Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UM PASSADO IMPREVISÍVEL<br />
considerável. Não seria possível, em curto artigo 1 , passar<br />
em revista todos os autores relevantes. O que desejo,<br />
sem exaurir o assunto, é selecionar algumas versões<br />
emblemáticas, tentar encontrar o seu significado no contexto<br />
<strong>da</strong> luta pela apropriação <strong>da</strong> memória. O que menos<br />
importa, esclareçamos logo de início, são as intenções<br />
conscientes dos autores no momento em que elaboraram<br />
as versões. Os textos, desde que escritos e divulgados,<br />
distanciam-se dos autores, adquirem vi<strong>da</strong> autônoma. São<br />
eles que me interessam. E, sobretudo, o papel social e<br />
histórico que desempenharam e seguem desempenhando.<br />
A versão mais difundi<strong>da</strong> apresenta os movimentos<br />
revolucionários dos anos 60 como uma grande aventura,<br />
no limite <strong>da</strong> irresponsabili<strong>da</strong>de: ações treslouca<strong>da</strong>s.<br />
Boas intenções, claro, mas equivoca<strong>da</strong>s. Uma fulguração,<br />
cheia de luz e de alegria, com contrapontos trágicos,<br />
muita ingenui<strong>da</strong>de, vontade pura, puros desejos, ilusões.<br />
Diante do profissionalismo <strong>da</strong> ditadura, o que restava<br />
àqueles jovens? Ferraram-se. Mas demos todos boas risa<strong>da</strong>s.<br />
Afinal, o importante é manter o bom humor.<br />
Estamos falando, como é fácil supor, dos livros de<br />
Fernando Gabeira e de Zuenir Ventura 2 . No texto de<br />
Ventura, o ano começa com uma festa de “arromba”,<br />
<strong>da</strong> sua “tchurma”, por coincidência. E o simpático bairro<br />
de Ipanema transforma-se no umbigo do país, ali se<br />
1. Veja indicações bibliográficas no artigo “Que história é essa?”, de<br />
Marcelo Ridenti, na página 11 desta edição.<br />
2. GABEIRA, Fernando. O que é isso, companheiro? Rio de Janeiro,<br />
Codecri, 1979. VENTURA, Zuenir. 1968 — o ano que não terminou. Rio<br />
de Janeiro, Nova Fronteira, 1988.<br />
34