Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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ALIPIO FREIRE<br />
cipais: os militantes <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> já tinham sido, no bloco<br />
anterior, desqualificados, incapazes portanto de produzir<br />
um texto sobre o qual o autor desdobra-se em elogios,<br />
inclusive sobre seus aspectos formais, quando observa a<br />
tentativa (do manifesto)<br />
ain<strong>da</strong> que não elabora<strong>da</strong>, de fugir à velha lengalenga<br />
<strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, aos discursos muito bacharelescos que<br />
não atraíam ninguém. Neste sentido, a experiência<br />
dos textos dos panfletos que se produziam diariamente<br />
no movimento operário foi aproveita<strong>da</strong> pelo re<strong>da</strong>tor.<br />
(O que é isso, companheiro?, p. 114, editora Codecri,<br />
4ª edição)<br />
Até este ponto do folhetim, Gabeira é o único personagem<br />
capaz de transcender tal “lengalenga”. O manifesto<br />
é tratado ao longo do capítulo (p. 113 a 115) na<br />
primeira pessoa do plural — o que pressupõe diversos<br />
autores ou um plural majestático —, e apenas no<br />
parágrafo que citamos acima surge, depois de uma enxurra<strong>da</strong><br />
de sujeitos sem os complementos nominais<br />
necessários à clareza do texto ou simplesmente indefinidos,<br />
um autor singular: “o re<strong>da</strong>tor”. Aliás, uma palavra<br />
muito bem escolhi<strong>da</strong>, pois logo abaixo <strong>da</strong> sua superfície<br />
podemos ler “jornalista”. O leitor foi bombardeado desde<br />
o primeiro capítulo do livro com a informação de<br />
que “Gabeira é jornalista” — “as palavras que se ponham<br />
sentido”, diria o Ovo, personagem de Alice no país dos<br />
espelhos.<br />
O capítulo coloca ain<strong>da</strong> o ficcional-Gabeira diante<br />
do embaixador como um duplo e simétrico, quando <strong>da</strong><br />
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