Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
PAULO MOREIRA LEITE<br />
serva que, no final “só o personagem do embaixador parece<br />
ter história, não se esfumaça, merece referência”.<br />
O professor ficou incomo<strong>da</strong>do com esse tratamento<br />
diferenciado. “E as outras figuras desse episódio? Como<br />
lhes <strong>da</strong>r ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia para além do ocorrido?”<br />
Sem humanizar os personagens, o filme perde a<br />
chance de fazer um ajuste de contas honesto com algumas<br />
mitologias <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> — o máximo que mostra<br />
são traços de personali<strong>da</strong>de, como arrogância, autoritarismo.<br />
Mas havia muito a procurar. Há quem cultive<br />
a len<strong>da</strong> de que a luta arma<strong>da</strong> só foi inicia<strong>da</strong> depois que o<br />
regime bloqueou os espaços para a atuação política e a<br />
mobilização popular. É uma tese falsa, pois não havia<br />
carência de democracia apenas no governo. Havia grupos<br />
de esquer<strong>da</strong> treinando guerrilha antes <strong>da</strong> que<strong>da</strong> de<br />
João Goulart, e os assaltos a Banco destinados a financiar<br />
estruturas clandestinas são anteriores ao AI-5. Essa<br />
fatia <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> produzia seu beco sem saí<strong>da</strong>, um impasse<br />
resolvido pela força bruta, com seu esmagamento.<br />
Desprezavam-se os valores democráticos. Não se apostava<br />
na ação política. O modelo visto como ideal para o<br />
país era uma ditadura, o regime de Fidel Castro.<br />
Como acontece com qualquer filme, do mais popular<br />
ao mais erudito, O que é isso, companheiro? é uma<br />
montagem e uma remontagem. Uma história que se<br />
conta conforme o ponto de vista de quem filma. Não<br />
havia por que discutir quem venceu e quem perdeu numa<br />
escala<strong>da</strong> de violência que, inicia<strong>da</strong> em 1969, já estava<br />
encerra<strong>da</strong> em 1972, quando os últimos integrantes <strong>da</strong>s<br />
organizações arma<strong>da</strong>s sobreviviam numa delinqüência<br />
59