tiro na cabeça, tive uma convulsão cerebral,<br />
muita tortura psicológica também — estou pagando<br />
até hoje por isso. A tortura foi enlouquecedora. Não<br />
sabia que dia, que hora era; quando eles me mostraram<br />
diante de um espelho, não me reconheci. Também<br />
não disse o que eles queriam e acho que foi melhor<br />
para a minha cabeça. Não acho que exista isso<br />
de heroísmo, depende de ca<strong>da</strong> um, de como você se<br />
sente. Nossa organização era muito ética, acho que a<br />
geração 1969 lutava por uma ética, uma estética, que<br />
continua até agora. Acho que deixamos legados éticos,<br />
estéticos, que você tem de lutar contra o lancelote<br />
de espa<strong>da</strong> na mão. A tortura é uma punição que<br />
te culpabiliza para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, para quem cedeu,<br />
é mais dura ain<strong>da</strong>. Foi muito barra-pesa<strong>da</strong>. Fiquei<br />
sem an<strong>da</strong>r por causa do pau-de-arara, muitas horas<br />
com os pés e as mãos amarrados, pendura<strong>da</strong>, levando<br />
choque. Mas quando cheguei em Argel me recuperei<br />
67