Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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ENTREVISTA COM VERA SILVIA MAGALHÃES<br />
ca fazíamos ações de conflito, mas ações bem prepara<strong>da</strong>s,<br />
em que não ocorressem tiroteios. Pensávamos num<br />
processo insurrecional, de ação vanguardista, e então<br />
decidimos que iríamos pegar o homem, isto é, o embaixador<br />
norte-americano. E esperávamos que dessa ação<br />
resultasse um rebuliço social. Mas nós não éramos uns<br />
bobos. Ao contrário, a gente estu<strong>da</strong>va desde os teóricos<br />
mais evidentes, como Marx e Engels, até Kant, Hegel,<br />
líamos Caio Prado Jr., Wanderley Guilherme — isso<br />
no que a gente chamava Organização Parapartidária, as<br />
OPPs, antes de entrarmos para a organização mesmo.<br />
Ain<strong>da</strong> nas OPPs, em termos práticos, fazíamos algumas<br />
ações para testar o futuro quadro, como tirar a placa de<br />
um carro etc. É difícil medir o tempo, nessa época, no<br />
sentido cronológico, para definir essa geração. É uma<br />
geração que vai lançar depois a guerrilha rural e faz antes<br />
as ações urbanas de propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> luta. Mas nós<br />
pensávamos também em romper com os preconceitos<br />
<strong>da</strong> família, com os casamentos formais — a gente se casava,<br />
mas não era uma coisa formal —, queríamos romper<br />
com a virgin<strong>da</strong>de. Era um momento de muita ebulição,<br />
era uma geração libertária. E isso aconteceu<br />
também no teatro, com o Zé Celso Martinez Corrêa,<br />
do Teatro Oficina, na música com o Tropicalismo, ca<strong>da</strong><br />
um com as suas ferramentas. Tinha também o Cinema<br />
Novo, nós freqüentávamos o Paissandu, discutíamos<br />
cinema. Dias antes <strong>da</strong> ação do <strong>seqüestro</strong>, vi com o meu<br />
marido na época, o José Roberto Spiegner, A chinesa,<br />
do Go<strong>da</strong>rd, e aquele filme polonês lindo, Cinzas e diamantes.<br />
O Carlos Zílio era artista plástico, parou de pin-<br />
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