Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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EUGÊNIO BUCCI<br />
se a mesma estrutura dramática que possui, teríamos o seguinte<br />
esquema: de um lado ditadura (opressão, tortura, censura,<br />
imperialismo); de outro lado o povo oprimido; no centro,<br />
os representantes do povo (a esquer<strong>da</strong> arma<strong>da</strong>); e um<br />
terceiro, um elemento externo que seria o embaixador seqüestrado.<br />
Mas o esquema do filme é claramente outro: de<br />
um lado os torturadores e a polícia, com seus dramas existenciais;<br />
de outro lado os guerrilheiros, com seus dramas<br />
comportamentais; no centro, atenção, num trono equidistante<br />
entre os dois pólos, o embaixador compreensivo, humanista,<br />
democrata resignado. Nesse caso, é por ser o centro<br />
que ele precisa ser o narrador — ou vice-versa. E é só por<br />
que ele é o centro que o torturador pode (e precisa) adquirir<br />
uma estatura tão sofistica<strong>da</strong>. Afinal, tanto quanto os guerrilheiros,<br />
os torturadores representam um extremo, o exato<br />
negativo do outro, tão errado quanto seu oposto. Se o centro<br />
estivesse na esquer<strong>da</strong>, aí seria impensável algo mais sofisticado<br />
que um gorila para representar o torturador. Mas,<br />
<strong>da</strong> perspectiva do embaixador, havia dois lados em conflito,<br />
ambos sem razão, posto que a virtude estaria no centro.<br />
Assim, os excessos de um justificariam os excessos do outro,<br />
numa escala<strong>da</strong> de violência sem culpados.<br />
Como Charles Elbrick não é um simples agente <strong>da</strong><br />
CIA, mas um humanista de convicções democráticas, sua<br />
condição de centro alcança mais legitimi<strong>da</strong>de. Como<br />
sujeito narrador, ele não encarna o imperialismo, mas o<br />
lado mais civilizado (civilizador) dos Estados Unidos <strong>da</strong><br />
América, alguém que tem a clareza necessária sobre a<br />
ineficácia dos regimes de exceção. Ele chega a declarar<br />
isso em uma cena. A coisa não só não parece inteiramen-<br />
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