Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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ENTREVISTA COM VERA SILVIA MAGALHÃES<br />
ESTADO – No filme, o Jonas aparece como uma pessoa extremamente<br />
dura, disposta a matar qualquer companheiro<br />
que o desobedecesse. Era isso mesmo?<br />
VERA – Não, o Jonas era um quadro de origem camponesa,<br />
ele estava ali porque era um coman<strong>da</strong>nte militar<br />
mesmo. Os quadros políticos <strong>da</strong> ALN eram o Manoel<br />
Cyrillo e o Paulo de Tarso, que eram muito mais próximos<br />
de nós. O Jonas sabia manter a ordem, a disciplina,<br />
coisas fun<strong>da</strong>mentais para uma ação. Eu não ia conversar<br />
com ele sobre cinema, mas sobre revolução. Ele<br />
dizia que quem corresse, durante uma ação, ele atirava<br />
primeiro no militante e depois no policial. Evidentemente,<br />
isso era mais uma figura de efeito, de coman<strong>da</strong>nte<br />
de ação. Mas ele não falava que, quem desobedecesse,<br />
ele ia matar. Era muito fechado, sim. Parece que na casa<br />
ele relaxava mais, segundo me disse o Cláudio Torres,<br />
que estava lá, e entrava e saía. Mas o Jonas foi um cara<br />
heróico, que morreu estraçalhado na tortura, esquartejado,<br />
tinha tudo na mão, até mesmo onde ia ser a guerrilha<br />
rural, e não abriu na<strong>da</strong>. Também não houve isso do<br />
Gabeira ser designado para matar o embaixador. A<br />
tendência era não matar ninguém, era uma ação típica<br />
para ninguém morrer. O Jonas era uma pessoa dura,<br />
muito eficiente como coman<strong>da</strong>nte, mas nunca o ouvi<br />
falar em torturar o embaixador (como aparece no filme),<br />
nunca houve isso. Quando fomos soltar o embaixador,<br />
já sabíamos que a Marinha estava lá, mas fomos<br />
calmamente. O Cláudio que se precipitou e o carro de<br />
cobertura, onde eu também estava, afastou-se. E houve,<br />
sim, uma ordem do Exército para não abrir fogo, porque<br />
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