Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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IZAÍAS ALMADA<br />
gente capaz de fuzilar qualquer um, por que os uniformes<br />
militares <strong>da</strong> repressão são escamoteados? Sobre<br />
a ditadura, a “ficção”; sobre a esquer<strong>da</strong> revolucionária,<br />
a “reali<strong>da</strong>de”. Ingenui<strong>da</strong>de? Má-fé? Pesquisa histórica<br />
superficial? Liber<strong>da</strong>de de criação? Oportunismo para<br />
cativar o mercado norte-americano e branquear o arbítrio<br />
para os que financiaram aqui a repressão? Penso<br />
que quaisquer destas alternativas não respondem à<br />
questão de fundo. Ou não lhe dão a devi<strong>da</strong> sustentação<br />
ideológica. O filme é mais que isso: é uma visão hipócrita<br />
dos nossos anos 60. E também maniqueísta, malgré lui.<br />
Não estou afirmando que Bruno Barreto seja hipócrita.<br />
Apenas criou uma peça artística firmemente convicto<br />
de que podia lançar um olhar isento sobre o Brasil<br />
<strong>da</strong> ditadura militar. Só que o Brasil preso, torturado,<br />
calado, humilhado, exilado, ficou sem voz, ausente <strong>da</strong><br />
história oficial e do filme. Por conseqüência, sujeito à<br />
visão arrogante e hipócrita dos vencedores, os mesmos<br />
que educaram a geração de Barreto, ain<strong>da</strong> bem jovem<br />
quando os fatos ocorreram.<br />
Num país onde se compram votos para aprovar a<br />
reeleição em causa própria, também se fazem filmes<br />
como O que é isso, companheiro?. Uma coisa tem exatamente<br />
a ver com a outra... No entanto, companheiro<br />
Bruno Barreto, ao contrário <strong>da</strong>quilo que o filme insinua,<br />
não pretendo fuzilá-lo. Defendo o seu direito de<br />
fazer o filme que quiser, o seu direito de expressar e<br />
trabalhar com liber<strong>da</strong>de. Apenas, não se deixe também<br />
enganar pelos mais velhos, não se deixe manipular por<br />
pontos de vista que não correspondem à reali<strong>da</strong>de<br />
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