Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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RENATO TAPAJÓS<br />
te o impede, para não colocar em risco a vi<strong>da</strong> do embaixador.<br />
Nenhum outro grupo <strong>da</strong> repressão é apresentado,<br />
nenhuma relação fora <strong>da</strong>quela uni<strong>da</strong>de se estabelece.<br />
Sabe-se, no entanto, que durante o <strong>seqüestro</strong> real, um<br />
imenso aparato repressivo foi montado. Dezenas, talvez<br />
centenas de casas foram vigia<strong>da</strong>s. A localização <strong>da</strong><br />
casa foi resultado de uma mobilização repressiva sem<br />
precedentes. De novo, temos aqui a tal liber<strong>da</strong>de do tratamento<br />
ficcional. Que resulta, como sempre, numa distorção:<br />
o filme minimiza o aparelho repressivo (de novo<br />
o “grupo fora de controle”) e com isso minimiza e banaliza<br />
o <strong>seqüestro</strong> do embaixador Elbrick.<br />
Além disso tudo, há um outro aspecto, que diz mais<br />
diretamente respeito à linguagem cinematográfica utiliza<strong>da</strong>.<br />
Bruno Barreto domina a narrativa clássica do cinema.<br />
Mas a opção que faz, num filme que se pretende<br />
de ação, de desdramatizar cinematograficamente as seqüências<br />
mais tensas resulta, ain<strong>da</strong> uma vez, num retrato<br />
falso. O filme não é capaz de sugerir, nem de longe, a<br />
tensão e a adrenalina que banhavam a vi<strong>da</strong> clandestina<br />
nas organizações arma<strong>da</strong>s. Parece tudo muito burocrático,<br />
muito banal. Até mesmo as ações arma<strong>da</strong>s (assalto<br />
ao Banco, <strong>seqüestro</strong> do embaixador), a tortura e a vi<strong>da</strong><br />
no aparelho são apresenta<strong>da</strong>s sem muitos sobressaltos.<br />
Há um certo clima blasé, uma ponta de tédio, uma banali<strong>da</strong>de<br />
suburbana em tudo o que acontece. Isso é gerado<br />
pelas escolhas formais de direção: enquadramentos,<br />
cortes, ritmo, tom <strong>da</strong> interpretação. Não nos parece<br />
deficiência no domínio <strong>da</strong> linguagem cinematográfica:<br />
quando o diretor quer criar uma cena tensa e profun<strong>da</strong>-<br />
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